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quinta-feira, 28 de abril de 2011

Isaías 53


Quem deu crédito à nossa pregação? E a quem se manifestou o braço do SENHOR?

Porque foi subindo como renovo perante ele, e como raiz de uma terra seca; não tinha beleza nem formosura e, olhando nós para ele, não havia boa aparência nele, para que o desejássemos.

Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum.

Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido.

Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.

Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos.

Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca.

Da opressão e do juízo foi tirado; e quem contará o tempo da sua vida? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; pela transgressão do meu povo ele foi atingido.

E puseram a sua sepultura com os ímpios, e com o rico na sua morte; ainda que nunca cometeu injustiça, nem houve engano na sua boca.

Todavia, ao SENHOR agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando a sua alma se puser por expiação do pecado, verá a sua posteridade, prolongará os seus dias; e o bom prazer do SENHOR prosperará na sua mão.

Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo, o justo, justificará a muitos; porque as iniqüidades deles levará sobre si.

Por isso lhe darei a parte de muitos, e com os poderosos repartirá ele o despojo; porquanto derramou a sua alma na morte, e foi contado com os transgressores; mas ele levou sobre si o pecado de muitos, e intercedeu pelos transgressores.

Andando Sobre as Águas


Jesus está lá fora. 

Mas lá fora também está o vento, o mar bravo, está a tempestade. Jesus está lá fora e lá fora também está a morte.

Que ele então fique do lado de fora!

E a nós, que estamos dentro do barco, apenas nos resta enquanto esperamos a bonança, discutir a direção do vento, a altura das ondas, a duração da tempestade, para irmos em segurança em direção a ele. Em suma, nos resta fundar uma academia. 

Cristo nos convida a saltar da segurança do barco.
Salto para a morte, diriam os que ficam.
Salto para a vida, dizem os que vão. 

Enquanto uns olham para o vento, as ondas e a tempestade, outros olham para Jesus e saltam. E andam sobre as águas. Contrariando o que diz a multidão, saltamos do barco. Olhamos para o lado e por isso afundamos. 

“Senhor, salva-me”.

Não é o seu grito que lhe motivará compaixão. Não é o seu grito que lhe motivará socorrê-lo. Mas sim o fato de você ter saltado do barco. De ter confiado nele! Porque fora do barco, ele é a única pessoa em que se pode confiar quando se está no meio de uma tempestade.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Um Novo Samaritano


A parábola é a mesma. Um homem agoniza no chão à beira do caminho. Os passantes o vêem, o reconhecem e o ignoram. Mas dessa vez, não se trata do sofrimento de qualquer homem: pensemos hoje que esse mesmo homem é o zeloso sacerdote que seguia o seu caminho em direção ao templo. Hoje ele é a vítima. Assaltado, perde tudo o que tem e quase a sua própria vida. Não lhe passou pela cabeça que as outras vítimas encontradas em seu caminho eram idênticas a ele e lhe serviram de aviso. E ele as ignorou. Em seu coração, apenas uma simples oração: 

“Oh Senhor, quando irás me ajudar? Socorre-me, pois me faltam forças para levantar!”

Passa um transexual, que ao ver aquele homem, quase morto, mas ainda consciente, lhe oferece ajuda. Com as poucas forças que tem, ele recusa. Segue então o seu habitual caminho. De igual modo, passa uma prostituta e também lhe oferece ajuda:

- Não quero sua ajuda, sua pecadora! Sussurrando ele diz. 

Magoada e ofendida, ela também se afasta e segue o seu caminho. Ele não havia percebido que se aceitasse ser ajudado, o zeloso sacerdote teria mudado o caminho habitual de quem lhes ofereceu ajuda. Ele teria lhes oferecido outro caminho e com isso, o caminho de morte em que ele mesmo se encontrava, se transformaria num caminho de vida. 

