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domingo, 31 de outubro de 2010

O Novo Hábito dos Escritores

Passou o tempo em que ser escritor era motivo de prestígio e que por essa razão se podia ostentar alguma coisa. Passou o tempo em que era possível agradar a família e os amigos, e até conseguir alguns suspiros de mulheres que se apaixonavam pelo autor de seus livros favoritos. Pois é, esse tempo passou. Hoje, os que se dedicam a escrever, apenas o fazem por muita insistência e caduquice. Apenas por vocação. O escritor de ontem não é o mesmo que escreve hoje. Mais do que paixão, havia idealismo. Hoje porém é possível escrever sem causa alguma, apenas por diversão. Infelizmente são esses os raros autores que vendem. Atualmente a lógica que rege a literatura é a mesma das cifras monetárias, afinal, alguém precisa comer, e nesse caso, não estou me referindo aos literatos.

O ócio do artista hoje constitui mais um produto da dificuldade em se vender bons originais às editoras, do que propriamente uma possibilidade para que ele tenha boas idéias para seus livros. O estereotipo eremita que norteia o ofício literário, hoje nada mais significa do que uma forma de redução de custos diante dificuldade em sustentar esposa e filhos só com literatura. É mais cômodo e barato ao artista não ter amor algum. Alguns se tornam reclusos e amargos, substituem o amor pela crítica e pela própria arte. Outros, boêmios, acham mais conveniente, eventualmente pagar uma garota de programa e se afogar no álcool.

Não sou desse tipo. Ainda conservo o idealismo romântico de querer um dia fazer história com literatura, o que hoje em dia pode ser considerado algo cômico. Entretanto, alguém seria capaz de rir de autores como Sartre, Camus e Heidegger? Eles não eram deuses, mas homens. Qualquer diferença entre eles e eu apenas pode ser medida por esforço.  

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Um Casal Estranho

Um casal estranho. Muito estranho.
Alguns vizinhos diziam que ele batia na mulher. Outros porém, afirmavam que era a mulher que batia nele. Particularmente, prefiro acreditar que ambos gostassem de se torturar juntos. Ela tinha um temperamento muito doce, típico das donzelas dos contos de fadas. Ele, de igual modo, era um cavalheiro. Seria incapaz de tratar alguém com rispidez. Sabia ser educado até mesmo quando se irritava.
É, realmente era um casal estranho. Muito estranho.
Inesperadamente resolvem se divorciar. Natural, se ambos não fossem membros de uma igreja que pregava a indissolução do casamento. Inevitavelmente o caso se tornou polêmico:

- A bíblia proíbe o divórcio. Contestou o pastor.
- Não, não proíbe. O torna impossível. Retrucou o esposo.
- Não compreendo então a sua atitude.
- É muito simples: “O que Deus uniu não separe o homem” é a máxima de Jesus. O que Deus uniu é impossível de ser separado pelo homem. Explica o esposo.
- Concordo plenamente. Afirmou o pastor.
- Mas o que Deus não uniu? É no mínimo sensato afirmar que nem todas as uniões foram feitas por Deus. Sendo assim, é possível que uniões realizadas pela ansiedade do coração dos homens sejam inevitavelmente solúveis.
- Como é o seu caso. Desafiou o pastor.
- Claro! Erros precisam ser corrigidos.
- Mas a bíblia só permite o divórcio em caso de adultério.
- O simples fato de se desejar secretamente uma mulher que não seja a esposa, já constitui um ato de adultério segundo o próprio Jesus. E mesmo assim, quantos casamentos persistem apesar disso?
- Pois então, você não pode fazer o mesmo? Não pode viver em perdão?
- Infelizmente não.
- Mas porque?
- Por que ela é homem.
Pela perplexidade encerrou-se o assunto.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Vigília da Noite (Primeiro Texto)

