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segunda-feira, 26 de março de 2012

Primeiro Capítulo de "Absinto"


Capítulo Um


  
Não há homem que consiga enganar a morte. Até mesmo os grandes. Ela não poupa nem mesmo aqueles a quem Deus escolhe para exercer o santo ofício de anunciar a vida eterna.Contudo, mais do que isso, alguns ministros costumam fazer promessas que não podem cumprir, e por isso, afirmam que é Deus quem promete. Diante da frustração, somente Deus ou o fiel são culpados: o ministro escapa ileso. Mas ele também será julgado, afinal, todos nós somos, mas dessa vez o juiz está agora entre nós e se parece conosco. 


No princípio.
É equivocado quando pretendemos dar um início às coisas. E um fim também.
Memória: o impulso em querer contar e registrar os acontecimentos no tempo, mediante a consciência da nossa própria finitude.

No princípio nenhum princípio havia. Não havia coisa alguma. Mas não queira entender, nem mesmo tente, pois nesse caso, não há coerência algumas nas respostas que virão. Novas perguntas. Não há lógica. Transgrida a lógica. Há outras partes de você que pensam. Não as deixe mortas, pois talvez, elas serão esquecidas para sempre.

Imagine um mundo onde seria impossível envelhecer e os olhos já não exigissem um belo par de óculos. Onde não houvesse mais qualquer tipo de doença e a morte definitivamente houvesse sido vencida. Um lugar onde contar o tempo se tornou uma brincadeira. Onde não se fazem mais aniversários. Da mesma maneira não se fazem mais filhos. Herdeiros seriam desnecessários. Reproduzir significaria o caos para a economia global. Sexo só por divertimento. Onde não existem mais casamentos. Onde não existe mais amor. Um mundo onde seria impossível morrer, a maior diversão seria a dor. Esse lugar existe e foi criado pelos homens, só que eles mesmos se esqueceram disso.

Luz. Uma profunda dor nos olhos. A imagem embaçada aos poucos ganha contornos definidos. O absurdo consiste em se estar num lugar sem se ter idéia do motivo e das circunstâncias. Começo novamente onde tudo terminou. Entretanto, não sei dizer o por que. Minha última lembrança consiste justamente no céu estrelado, que pouco a pouco fora sendo tomado pela escuridão. Estava morrendo, e o pavor diante dessa circunstância me angustiava intensamente, pois mesmo diante da morte não há homem que não deixe de pensar no futuro. Morrer consiste pois num salto para o futuro, todavia um salto ausente de qualquer espécie de perspectiva, deixando assim a sensação de desamparo e insegurança, de profundo terror.

O futuro? Não saberia mais dizer. Até estar nele.

Há um futuro pior do que a morte. Um futuro pior do que não ter futuro algum. O inferno será um paraíso e os homens bons serão os mais cruéis da terra. Pior do que morrer é nascer no mesmo e velho, e decadente mundo. Pior do que morrer é não morrer mais.

Eterno!

O que seria viver para sempre? Sinceramente não sei. Sinceramente, não sei se há algum homem que saiba.

Imortalidade! Por ironia, uma arma nas mãos de uma criança, todavia, mesmo não lhe conduzindo ao fim, lhe devolve perpetuamente a mesma experiência de dor e sofrimento.

Saindo de um bar, à luz do dia, um grupo de três amigos, bêbados e eufóricos me chamou a atenção. Todos banhados de sangue por todo o corpo com um cheiro forte de álcool. De longe, pensei se tratar de baderneiros assassinos. Mais perto pude notar que um deles, com um dos olhos vazados, e com a boca cheia de sangue, ria intensamente. Os outros dois, de igual modo, cheio de cortes profundos pelos braços e pernas, também riam. Divertiam-se lançando violentamente a cabeça do companheiro contra uma parede, deixando nela um rastro de sangue e miolos. Divertiam-se com a dor de si mesmos. Não pude deixar de vomitar ao assistir a cena.

Em outra, cerca de quinze pessoas, reunidas na praça à noite, festejavam sob o corpo nu de um ser que não saberia definir o sexo. Estava coberto de sêmen e outros fluídos corporais da pior espécie. Todos pareciam felizes, inclusive, o objeto de tal escárnio. A festa encontrou seu ápice numa expressão de canibalismo. Lentamente: costelas, pernas, estômago. Sendo devorados com a mulher (?) ainda viva. Ela não morreria, mas naquele momento senti que alguma coisa dentro de mim morreu.

Definitivamente, embora muito parecido, eu não estava no mesmo mundo que conhecia. E de fato eu não estava. Pensei tratar-se do inferno. Ora, mas o inferno não seria um abismo de fogo por onde as almas agonizantes não cessariam de pedir misericórdia e perdão pelos seus pecados?


Não há mais terra, ar puro, plantas ou animais. Não há mais chuva ou crianças que brincam com poças d’água e que se atrevem a jogar futebol na lama. Desconhecem a beleza da primavera e das outras estações. Desconhecem a beleza das montanhas e do céu matutino no verão, sendo aos poucos iluminados pelo sol. Não existe mais o sol. Apenas um mundo feito de aço, concreto e muitos circuitos elétrico-neurais. Não existe mais homem. Há alguma coisa no lugar dele, uma coisa que eu não sei o que é, e tenho um profundo medo em tentar descobrir. Sentado no alto de um prédio, e vendo a multidão sempre apressada, chorei intensamente em compreender isso. Por aqui ninguém chora. O problema não está em mudar. O problema está em sempre ser o mesmo.

Quando muito jovem, andando distraído pela rua, olhando despreocupado vitrines e pessoas, deparei-me com uma loja de produtos esotéricos, com um cartaz na porta que dizia: “Lê-se a mão: descubra seu futuro e se prepare para ele”. Por curiosidade resolvi entrar. Fui atendido por uma senhora idosa, muito simpática e bem vestida. O interior da loja exalava incenso. Paguei a consulta. Silenciosamente ela faz uma oração e pediu que eu erguesse a minha mão direita. Enquanto olhava fixamente para minha mão, percebi que discretamente começava a contorcer o rosto em sinal de preocupação.

- O que está vendo? Ansioso perguntei.
- Espere um pouco. Ela respondeu.
Por um momento abandona minha mão e abre o tarô que está ao lado. Pede que eu embaralhe e escolha as cartas. Ela tem um susto. Dessa vez mais evidente.
- O que a senhora está vendo? Há algo de errado comigo? Novamente perguntei.
- Sinceramente menino? Ela disse com um suspiro.
- Não se preocupe, diga. Respondo tentando acalma-la.
- Eu não vejo nada.
- Nada?
- Nada. Estou sendo sincera com você. Não vai pedir o dinheiro de volta, vai?
- Não senhora, reconheço a sua honestidade. 
Saio da loja interiormente contrariado e confuso. Hoje entendo o porquê.

domingo, 11 de março de 2012

Quanto Vale Um Intelectual?


Para que serve os intelectuais hoje em dia?

Para que serve um intelectual cristão hoje em dia? Homens que gastam tempo, dinheiro e dedicação ao estudo; e que acima de tudo estão em busca de respostas sinceras. Para que serve um intelectual cristão hoje em dia? Para servir como instrumento de justificativa à insuportável rotina religiosa de cristãos mentalmente preguiçosos e satisfeitos de terem uma consciência tranqüila por estarem certos de serem salvos e amados por cristo e de irem para o céu, justamente porque o pastor disse? Será o intelectualismo algum tipo de serviço benéfico à humanidade? Se sim, porque desvalorizar o trabalho de tantos escritores, filósofos, artistas em geral cuja arte estimula o senso crítico e poético da humanidade? Será o intelectualismo algum tipo de serviço benéfico ao cristianismo? Se sim, porque desvalorizar o esforço de teólogos no desenvolvimento reflexivo (definindo-o mais como um hobby), por intermédio de livros e palestras? Autoritarismo e senso crítico se excluem reciprocamente: intelectuais não são bem vindos em ambientes centralizadores. Seja ele o governo ou qualquer outra instituição, dentre os quais a igreja, quando esta se propõe a ser centralizada num tipo de autoridade.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Dia Internacional da Mulher


Para quem não sabe ainda: o dia internacional da mulher é apenas uma data simbólica, cujo objetivo é conscientizar o respeito à mulher (tanto pelos homens, quanto pelas próprias mulheres) todos os dias! Por outro lado, devo acrescentar: que a "mulher" está em evidência social isto é inegável. O que me dá medo é o que elas podem fazer com essa evidência toda. Algumas, assumindo um ideal de justiça, fazem da mulher uma classe à parte e superior (em sua maioria feministas). Esse tipo de ideologia apenas reproduz o discurso patriarcal de duas gerações passadas. Não se trata dessa forma de uma evolução, mas de um retrocesso, baseado numa idéia abstrata de vingança familiar (de classe). A mulher hoje está menos "sensível", porque percebeu-se não tão frágil quanto lhe contaram que ela era. Algumas, perversas, até esqueceram que tinham um coração batendo no peito. Outras, inocentes, são capazes de entregar seus corações sem exigir nada em troca. Como distinguir uma heroína de ambas as mulheres? A grande luta de qualquer sexismo (machista ou feminista) consiste em lutar para que homens e mulheres deixem de ser, em qualquer grau, dependentes um do outro. Assim acontece na economia, com a autonomia financeira de ambos, todavia, esse tipo de mecanismo tende a se desenvolver e se expandir em outras direções: é evidente a perda gradativa de comunicação e entendimento mútuo. Em breve, receio que ambos não se reconhecerão entre si como simples seres humanos e darão início a um guerra! Espero estar morto antes que isso aconteça. Sendo assim, me cabe à pergunta: Cabe homenagear mulheres que não fazem Justiça a todo legado em prol direitos sociais, conquistados às lágrimas e sofrimentos por suas antecessoras? Cabe a nós homenagearmos até mesmo essas mulheres que antecederam nossas esposas e filhas, tendo em vista o curso tomado pela cultura, cada vez mais feminista em direção a uma “ditadura da mulher”?