Por fim passa outro sacerdote. Sem forças, sequer para falar, o homem estendido no chão apenas lhe estende a mão. Ele é ignorado. Algumas horas depois ele estava morto à beira do caminho.

domingo, 24 de abril de 2011

Citações - Ernest Renan



Repousa agora em tua glória, nobre iniciador. Tua obra está completa; tua divindade está fundada. Não mais temas ver desmoronar teus esforços por falta de edifício. De agora em diante, longe dos golpes da fragilidade, assistirás, do alto da tua paz divina, às conseqüências infinitas de teus atos. Ao custo de algumas horas de sofrimento, que nem chegaram a atingir a tua grande alma, compraste a mais completa imortalidade. Por milhares de anos o mundo vai depender de ti! Bandeira de nossas contradições, serás o símbolo em torno do qual se travará a mais ardente batalha. Mil vezes mais vivo, mil vezes mais amado depois da morte do que durante os dias de tua passagem  por aqui, tornar-te-ás a tal ponto a pedra angular da humanidade que arrancar teu nome deste mundo será abalá-lo até as raízes. Entre ti e Deus não se distinguirá mais. Plenamente vencedor da morte, toma posse do teu reino, onde te seguirão, pela via real que traçaste, séculos de adoradores.(...)quaisquer que possam ser os fenômenos inesperados do futuro, Jesus não será ultrapassado. Seus culto se rejuvenescerá constantemente; sua lenda provocará lágrimas sem fim; seus sofrimentos enternecerão os melhores corações; todos os séculos proclamarão que, entre os filhos dos homens, não nasceu nenhum maior que Jesus.  (Ernest Renan, Vida de Jesus).    

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Sexta - Feira Santa?


“ Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputamos por aflito, ferido de Deus e oprimido” (Is. 53.4).

Enfatizam o sangue, os pregos e a coroa de espinhos; a cruz e o homem pendurado nela, mas equivocadamente, se esquecem que havia um sacrifício que se concretizava não apenas para que os homens se solidarizassem à morte de um inocente com lágrimas e corações tristes. Segundo Isaías, não podemos separar o sacrifício do cordeiro de Deus, do mesmo que tira os pecados do mundo e que assume para si toda a nossa enfermidade e dor, de uma incompreensão a respeito do valor desse mesmo sacrifício. Incompreendido, ontem e hoje, o cordeiro é esmurrado e cuspido no rosto, é açoitado e motivo de riso. Ele escolheu sofrer e morrer por aquele que não o ama!

Entretanto, hoje abertamente afirmam que amam a Cristo, tanto que nossa cultura lhe dedica alguns feriados que a maioria dos cristãos se orgulha por não terem que trabalhar. Hoje abertamente dizem que amam a Cristo, ao mesmo tempo em que defendem o mesmo discurso daqueles que o crucificaram. Nos esquecemos que ao assumirmos com alegria e festa essa ocasião solene, justamente por conhecermos os motivos pelos quais ela se realizou, na verdade, queremos que o cordeiro continue crucificado e nos comportamos de igual modo como aqueles que o esmurraram e cuspiram no rosto, que o açoitaram e riram dele. 

Crucifiquem a Jesus!
Porque pela sua morte somos perdoados e temos liberdade suficiente para pecarmos.
Crucifiquem a Jesus!
Porque pela sua morte somos curados de nossas doenças, e podemos exigir de Deus isso.
Crucifiquem a Jesus!
E hoje, pendurado numa cruz, está Jesus, na maioria dos nossos corações. 

Lastimável!

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Prefácio de "Biografia Anônima"

Olá Caríssimos,

Segue o prefácio do meu próximo livro a ser lançado pela editora multifoco "Biografia Anônima", escrito pelo amigo e irmão pastor Jeferson André. Espero que gostem. Para baixar o primeiro capítulo deixo o link: http://www.4shared.com/document/j3SizLGo/Biografia_Annima.html

Um abraço,

Diogo.


Prefácio



 Quando fui convidado para prefaciar este livro achei que não fosse capaz e, aproveitando que estamos sozinhos, confesso ainda não achar. No entanto, não quis fazer essa desfeita a um amigo tão querido, pois tenho acompanhado a caminhada de Diogo Santana, quem já me proporcionou leituras fascinantes.

 Neste texto me sinto convidado a assumir meu próprio eu, a me reconhecer diante de mim e dos outros. A emocionante história de Biografia Anônima me ensina a comover-me com a minha própria. No entanto, a ausência de maniqueísmo me faz ver que não se trata da história de alguém em especial, mas do humano; esse ser complexo que povoa esta terra, que se confunde com deuses e demônios; que hora destrói, mas no instante seguinte cria. É um equívoco dissociar nossas ações de seus autores, intitular-se espirituais ou demoníacas quando, no muito, são meramente humanas. Outro equívoco é condenar o humano ao fracasso, pois o próprio Deus não o condenou. Por isso nos deixou sua palavra – a fé palavra – que se revela fonte de esperança ao humano, que enfraqueceu a si mesmo.

 Fé, ingrediente indispensável para a receita da vida. Pois como já disse o teólogo ter fé é saltar no escuro, mas o que ele esqueceu de nos dizer é que caminhamos o tempo todo no escuro e, nunca sabemos onde poremos o pé no próximo passo. A verdade é que só os corajosos, ou inconseqüentes, às vezes saltam. E se saltam é porque acreditam ou que há um chão para detê-los, ou que suportam a queda. Admiro os que saltam, pela fé ou pela loucura; porque em nada se diferem, pois foi o apóstolo quem disse que Deus usa a loucura a fim de confundir a sabedoria. Pobre sabedoria, soberba e cheia de si mesma, a mais louca de todas.

 Perigosa é a cultura do saber e do cientificismo que forma cirurgiões que aprendem, desde cedo, a dissecar a vida. Assim, separamos o trabalho da família, a sexualidade do amor, a fé do cotidiano, acreditando que esta fé pode ser muito útil nas celebrações de domingo, mas que em nada tem a ver com o dia-a dia. No entanto, a cultura da dissecação contraria a palavra de Deus que nos ensina a atar a fé/palavra ao punho e à testa, para que esta não seja por nós esquecida.

 Em protesto a cultura da dissecação este texto propõe uma análise do humano a partir do próprio humano.

 Não há outra maneira de falar de fé, moral, política, loucura, liberdade e amizade senão pela beleza da própria vida; do que se vive, do que se vê, do que se sente. E é com beleza que Diogo Santana nos propõe essa leitura; beleza esta que não se extrai das estruturas sociais, mas das relações humanas. Beleza que o humano recebe de seu criador.

 Ao iniciar essa leitura me senti seqüestrado. Seqüestrado por mim mesmo. Pois Biografia Anônima é a história de outro alguém, mas poderia muito bem ser a do próprio Diogo, ou a minha, ou a sua.

Jeferson André.
Teólogo, pastor adjunto da Igreja Batista da Redenção, em Tomaz Coelho, no Rio de Janeiro.  

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Sermãos, Cursos e Palestras

Olá Caríssimos,

Para interessados em meus sermões, cursos ou palestras, peço que entre em contato comigo pelo email: diogosantana45@yahoo.com.br ou então que baixem no 4share o arquivo com os procedimentos necessários.

Esse é o link:
http://www.4shared.com/document/-aRkelUO/Cusos_e_palestras_Diogo_Santan.html

Um abraço!.

Diogo.

terça-feira, 19 de abril de 2011

O Pacto


Ele se aproxima à mesa para o acordo. 

Sentado a sua espera, um homem vestido com um capuz. Com uma voz estridente pergunta ao visitante: 

- O que queres de satanás? 

- Quero fazer um pacto. Ele responde. 

Uma gargalhada invade a sala. 

- Preciso do seu sangue. 

O jovem rapaz estende sua mão e corta um de seus pulsos com uma gilete que trazia no bolso. O sangue é depositado num cálice e misturado ao de outras vítimas animais. 

Uma nova gargalhada na sala. 

- Meu filho, o que quer de mim? 

- Quero terminar minha faculdade. Estou passando por dificuldades financeiras, e preciso me formar. 

- O que você cursa? 

- Teologia. Me formo “reverendo” no final do ano. 

As gargalhadas cessam. 

- Mas como é que você vem procurar justamente a ajuda do diabo para ser um pastor? Você acha que eu estou aqui de brincadeira? 

- Pois é. A situação está difícil e urgente. Tive que apelar já que ninguém quer saber de ajudar. 

Satanás espuma enraivecido. Mas resolve ajudar. O acordo é feito e o futuro pastor termina o seu curso. Dirige uma grande igreja e tem um excelente salário, e assim, o diabo percebeu que havia feito um bom negócio, pois ao invés de uma, levaria uma centena de outras almas para o inferno.    

Alguns anos mais tarde num anúncio de jornal se lia: 

Pai Joãozinho do Diabo
Feitiços e amarrações. Faço voltar o seu amor em duas horas. Pactos para enriquecimento e poder. Ajuda a seminaristas.

sábado, 16 de abril de 2011

Jesus Caminha Sobre as Águas


 Mt. 14.22-33.

Seguir a Jesus é como andar sobre as águas: tarefa impossível a nossa natureza. Mas Cristo nos chama ao seu encontro. Ele nos chama para o que é impossível e a mais insana loucura. É preciso ir em direção ao que seria inevitavelmente nossa perdição, ao nosso medo. Perder-se é lançar o primeiro pé na água. Ele mesmo faz o milagre: que firma os nossos pés e nos faz caminhar em direção a ele. Talvez, a experiência de algo tão inacreditável não nos convença suficientemente a ponto de nos fazer perder o medo. Ele não vai embora com o milagre, ele permanece. Medo do vento, medo das ondas, medo de Cristo! Começamos a afundar, e isto significa a morte! 

Grite, com todas as forças do seu corpo. E se não puder, com toda a intensidade do seu coração: “Senhor, salva-me!”. Quando lhe faltar o fôlego para continuar vivendo, Cristo o segurará pela mão, pois não é você que irá em direção a ele, mas ele a você. Justamente naqueles momentos quando achar que a sua vida acabou, ela apenas recomeça, de volta à superfície.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Maria, Não Chores!


Jo.20.11-18
Mulher porque choras? 

Se deixaria convencer que o Senhor de todas as coisas, ele mesmo, que é a ressurreição e a vida, que é a própria vida, pudesse ser vencido pela morte? 

Sim, ela se convenceu, e por isso chorava. E não apenas por isso: o túmulo vazio lhe fizera acreditar que até suas melhores lembranças de seu mestre lhe haviam sido roubadas. Não havia mais um corpo para chorar e reclamar saudade. Nada mais racional e sensato. A morte costuma nos convencer que o fim chegou. Para todos os homens o destino é sempre o mesmo, não o seria também para Jesus? Não, não seria. 

Mulher, porque choras? 

Choras porque amou demais o que se foi, e se vê impotente diante da possibilidade de vê-lo novamente. Chora porque vê o impossível. Diante da morte todas as nossas inquietações na vida se tornam mínimas, quase irrelevantes. 

Maria não chores, ele ressuscitou! O impossível já não existe mais. 

O túmulo vazio era uma promessa e você havia se esquecido dela. Quem se esquece da promessa acredita que ela não se realizou, e por isso chora. Aquele que com o seu poder venceu a morte, torna todas as nossas inquietações, todas elas, mínimas. 

Maria não chores, ele ressuscitou!

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Kairós (Primeira Parte)


Καιρός
Nós afirmamos que a magnificência do mundo enriqueceu-se de uma beleza nova: a beleza da velocidade. (Filippo Tommaso Marinetti no Manifesto do Futurismo).

I

Kairós. 

Tempo de Deus. 

Eternidade. 

Como é difícil para nós se falar em eternidade, quando até mesmo o próprio ato de viver é inseparável do tempo. Não poderia deixar de ser absurdo qualquer tipo de especulação que nos escapa inteiramente da experiência, mesmo pessoal. Nossa época é marcada pela velocidade. Rápidas transformações tecnológicas trazem consigo um desgaste prematuro de idéias e valores. A vida parece ser cada vez mais curta. Se falar em eternidade parece um absurdo cada vez maior a partir de uma experiência cada vez mais intensa e profunda da finitude feita pelo homem contemporâneo. Contudo, essa experiência da velocidade tem o seu próprio lugar no tempo, ela teve um princípio. 

Sendo assim, é preciso reconhecer quando um discurso cedeu lugar ao outro. É preciso reconhecer que diferente de hoje, eternidade nem sempre pareceu um discurso tão absurdo assim. Eternidade absurda para o nosso tempo, mas não para o tempo que a velou. Se o nosso tempo tecnológico, promovido pelas grandes metrópoles se caracteriza pela velocidade, justificado pelo discurso da temporalidade, de maneira inversa, o discurso sobre a eternidade somente poderia ser justificado por condições sociais alheias a tais experiências. Se a tecnologia e a informação fazem acelerar o tempo, características das grandes cidades, a ausência desses elementos, tornam a passagem do tempo bem mais lenta. Característica da vida no campo. 

