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segunda-feira, 14 de março de 2011

Majestade



Não sou músico ou crítico especializado na área. Todavia, uma razoável cultura musical, sensibilidade poética e devoção à fé cristã, me permitem, mesmo que limitadamente, a expressar alguns julgamentos a respeito do que ouço. Esse é o caso de Jill Viegas, que acaba de lançar o seu cd “Majestade” pela MK Music. As canções são marcadas por uma nítida sobriedade melódica, deixando a oportunidade para que o ouvinte não apenas se deixe levar pela sonoridade, todavia, que ele se concentre nas letras. Sendo assim, se torna evidente uma proposta de mensagem, o que torna o seu trabalho singular diante de outros gêneros musicais evangélicos que se preocupam mais com a quantidade de arranjos e solos excêntricos das guitarras, quando conceitualmente expressam um mensagem pobre e irrelevante. 


Como o próprio título do cd indica, sua proposta é evidenciar a pequenez do homem diante da grandeza de Deus. Dessa maneira, a condição humana em relação a ele sempre será de absoluta dependência. Curioso observar que esse é um conceito muito comum nos salmos davídicos: um Deus que pode tudo e um homem que não pode absolutamente nada, e que por isso é dependente dele. Destaques para as músicas: “Maravilhoso”, “Oxigênio”, “Há Vida em Ti” e “No Altar”.

Vale a pena conferir!

quinta-feira, 10 de março de 2011

Deus é Espírito


Deus é Espírito.

O Espírito é como o vento. Ninguém vê o vento. Mas todo mundo sabe o que o vento faz. O que ninguém sabe é pra onde o vento vai. 

E o vento vai ao mundo.

Anônimo na história, participa da vida dos homens  sem dizer seu nome, sem glória. Pelo contrário, o criador do universo se esconde no mundo, como o filho de uma virgem e de um pobre carpinteiro. Ele escolhe ser pobre entre os pobres, pequeno e humilde. Pregando errante pela terra árida da palestina a chagada do Reino de Deus. Ele é esse reino! De justiça e misericórdia. De fartura ao faminto e alegria ao triste. De liberdade. 

Deus é Espírito.

O Espírito é como o vento. Ninguém vê o vento. Mas todo mundo sabe o que o vento faz. O que ninguém sabe é pra onde o vento vai. 

E o vento vai à cruz. 

Que sistema econômico, fundado na desigualdade, sobreviveria com a assistência ao pobre, de maneira a conferir-lhe dignidade e igualdade social?

Que sistema jurídico e religioso, fundado em punição e recompensa, sobreviveria com o perdão?

A pregação de Jesus não parecia ser tão boa assim. Pelo menos para políticos, ricos e religiosos. A pregação de Jesus não é tão boa para os donos do mundo, pois significava justamente que o mundo não pertence mais a eles, isto é, cada homem e mulher, cada criança e animal, cada lírio do campo e ave do céu.  

Deus é Espírito.

O Espírito é como o vento. Ninguém vê o vento. Mas todo mundo sabe o que o vento faz. O que ninguém sabe é pra onde o vento vai. 

E o vento ressuscita da cruz.
O reino de Deus não pode ser vencido. Sua presença é definitiva entre nós.
Ressurreição. A marca de liberdade de Deus. E da nossa também.

terça-feira, 8 de março de 2011

Filosofia Midiática


É ingenuidade acreditar que por um ato de benevolência alguns canais de televisão desejam estimular o senso crítico de seus expectadores. Inevitavelmente isso levaria a sua própria falência. Por conta do patrocínio de grandes empresas, muitas delas, indústrias e bancos, a programação televisiva se limita a ser um instrumento de puro divertimento, de estímulo ao consumo. Entorpecimento mental destinado ao trabalhador comum e a dona de casa, para que esqueçam, mesmo por um momento, toda a rotina semanal que os obriga a lutar pela subsistência da própria vida. 

Infelizmente, a televisão substituiu hoje, o prazer de se ler um bom livro, e com ele, matou no homem contemporâneo seu senso imaginativo, idealista, poético, heróico contra as estruturas que o definem apenas como simples força de produção e meio de consumo. É natural que homens assim percam toda a esperança e se entreguem completamente as forças midiáticas que o manipulam, tal como alcoólicos crônicos que fazem da bebida sua sentença de morte. Ele procura um sentido para a vida. Inevitavelmente, essa expressão de apatia do trabalhador comum exige da mídia que se justifique de uma maneira bem mais elaborada e clara, pois isso se reflete na queda do consumo e inevitavelmente na perda de patrocinadores. 

Se por um lado isso aumenta o número de programas religiosos, tipicamente proselitistas e comerciais, destinado ao trabalhador médio, por outro, também estimula o surgimento de inúmeros programas de divulgação filosófica, a fim de atingir também uma classe de trabalhadores emergentes, leitores e formadores de opinião. 

Tanto a religião quanto a filosofia tratam, cada uma a seu modo, das inquietações comuns a todos os seres humanos. Essas inquietações ao mesmo tempo em que estão vinculadas a conceitos que os homens considerariam fundamentais como bondade, liberdade e verdade (de sentido do mundo, do outro e de si mesmo), estão vinculadas a sua vida concreta, que hoje, é profundamente influenciada pelos meios de comunicação. A mídia compra a academia. Filósofos acadêmicos se tornam filósofos midiáticos. O que se está em jogo para eles é um tipo de reconhecimento que jamais alcançariam unicamente com a academia, e com isso, venda de mais livros e palestras. 

Filósofos midiáticos falam de maneira midiática. Assumem desse modo o discurso da mídia. Curioso como muitos deles são declaradamente simpatizantes de Nietzsche. Exploram assim, sua filosofia do corpo e vontade de potência, num discurso perfeitamente adequado ao espírito midiático do nosso tempo. Não nos deixemos enganar: diferente dos seus escritos, Nietzsche não seria tão popular quanto seria um Sócrates. Existe desse modo uma deturpação de sua imagem, sua culturalização, o que acredito, ele odiaria. 

Curioso também como alguns desses filósofos são mulheres. Mulheres inteligentes. Hoje em dia Nietzsche lido por uma mulher é o mesmo que atear fogo em gasolina. Com a televisão por exemplo, essa proporção se expande em milhões delas. As conseqüências porém, são diversas, desse modo, não acredito se tratar de algo inteiramente danoso. Enquanto algumas delas serão inspiradas a viverem a própria liberdade, outras no entanto, evocando de seu interior certo espírito de vingança, buscarão, elas mesmas, tornarem-se escravizadoras. 

 Não se trata de estar na mídia. Não se trata de vender livros e palestras, o que é natural a qualquer um que decida sobreviver de seu trabalho intelectual. Se trata de assumir o mesmo discurso que a mídia, de uma forma bem mais refinada e eloqüente, e por isso mesmo, enganadora.

sábado, 5 de março de 2011

Bons Pregadores


É comum que grandes eruditos de púlpito, sejam reconhecidos quando testados, apenas como experientes retóricos. Essa é a situação de muitos bons pregadores no esforço em conquistar o seu pão cotidiano. Bons pregadores são, no fundo, apenas homens que sabem convencer bem, e para se fazer isso, é bem verdade, que não se necessita do Espírito Santo, mas apenas de um espelho e horas de treino. 

Enquanto retóricos bons pregadores se assemelham a bons poetas. Mas afinal, para que serve a boa poesia? Alimenta a nossa esperança por nos oferecer a oportunidade de reconhecer que ainda há alguma beleza no mundo. Para nada mais presta a boa poesia, de igual modo, um bom sermão hoje em dia. Estamos convencidos de que existe um Deus que nos ama a tal ponto de desesperadamente mergulhar em sua criação, comprometendo-se com ela até à morte, se esvaindo em sangue numa cruz. Mas quem se importa com isso hoje em dia? A seriedade e a reverência pelo qual muitos cristãos exigem ao tema expressa apena indiferença a ele. E enquanto indiferença muda, não deixa de expressar cinismo e deboche. 

Bons pregadores fazem do cristianismo uma pintura romântica capaz de emocionar as almas mais duras. Contudo, o que esses mesmos bons pregadores querem evitar, o que lhes tira toda a paciência e sono durante a noite, é que justamente esse cristianismo que pregam se torne realidade. 

Pregam o amor ao próximo quando são incapazes de exercê-lo. “Ame o próximo. O mesmo que está caído no chão”. Mas se esquecem que esse próximo, de tão próximo, costuma estar entre eles. É justamente tal proximidade entre o discurso e a necessidade de ação que se torna tão intolerável para esses bons pregadores viver o evangelho.   

Bíblia dos Hereges. Nº 01.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Citações - Slavoj Zizek



Quando as pessoas imaginam toda a espécie de sentidos profundos porque as “assustam palavras que dizem: ele se fez homem”; aquilo que na realidade receiam é perderem o Deus transcendente que garante o sentido do universo, Deus como o senhor oculto que move os cordelinhos – em seu lugar encontramos um deus que abandona a sua posição transcendente e se precipita na sua própria criação comprometendo-se com ela até a morte, o que faz com que nós, seres humanos, fiquemos sem qualquer poder superior que olhe por nós, sem outra coisa que não seja o terrível fardo da liberdade e da responsabilidade pelo destino da criação divina e, portanto, do próprio Deus. Não continuaremos a recear demasiado assumir todas as conseqüências dessas palavras? Não preferirão aqueles que se dizem “cristãos” guardar a imagem confortável de um Deus sentado lá em cima, que observa benevolenemente as nossas vidas, nos envia seu filho como símbolo do seu amor, ou ainda, mais confortavelmente, com a simples imagem de uma força superior impessoal? 

“A Monstruosidade de Cristo"  ZIZEK. Slavoj.

terça-feira, 1 de março de 2011