Seguidores

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Perdão, Ética e Economia

† LC 7.36-50

Curioso como a economia tem definido a ética das pessoas. Nossa maneira de se relacionar tem adquirido os contornos de saldos bancários. Tudo gira em torno da relação crédito-débito. A ofensa gratuita promove em nós o direito de ofender também. Compreendemos desse modo que existe um débito a ser pago pelo outro. Sempre com a mesma moeda. Se por outro lado recebemos por um ato desinteressado de benevolência, uma ajuda inesperada, sentimos que somos obrigados a ajudá-la também. Reconhecemos assim a existência de certo tipo de crédito.

Se na economia poder sempre significou crédito, na ética ele será definido como autoridade. O poder é autoridade, e sua ausência, como forma de débito, sempre será entendido como subordinação, obediência. Obediente ao credor é justamente aquele que deve. Curioso é reconhecer nessa ética as bases da formação das instituições, hierarquias e classes dentro do corpo social político. A classe inferior é obediente à classe superior por reconhecer nessa relação uma dívida que nunca é paga. O mesmo acontece com a noção de hierarquia. Obedientes à lei, reconhecemos em nossa relação com ela a existência de uma dívida a ser paga: o direito é o crédito da lei, o dever, o nosso débito com ela. O mesmo acontece em nossa relação com o Estado e a polícia.

Jesus perdoa o débito. Oferece-nos dessa maneira outra maneira de nos relacionarmos:

E respondendo, Jesus disse-lhe: Simão, uma coisa tenho a dizer-te. E ele disse: Dize-a, Mestre.Um certo credor tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos dinheiros, e outro cinqüenta.E, não tendo eles com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Dize, pois, qual deles o amará mais?E Simão, respondendo, disse: Tenho para mim que é aquele a quem mais perdoou. E ele lhe disse: Julgaste bem.E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês tu esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés; mas esta regou-me os pés com lágrimas, e mos enxugou com os seus cabelos.Não me deste ósculo, mas esta, desde que entrou, não tem cessado de me beijar os pés.Não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta ungiu-me os pés com ungüento.Por isso te digo que os seus muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco é perdoado pouco ama.E disse-lhe a ela: Os teus pecados te são perdoados.E os que estavam à mesa começaram a dizer entre si: Quem é este, que até perdoa pecados?E disse à mulher: A tua fé te salvou; vai-te em paz (Lc.7.40-49).

A referência da ética de Jesus está no amor.

O amor nasce num coração perdoado. E por isso esse coração se torna perdoador. Ele não cria débitos. Mas também não cria créditos, pois não espera receber nada em troca. Sua relação é bem outra. Não se trata apenas de ter amor. Se trata de ser perdoado para amar. E é isso que Jesus nos oferece: perdão. Livre da dívida por meio de Cristo nossa maneira de nos relacionarmos muda. Ganhamos liberdade. Não existe seres parcialmente livres. Desse modo, a liberdade em Cristo não pode atingir apenas uma dimensão da existência, mas toda ela.

Nenhum comentário: