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terça-feira, 8 de março de 2011

Filosofia Midiática


É ingenuidade acreditar que por um ato de benevolência alguns canais de televisão desejam estimular o senso crítico de seus expectadores. Inevitavelmente isso levaria a sua própria falência. Por conta do patrocínio de grandes empresas, muitas delas, indústrias e bancos, a programação televisiva se limita a ser um instrumento de puro divertimento, de estímulo ao consumo. Entorpecimento mental destinado ao trabalhador comum e a dona de casa, para que esqueçam, mesmo por um momento, toda a rotina semanal que os obriga a lutar pela subsistência da própria vida. 

Infelizmente, a televisão substituiu hoje, o prazer de se ler um bom livro, e com ele, matou no homem contemporâneo seu senso imaginativo, idealista, poético, heróico contra as estruturas que o definem apenas como simples força de produção e meio de consumo. É natural que homens assim percam toda a esperança e se entreguem completamente as forças midiáticas que o manipulam, tal como alcoólicos crônicos que fazem da bebida sua sentença de morte. Ele procura um sentido para a vida. Inevitavelmente, essa expressão de apatia do trabalhador comum exige da mídia que se justifique de uma maneira bem mais elaborada e clara, pois isso se reflete na queda do consumo e inevitavelmente na perda de patrocinadores. 

Se por um lado isso aumenta o número de programas religiosos, tipicamente proselitistas e comerciais, destinado ao trabalhador médio, por outro, também estimula o surgimento de inúmeros programas de divulgação filosófica, a fim de atingir também uma classe de trabalhadores emergentes, leitores e formadores de opinião. 

Tanto a religião quanto a filosofia tratam, cada uma a seu modo, das inquietações comuns a todos os seres humanos. Essas inquietações ao mesmo tempo em que estão vinculadas a conceitos que os homens considerariam fundamentais como bondade, liberdade e verdade (de sentido do mundo, do outro e de si mesmo), estão vinculadas a sua vida concreta, que hoje, é profundamente influenciada pelos meios de comunicação. A mídia compra a academia. Filósofos acadêmicos se tornam filósofos midiáticos. O que se está em jogo para eles é um tipo de reconhecimento que jamais alcançariam unicamente com a academia, e com isso, venda de mais livros e palestras. 

Filósofos midiáticos falam de maneira midiática. Assumem desse modo o discurso da mídia. Curioso como muitos deles são declaradamente simpatizantes de Nietzsche. Exploram assim, sua filosofia do corpo e vontade de potência, num discurso perfeitamente adequado ao espírito midiático do nosso tempo. Não nos deixemos enganar: diferente dos seus escritos, Nietzsche não seria tão popular quanto seria um Sócrates. Existe desse modo uma deturpação de sua imagem, sua culturalização, o que acredito, ele odiaria. 

Curioso também como alguns desses filósofos são mulheres. Mulheres inteligentes. Hoje em dia Nietzsche lido por uma mulher é o mesmo que atear fogo em gasolina. Com a televisão por exemplo, essa proporção se expande em milhões delas. As conseqüências porém, são diversas, desse modo, não acredito se tratar de algo inteiramente danoso. Enquanto algumas delas serão inspiradas a viverem a própria liberdade, outras no entanto, evocando de seu interior certo espírito de vingança, buscarão, elas mesmas, tornarem-se escravizadoras. 

 Não se trata de estar na mídia. Não se trata de vender livros e palestras, o que é natural a qualquer um que decida sobreviver de seu trabalho intelectual. Se trata de assumir o mesmo discurso que a mídia, de uma forma bem mais refinada e eloqüente, e por isso mesmo, enganadora.

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