Seguidores

terça-feira, 27 de julho de 2010

Pobreza e Dignidade

A paisagem urbana me fascina. Ela realmente me fascina. E me vicia. Por conta disso, adotei o costume de andar a pé, às vezes, longas distâncias. Só para olhar, para admirar a beleza que a velocidade nos rouba. Longas caminhas que às vezes são acompanhadas por belas reflexões. Uma irônica excentricidade: um anarquista que ama a cidade?

Quanta incoerência!

Será?

Sou uma bomba lançada contra o seu alvo. No momento certo, essa bomba explodirá.

Nos morros e nos becos pobres, nas ruas da periferia, o som ensurdecedor das massas. Curioso como a pobreza diminui a privacidade. É melhor então não tê-la, e não se envergonhar com a nudez, com a ausência de água tratada e sistema de esgoto. Andando pelos bairros nobres da zona sul a situação é bem diferente: a riqueza cria a privacidade, é o seu maior luxo. Com suas riquezas, criam imensas fortalezas silenciosas. Uma forma de se esconder vicissitudes, obscenidades, depravações e prazeres inconfessáveis. Não há diferença moral entre o rico e o pobre, a grande diferença consiste na oportunidade em que o rico possui de esconder o seu lado grotesco e expor o seu lado sublime, diferente do pobre, cujo lado sublime é ofuscado pelas condições grotescas que lhe são impostas em sua existência – pelos mais ricos.

A subjetividade é a única alternativa para quem perdeu toda a privacidade de seu exterior. Que se tornou nu diante da multidão e se sentiu humilhado e envergonhado por isso (pois existem aqueles que se acostumam com a nudez e fazem dela um instrumento para ganharem a vida, como aqueles que se prostituem ou pedem esmolas nos sinais). A subjetividade é o grande tesouro do pobre, é nela que investe sua religiosidade, particularmente na oração, e na petição do que aos seus olhos é o impossível. Jesus promete a vida eterna. Para o pobre isto significa conservar eternamente nele o que é digno. É tornar eterna a sua dignidade, porém, a dignidade do rico acaba com a sua vida e suas riquezas.

E eu continuo a andar a pé...

Nenhum comentário: