Sabemos
bem até onde pode ir a natureza humana: homens maus podem matar e para eles não
há a mínima diferença de quem seja a vítima, contanto que isso os agrade, os
permita algum prazer, mesmo que entre essas vítimas esteja o próprio filho.
Homens bons também podem matar, desses que não ousariam agredir um inseto ou
sequer alterar o tom de voz contra alguém. Basta-lhes um acesso descontrolado
de fúria e são capazes de sacudir o mundo. Contudo, quando a tempestade passa, a
ira cede lugar ao remorso e talvez não há mais nada a fazer. Não há o que
concertar. Atos assim podem envolver a morte de quem se ama. Embora o amasse,
ele levou seu filho à Moriah, e em silêncio
seguia o seu caminho. Mas como dizer ao seu único filho que Deus o exigia em
sacrifício? Como dizer ao filho, quem embora seria ele, seu pai, o seu
carrasco, o amava? Como obedecer a Deus e imolar o filho seria o mais correto a
se fazer do que preservá-lo com vida? Isso não coloca o patriarca na tão famosa
lista de homens virtuosos que merecem ser imitados. Isso não coloca o patriarca
entre os santos e piedosos, mas entre os loucos e delinqüentes. Enquanto
prossegue até Moriah nada pode
justificá-lo, pois até mesmo Deus está emudecido e não ousa falar até que ele,
com a faca em punho, a erga aos céus. Que espécie de homem é Abraão? Bom ou
mau? Impossível defini-lo até que tenha realizado seu ato. Mas ele não realiza!
No caminho até Moriah Abraão está
moralmente suspenso. E nesse caminho, todos nós estamos com ele. A vida
constitui o caminho até Moriah. E se
tudo afinal não passar de uma prova? E se no fim de tudo, um anjo nos impeça de
entregarmos a Deus o que mais amamos? Mas e se ele não impedir? Enquanto isso,
prosseguimos até Moriah.
Um comentário:
putz, profundas divagações.
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