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sexta-feira, 12 de abril de 2013

Dogmatismo Filosófico




1.      Considerando que todos os filósofos, sejam pequenos ou grandes, reconhecidos ou anônimos, eram seres humanos, e como todos os outros, limitados por sua finitude e ignorância (ninguém ainda conseguiu provar o contrário disso).

2.      Considerando que nenhum filósofo morreu deixando à posteridade um pensamento completo, hermeticamente fechado, que encerra em si todas as grandes e pequenas questões da filosofia.

3.      Considerando que Sócrates, o filósofo grego que explodiu as cabeças da Grécia, apenas o fez a partir da explosão da sua própria cabeça. Que as questões que levantou aos atenienses, levantou antes, para si mesmo. Questões, e não conceitos. Questões são universais, conceitos, particulares.

4.      É ridículo, portanto, a um filósofo, assumir a posição de dogmata, isto é, de adorador de sistemas de pensamento, de escolas, pois nesse caso, não se faz filosofia, mas religião. 

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Loucura e Liberdade




"Em tal mundo, submetido aos efeitos mais teatrais e obrigado a cada entardecer a representar um pôr do sol correto, as pessoas ao meu redor pareciam pobres criaturas dignas de pena pela seriedade com que continuamente se ocupavam, acreditando, ingênuas, naquilo que faziam e sentiam. Havia uma única criatura na cidade que compreendia essas coisas e pela qual eu nutria uma admiração plena de respeito: a louca da cidade. Só ela, em meio a pessoas rígidas e recheada até a ponta dos cabelos de preconceitos e convenções, só ela mantivera a liberdade de gritar e de dançar pela rua quando quisesse. Coberta de imundície, ela andava esfarrapada pelas ruas, desdentada, com o cabelo ruivo desgrenhado, segurando nos braços, com ternura materna, um cofrinho velho cheio de cascas de pão e diversos objetos retirados do lixo.

Exibia o sexo aos transeuntes com um gesto que, se fosse utilizado com outro objetivo, seria considerado “pleno de estilo e elegância”. Que esplêndido, que sublime é ser louco!, dizia para mim mesmo, constatando, com um inimaginável desgosto, quantos costumes familiares arraigados e estúpidos e que esmagadora educação racional me separava da liberdade extrema de uma vida de um louco.

Quem nunca foi tomado por esse sentimento está condenado a jamais sentir a verdadeira amplitude do mundo".

Max  Blecher em “ Acontecimentos na Irrealidade Imediata” (Ed. Cosacnaify/ 2013)

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Canibalismo Amoroso




Ele disse que a amava. 

Ela não acreditou. E exigiu, como todas as mulheres, uma prova de amor. 

Ele achou tratar-se de um carro novo, jóias, dinheiro ou viagens pelo mundo. 

Ela queria muito mais do que isso. 

Mais sexo talvez? 

Não. Sangue. O dele. 

- O que?! Enlouqueceu de vez. Não mesmo, sem chance...

Ele não a amava. Era a prova que ela tinha. E insistia nisso. 

Pressionado, ele consente. Faz um pequeno furo no dedo indicado para que ela experimente durante horas seu sangue. Tem gosto metálico e é quente. Com o tempo vicia. Com o tempo ela exige mais com a cara mais angelical do mundo. Inesperadamente lhe arranca um dedo com uma dentada. Ele também, com uma dentada lhe arranca uma parte da orelha esquerda. A noite acaba sendo uma festa, regada a muito sangue, pintando toda a sala de vermelho. Espalhando vísceras. Até que os dois tombam exaustos no chão. E mortos. Ele sem o cérebro, e ela sem o coração.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Destino de Um Escritor Apaixonado


Estava apaixonado.

Contudo, incompreendido, resolve resignar-se em meio a uma infinidade de livros.

Escreve durante horas, ininterruptamente. Pausas momentâneas para lágrimas e choro compulsivo.

Quer esquecer. Ele tenta esquecer. O amor é uma chaga que não sara. Incurável.

Ela resolve amar outro. Como sempre...

Já está acostumado a decepções desse tipo. O impacto não foi tão grande assim.

Mas seu desejo, seu maior desejo, é querer aprender a esquecer. A ignorar completamente o amor. Quer aprender a vencê-lo, a ridicularizá-lo, usando todas as suas forças.

Continua a escrever.

Dúzias de poemas tristes. Confissões de amor interrompidas por acessos de fúria.

Um tiro no coração.

Pronto. Está feito.

Não é amado por ninguém, e isso, agora, não lhe incomoda nem um pouco.