“Para todo aquele que dorme, imerso em toda a profundidade de seus sonhos, e até mesmo de seus pesadelos, nós não existimos, e quando muito, somos para eles como um sonho também. Eles dormem e nós, mesmo com toda a nossa luta contra o sono, estamos ainda muito longe de dormir, tudo o que somos para eles, nada mais é o que não somos e tudo o que eles são, nós estamos acordados e eles não, diferença que permanece e que nos distancia de um conceito, de uma idéia, de um “achar”, e que por isso nos aproxima da certeza. Nós temos uma certeza, eles não possuem certeza alguma, nem mesmo sobre quem eles são. O sono não dá identidade, mas uma fantasia com um nome, gostos e humor, o sono não dá personalidade, apenas um rótulo que é constantemente substituído. Libertemos os homens dos rótulos pela fé que há em nós! Despertemos os homens de seus sonhos fazendo-nos existir para eles, e existir não como sonho, mas como realidade, e isso requer acorda-los de todo o estado vegetativo que se encontram.”
“E, indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus” (Cf. Mt. 10.7)

Consciente de sua individualidade diante dos apelos da multidão pedinte e anônima, o homem, cujo relacionamento com Deus se fundamenta na própria individualidade, adquire uma identidade que lhe requer total responsabilidade diante da multidão. O apóstolo é aquele cujo relacionamento estritamente pessoal e intransferível com Deus, lhe destaca dos interesses da multidão, concedendo-lhe identidade que o personifica e o destaca, não como algo elevado, mas profundamente baixo. O apóstolo se identifica pela fé com a exclusão e nela ele socialmente se personifica, isso porque não é qualquer tipo de exclusão que fundamenta a intensidade de seus atos e esforços, tal como a pobreza é o fundamento da exclusão do homem na sociedade, a fé é o nosso fundamento, motivo capital de nossa ação e exclusão.

A fé enquanto fundamento da exclusão de todo aquele que crê, em sociedade, é o motivo de uma pobreza social, não uma pobreza caracterizada pela impossibilidade de aquisição de bens, fruto permanente da desigualdade social, mas sim, pela possibilidade de doação que supera as classes. A “pobreza evangélica” é produto da intensa luta do cristão na extinção das desigualdades sociais em direção à afirmação da individualidade humana, através da doação de si mesmo pela totalidade de suas possibilidades físicas, econômicas, emocionais e intelectuais. A fé doa o homem à massa, todavia, sempre se distingue dela, isso porque a fé jamais se alia à massa, à generalidade, mas apenas ao indivíduo, pois é somente na individualidade que o homem escapa a toda coisificação promovida pela imersão da identidade humana nas sociedades que divinizam o capital, reduzindo o homem à pura funcionalidade maquinal, o que o destitui dessa identidade, conduzindo-o ao anonimato social e espiritual. A fé promove uma identidade para o homem que enquanto possibilidade de doação é ruptura com toda massificação do indivíduo reduzido a funcionalidade de suas ações e a afirmação do indivíduo em sua sociedade, porém,  tal afirmação não deve ser concebida como a alienação do indivíduo em sua liberdade, como impulso aleatório para se determinar uma conduta, a fé é sempre é uma fé para com Deus: a responsabilidade entra como condutor da liberdade social do indivíduo através da consciência que o mesmo tem de sua fé, da intensidade de sua relação com Deus.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Jesus Acalma a Tempestade

“- Passemos para a outra margem”. É a ordem de Jesus.
Obedientes, os discípulos não questionam. 
Mal sabiam eles que era para a tempestade que Cristo os levava. Sim, para a tempestade!
Jesus dorme durante o trajeto, a fúria do vento e das ondas desafiam a fragilidade do pequeno barco. Jesus dorme e o caos se manifesta. Não há como ser indiferente ao caos. O sentimento de terror e abandono é inevitável: “- Mestre, não importa que pereçamos?”. Jesus parece não se importar. Um grito de socorro o desperta. Imediatamente se levanta e com a sua palavra repreende o caos. Sua palavra traz ordem ao caos. A beleza desse texto consiste na proposta de Jesus em motivar um ensinamento: de que Deus controla todas as coisas, e que se não houvesse nada sob o domínio de suas mãos, o caos dominaria o mundo. Deus não desamparou sua criação, e isso é prova do seu amor. Sua ausência do mundo provocaria um colapso. Sua presença e palavra trazem a ordem, e por isso, beleza. Onde não há essa presença e essa palavra existe apenas tempestade. Deus não abandonou a sua criação e isso é fonte de esperança ao ser humano, pois pode transformar o nosso caos em ordem à medida em que confiamos nele. Em que gritamos!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Gênesis

Apresentação de um novo livro de ficção que estou escrevendo. Espero que gostem.



Porque o Reino de Deus se manifesta justamente com a chegada da vida eterna? Justamente porque o reino dos homens somente pode subsistir com a permanência da morte, da violência e da injustiça. O eterno e o temporal são elementos característicos que distinguem e identificam o humano e o divino, e enquanto essa heterogeneidade, essa distância persistir, o divino sempre será objeto de veneração e almejo do homem (seja do ponto de vista ontológico, psicológico, social, político e etc.). Constituirá portanto, parte de sua história. Construirá a sua história. Um Deus eterno sempre fará parte da história de um homem limitado pelo tempo. Constitui-se portanto, de uma mútua carência: o homem procura Deus através de seu anseio pela eternidade e Deus procura o homem através de seu anseio pelo tempo, que para o homem é concreto (regulador da vida e da morte, no desenvolvimento e decadência das sociedades e etc.). Esse é um dos sentidos fundamentais da encarnação: Deus se torna homem, mergulha no tempo, afim de que todo homem tenha a oportunidade de mergulhar na eternidade. Esse é o sinal de inauguração do Reino de Deus em Cristo Jesus. Todavia, esse é uma ato realizado pelo próprio Deus, solapando assim todo projeto humano de autonomia. Deus se impõe ao homem, mesmo em amor.

O que significaria vida eterna? O cristianismo se destaca de todas as religiões justamente porque confere à eternidade presente do homem (alcançada mediante a fé) a consciência de que isto significa uma mudança radical de valores. Em outra palavras, ensina que a conduta do homem é naturalmente tendenciosa ao horizonte da finitude. O destino da morte (como aniquilamento total da existência ou incerteza quanto ao futuro pós-morte) constitui a conduta de homens irresponsáveis e omissos aos problemas do mundo e de suas comunidades e mais interessados em sua satisfação pessoal. Conduta típica da maioria. Por outro lado, o cristianismo oferece a vida eterna e insiste entre seus adeptos a pensarem como se vivessem eternamente, mesmo tendo em vista a realidade passageira da morte de sua limitação ao corpo.     

Gênesis, embora uma ficção, procura realizar uma reflexão sobre o trajeto de retorno nesse processo, o passo inverso. Procura entender o secularismo, cujo projeto de autonomia, se realizaria de maneira plena a partir da conquista humana da imortalidade. Em sua radicalidade, a “morte de Deus” nietzscheniana é um projeto provisoriamente fracassado. Uma sociedade onde Deus esteja realmente “morto”, onde os homens estejam alheios a qualquer espécie de esperança metafísica, somente ganha sentido com a imortalidade do homem. Dessa maneira, nossa maneira de compreender a civilização mudaria drasticamente.

Sem a morte a violência se tornaria uma forma de diversão. Algo não muito diferente dos nossos dias, mas concerteza, algo bem mais intenso. Declaradamente sarcástico e masoquista. Sem a morte o sexo de igual modo se destinaria apenas para diversão, entretanto, não como uma norma cultural, mas jurídica. O crescente aumento da natalidade extinguiria rapidamente os recursos naturais da terra. Rendendo-se ao divertimento, nossos hábitos sexuais também seriam profundamente alterados, o corpo ganharia uma acentuada valorização, e a busca desenfreada pela satisfação dos sentidos um motivo para guerras. Nasce a partir daí, um novo homem, e por isso, uma nova forma de sociedade e civilização.

Entretanto, o super-homem nietzscheniano não surge apenas da vitória do humano sobre o divino através do roubo de fogo dos deuses, a imortalidade. Não se trata apenas de vencer o divino e a morte, mas também de esquece-lo. Se nossa civilização fora construída a partir da encarnação de Deus na história ocidental, isso produz uma lembrança histórica que torna o divino uma realidade impossível de ser aniquilada. Deus não estaria morto, mas seria transformado, ressuscitado, adaptado às novas circunstâncias. A morte nietzscheniana de Deus se estabeleceria num segundo momento com a aniquilação da memória metafísica. Um procedimento complexo, pois nos referimos ao divino como um conceito enraizado na memória social das civilizações. O grande mentor dessa memória consiste no nosso conceito linear de tempo. Esse mesmo conceito determina nossa forma de produzir, de pensar, de viver e de morrer na cultura ocidental. A morte nietzscheniana de Deus se processaria dessa maneira como um rompimento doloroso de uma civilização com todo o seu passado. Sem memória, tudo deveria ser incessantemente re-criado a cada dia, inclusive a consciência dos homens.

Planeta dos Macacos resgata a idéia de se estar num mundo completamente rompido com o seu passado. Os macacos na realidade são outra espécie de homens oriundas desse rompimento, dessa distância. Criando uma nova civilização, eles criaram um novo começo para o homem, uma nova memória, uma nova história, uma nova forma de contar o tempo. Cidade das Sombras, à sua maneira, também tenta explorar esse conceito. Apoiará toda a sua narrativa na proposta de que a memória é uma constante entre causas e efeitos, lineares ou circulares, determinando assim um conceito específico de temporalidade, logo, de história. Não há passado sem memória, e isso somente pode ser interrompido se o tempo (linear ou circular) deixar de ser uma constante – o que é naturalmente impensável se não alterarmos as leis da lógica e do bom senso. Dessa maneira, o filme irá reduzir a constante temporal o máximo possível (a fim de resguardar ao filme certa coerência lógica). Isso é bem expresso no filme quando os alienígenas apagam a memória dos moradores da cidade a cada noite e a re-programam para o dia seguinte, ou seja, a memória social (logo, a história) é mantida durante apenas todo o decurso do dia, sendo quebrada (perdendo assim sua seqüência lógica) entre um dia e outro. A cada dia uma nova história é contada, uma nova ordem lógica, uma nova memória.

O onírico representa bem essa nova maneira de compreender o tempo, sem ordem lógica e não histórica. O onírico é por si mesmo um mundo sem história, sem passado e sem futuro, sem memória. O filme Um Cão Andaluz de Luiz Bruñel e Salvador Dali, expressa bem esse tipo de universo. Fazendo uma ponte entre Nietzsche e Freud, fica fácil entender que o super-homem nietzscheniano é o próprio Dionísio, um homem ausente de repressões, senhor de sua vontade. Isso somente seria possível de maneira plena com a posse da eternidade. Um homem ausente de repressões é um homem ausente de culpa, logo, de memória também.  

O que seria entretanto, uma civilização dionisíaca, se levarmos em consideração, diferente dos gregos, nossa intensa produção tecnológica? Não existem respostas convincentes para uma questão como essa, entretanto, é possível arriscar. Arriscar fazendo ficção. É essa a proposta desse livro.

João, um velho teólogo, que por conta do alcoolismo se tornou morador em São Paulo, ressuscita, justamente num mundo onde ninguém mais morre. Ninguém sabe como isso aconteceu, nem mesmo João. Por conta disso, ele não tem identidade ou qualquer documento, apenas a sua memória. Ele simplesmente aparece. Poderia ser interpretado como louco, mas nessa época ninguém mais sabe o que é isso.

No futuro, os homens vivos poderão viver para sempre ou planejar quando deseja morrer. A descoberta da imortalidade alterou nossa maneira de enxergarmos toda a civilização (o sexo como procriação se tornou um crime, a fim de se evitar a superpovoamento do planeta, todavia, é aceito como pura diversão, gerando as maiores bizarrices; sem a morte o homem não tem medo, não possui dilemas existenciais, todavia, extremamente violento, reinventado o conceito de violência, o aumento da violência gratuita acaba com a amizade e o amor; não há mais morte, contudo há dor, muita dor; sem a morte acreditar em Deus se torna desnecessário). O caso de João é excepcional, pois não se tem notícia, ou tecnologia para se fazer alguém morto a tanto tempo retornar à vida, a não ser através de clonagem. Contudo, clones não possuem a mesma memória da matriz.

O grande enigma de João consiste no fato de que, com o controle de natalidade estagnado, todos os indivíduos são conhecidos por um sistema global. João aparece do nada. Acorda e anda errante num mundo totalmente estranho ao mundo que conhecia no passado. João é reconhecido como um corpo estranho pelo sistema, pois não tem uma origem, e dessa maneira não se sabe o seu fim. Não tem passado. Seu único vínculo com o passado é a sua memória. 

João então passa a ser ouvido. Sua memória não apenas expressa doces lembranças pessoais, mas o único registro de uma civilização que fora apagada da história. Interpretar o caso de João como um milagre é constrangedor para o futuro. Nessa nova civilização, não há fé ou qualquer registro história das religiões e de Deus. Um mundo onde Deus não existe e por isso mesmo não possui história. O futuro é um mundo sem Deus, sem morte e sem classes (os políticos pensaram: se o poder da imortalidade pertencer apenas aos mais ricos, enquanto houver morte haverá fé em Deus. Alem, disso haverá por parte de uma classe ou outra a justificativa para se pregar eugenia). A partir daí ele conta a história de Deus. João se torna um profeta, e por isso mesmo, marginal. E como todo profeta, estabelecerá uma crise no futuro: a morte e ao colapso social.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O Valor do Celibato

Todo casamento estabelece um compromisso de dedicação, exigindo de nós um temperamento de tolerância e menos exigente quanto a conduta do conjugue: caso contrário não haveriam exemplos de casais unidos por muito tempo, visando sempre a preservação da estrutura familiar. Atos considerados banais como lavar a roupa, preparar o almoço, cuidar da organização da casa e pagar as contas são em sua essência medidas internas de coesão familiar. Contudo, não são apenas os perigos internos (característico na ausência de responsabilidades no núcleo familiar) que desestabilizam a unidade numa família, há também problemas de ordem externa, que minam a estrutura familiar a partir de fora: assaltos, seqüestros, agressões verbais e físicas a algum membro da família. Talvez o grande ensinamento do casamento consiste em aprender a não pensar apenas em si mesmo, a se preocupar com o outro.  

Decidir-se por se tornar um pai de família e um marido exemplar diante de uma sociedade indiferente a tais valores é uma atitude louvável. Contudo, homens dessa espécie jamais poderão compreender a mensagem cristã em sua radicalidade. Se por um lado o casamento nos ensinar o valor da abnegação, por outro, seu defeito consiste exatamente em ser um ótimo exercício para se diminuir ou até perder o senso crítico. Um homem casado, por amor a sua esposa e filhos sempre será obrigado a medir o peso de suas palavras antes de pronunciá-las, dessa maneira, o impedindo de uma autêntica relação com a verdade. Um homem solteiro de comportamento semelhante (moderado no agir e no falar), por outro lado, apenas demonstra um interessa radical em preservar por mais tempo a sua própria vida: puro egoísmo. O honroso pai de família se aproxima do homem solteiro de hábitos moderados (talvez até mesmo um cristão exemplar) pelo desejo de proteção a si mesmo ou a sua família.
 Inevitavelmente o casamento obscurece o caminho concreto para a verdade, é exatamente por esse motivo que muitos filósofos e místicos se decidiram pela solidão. Um caminho difícil e doloroso, pois todos nós somos seres necessitados de afeição. É compreensível portanto, que muitos autênticos celibatários, por se tornarem demasiadamente críticos, se tornem também amargos, melancólicos, pessimistas quanto ao futuro.O filósofo alemão Arthur Shopenhauer, assim como alguns profetas bíblicos constituem exemplos dessa espécie de indivíduos. Esse é o real peso da solidão, e interiormente carrego também esse fardo. 

 Contudo, existe uma grande polêmica a respeito do celibato. Principalmente dentro das igrejas evangélicas. A reforma protestante outorgou ao ministro o direito de casar-se, contrariando a exigêao ministro o direito de casar-se, contrariando a exigo para a verdade, ta: assaltos, sequestros,ncia religiosa católica da castidade permanente. Por esse motivo, o celibato se tornou marginal no cristianismo reformado e evangelical, partindo da premissa de ser apenas um instrumento de defesa da instituição e sua perpetuidade ao longo dos séculos. Convenhamos, há o bom celibato e o mau celibato: o bom celibato nasce da tradição profética num chamado radical à exigência por justiça diante da opressão, independente das conseqüências geradas por tal apelo. É se oferecer em sacrifício à causa da verdade. É inevitável que profetas sejam mártires, e portanto, não poderiam ter filhos e uma esposa, caso contrário deixariam à mingua uma viúva e filhos órfãos. Profetas estão destinados ao martírio e dessa maneira são condenados a solidão. O bom celibatário é aquele que oferece a vida pela sua fé, sendo extremamente útil em lugares de extrema dificuldade de expansão da fé cristã, como é o caso da China, da Coréia da Norte e do Vietnã.
O mau celibato nasce justamente da má compreensão desse chamado: da sua institucionalização. A proposta de paz por meio da institucionalização de uma religião antes perseguida é tentadora. Quando isso acontece, martírios são desnecessários, a morte é desnecessária, a solidão também. Seria natural que o casamento fosse estimulado e concedido aos clérigos. Contudo, com tal privação, através da institucionalização desse costume, apenas expressa o desejo de se defender os interesses financeiros de uma instituição, assim como um pai protege sua família: é ausente de qualquer senso crítico. 

Infelizmente essa é a parte fácil do celibato. A parte mais difícil consiste na disciplina do desejo. Enxergar o sexo oposto como uma divindade possui como benefício gerar em nós um compromisso com a pureza quando vinculados com a fé. Fruto de uma mentalidade inocente e ingênua. Quando perdemos esse sentimento (pois é natural que surjam decepções), retiramos o objeto do nosso amor do pedestal, e passamos a enxergá-lo como um simples ser humano: cheio de defeitos, vícios, qualidades e virtudes. O amor romântico cega, ou pelo menos turva os olhos. A tolerância que se faz a humanidade do outro, nesses casos, como oriunda de um rompimento de expectativas, apenas expressa o sintoma de desprezo e indiferença e não necessariamente de aceitação. Expressa apenas que o outro deixou de ser atrativo justamente por ser humano e não uma divindade. Não é perdão. Como resultado as relações com o sexo oposto passam a ser reguladas ou a partir de afinidades naturais, gerando amizades ou então por puro desejo carnal. Podemos escolher deixar de amar uma mulher (as alternativas que nos levam a essa escolha podem ser inúmeras), contudo, bem mais difícil consiste em não deixar de desejar-la. Esse é o problema.

Infelizmente vivendo, ainda estou ainda à procura de mais algumas respostas e esclarecimentos....

O Demônio do Profeta João

Lc.7.33-35.
Ora, é fundamental para um membro da cristandade que tenha um bom testemunho e uma moral exemplar. Jesus não tinha; frequentemente associado a marginais, quebrava o sábado e contestava a autoridade dos sacerdotes. E ainda justificava sua conduta como obediência a vontade de Deus. Infelizmente eu não tenho essa coragem, infelizmente não posso afirmar que sigo a Cristo, assim também, como não podem afirmar muitos outros membros da cristandade como eu. Prefiro o lugar comum de ser um bom cidadão e cristão, e quando por algum descuido, ser invadido pelo sentimento de culpa.

 Se Jesus novamente estivesse fisicamente entre nós, é certo que estaria onde sempre esteve: concerteza, comendo pão, bebendo vinho, ao lado de seus amigos publicanos e de toda a sorte de pecadores. E se por acaso ele fosse membro de uma igreja, sua conduta provocaria um escândalo tão grande, que alguns membros indiguinados da cristandade, o sufocariam de questionamentos, pelo bem da doutrina e dos bons costumes, acharia melhor exigir-lhe uma retratação, e caso este se negasse, uma punição exemplar, e até mesmo a exclusão. Infelizmente, fazemos da doutrina denominacional e do que afirma o pastor, algo melhor do que Cristo.

Contudo, Jesus não é um membro da cristandade. Ele é o seu objeto de veneração. Existe nesse aspecto, uma perversão tão grande dentro da instituição cristã, onde Jesus, o objeto de veneração, está separado dos seus adoradores, justamente dentro do templo e por causa dele. O Jesus que cultuamos não é o mesmo do novo testamento, justamente porque o Jesus do novo testamento come pão, bebe vinho e é amigo de toda sorte de pecadores. Nós ao contrário, com exceção do momento litúrgico (e porque não dizer teatral) da ceia, preferimos nos abster deles. Mais do que isso, os evitamos e por conta disso, temos uma consciência tranqüila. Julgamos-nos santos justamente por não nos envolvermos, tal como o sacerdote da parábola que passa de largo pelo caminho onde se encontra estirado no chão o viajante.

Queremos ser iguais a Jesus Cristo, contudo, nos parecemos mais com o asceta João Batista e o seu demônio. Que condena o pão e o substitui por gafanhotos, o vinho por mel e os pecadores pela vida eremita nos desertos.

sábado, 2 de outubro de 2010

Eu, Uma Enciclopédia?

Interpretam-me como um conjunto bem ordenado, contudo, pouco sistemático, de teorias e autores. Em suma, interpretam-me como uma grande enciclopédia. Contudo, o que há de espiritual nas enciclopédias? Absolutamente nada. Ninguém lê uma enciclopédia como lê a bíblia. Estou fadado ao descrédito como aspirante a reverendo. Interpretam-me como um teórico cristão e que por isso mesmo, como alguém que não alcançou a condição fundamental de todo crente de abrir-se à eternidade. Ora, um teórico do cristianismo não necessita ser propriamente um cristão. Ser bom observador e crítico já lhe é suficiente. Tal ausência de estímulo promovem em meu interior um profundo desinteresse. Às vezes penso em abandonar tudo e tornar-me um xamã, de curar alejados e cegos ao custo de algumas moedas. Faria mais sucesso. Contudo, pernas de carne e ossos podem levar os homens até onde suas forças lhe permitirem ir, e olhos novos, com o tempo, voltam a enfraquecer. O que então vale mais? Acho que prefiro então continuar sendo uma simples enciclopédia...

Os Discípulos Dormem

Lc. 22.39-46

Os discípulos dormem. Justamente quando chega o momento em que o Senhor, em agonia, mais precisa deles. Justamente quando Jesus está ameaçado a ser entregue, sob o risco de ser expulso do mundo pelos homens. Os discípulos continuam a dormir e leis injustas são criadas e homens perversos triunfam, e Jesus, ainda em agonia, corre o risco de novamente ir à cruz e lá morrer. Novamente querem expulsá-lo do mundo. Todavia, eu me pergunto: será esse o destino inevitável do cristianismo? De ter sempre um Cristo que angustiado chora pelo seu destino eminente, e de discípulos que dormem? Os discípulos dormem e por isso estão indiferentes, mesmo estando tristes. "Levantai-vos". É o clamor de Cristo aos seus discípulos. É o clamor de Cristo a nós. "Levantais-vos" é o convite de amor feito pelo Senhor diante da nossa indiferença ao seu próprio sofrimento.


O que queremos? Que Cristo retorne à cruz ou esteja para sempre no trono, onde reina soberano? Mais do que de Deus, a escolha é nossa.

Boas eleições e bom voto.