Se atualmente, essa ambigüidade clássica entre campo e cidade se torna cada vez mais complexa e difícil de ser feita, à medida que nos voltamos ao passado, essa ambigüidade era mais evidente do que é hoje. É evidente que a oposição entre cidade e campo se encontra na crise enfrentada pelo nomadismo patriarcal diante do surgimento das primeiras cidades. Basicamente, tal oposição tem sua origem na dominação da técnica  de cultivo renovável do solo e da criação de animais. Com o cultivo renovável do solo, surge a necessidade em se demarcar território, em decorrência disso, em protegê-lo com muralhas, exército, armas. O dono da cidade se torna o seu líder absoluto, sua palavra, lei inquestionável e seu poder transferido apenas a pessoas de confiança, normalmente familiares. O gêneses irá destacar bem esse conflito. Partindo da expulsão do paraíso, ao relacionamento entre os irmãos Caim (agricultor e criador da primeira cidade) e Abel (pastor nômade) e a vida nômade dos primeiros patriarcas. 

O Éden ou o paraíso constitui a volta do homem ao seu lugar de origem, o campo. Onde a vida campestre encontrou sua plenitude e o homem encontrou o seu lugar na natureza, e por isso, o tempo nunca passa. Constitui portanto, um discurso oriundo de uma crise do nomadismo patriarcal ou sua apologia saudosista, o que é o mais provável, devido a origem da redação dos escritos sobre a criação, que remontam o cativeiro babilônico dos hebreus. 

Em síntese, o Kairós, historicamente falando, constitui um elemento discursivo de resistência cultural contra o desenvolvimento tecnológico presente na formação das primeiras cidades. Significa uma crítica a organização das primeiras cidades, contrapondo-se ao nomadismo em declínio. Existe portanto, presente no discurso sobre o Kairós um forte elemento anti-civilizatório. O homem pertence ao campo, não a cidade. Mais tarde, no novo testamento esse valor será retomado por Jesus (que aliás, era camponês) ao se referir ao inferno. O Geena (inferno) consistia num tipo de lixão onde se depositavam os dejetos da cidade que eram queimados por uma grande fogueira. Lá era comum animais mortos em decomposição e por isso a infestação de vermes. O inferno de Jesus é o lugar de dejetos da cidade, e isso para ele, também incluía o homem. Um homem ausente da natureza e por isso de natureza. O homem da cidade é um homem morto que não morre, em decomposição, todavia eterno.

sábado, 2 de abril de 2011

O Que é um Milagre?


Que o mundo e os homens sejam previsíveis. Que não exista liberdade ou vontade própria. Que nada nos escape das mãos. Que não exista o impossível. Que possamos conhecer tudo. Infelizmente essa não é a nossa realidade. Criamos leis que não podem explicar tudo e que com o tempo envelhecem e caducam, nos deixando com mais dúvidas do que certezas. Com essas leis, chamamos de modernidade um mundo onde qualquer espécie de determinismo (moral, psicológico, sexual, político, econômico e etc.) solapa qualquer esperança de mudança, fatalidade.  No âmbito social, determinismos econômicos (como o capitalismo) são na realidade instrumentos de manipulação ideológica para que a desigualdade continue a separar ricos de pobres. 
O pobre, por não ter nada, pela experiência de sofrimento e escassez, conclui que para ele, talvez não exista mais possibilidades. Qualquer ato de bondade somente pode ser interpretado como um milagre. 
Um milagre!
Milagres existem e vão além de curas e outros fenômenos inexplicáveis. Significa antes, acreditar que a condição humana, diferente do animal, não está situada inevitavelmente no determinismo ou em qualquer outro, onde se estabelece a segurança, a certeza e a objetividade, e com ela, o tédio diante da vida. Pelo contrário, crer no milagre significa desconfiar da fatalidade e do determinismo. É crer na liberdade. De que a condição humana está em constante risco de encontrar-se com o imprevisível por isso mesmo em desespero e dúvida. E não precisa ser religioso para isso. O existencialismo e o anarquismo são bons movimentos contemporâneos que expressam bem essa desconfiança. E que por isso, também apontam para um tipo de transcendência.  
Para conquistar o impossível e necessário antes de tudo que o impossível exista, e que não exista a esperança, que em si mesma já é uma possibilidade. Onde todas as possibilidades se exaurem, resta apenas a dependência absoluta ao “acaso”. Ao acaso de se encontrar com Jesus à beira do caminho, uma dessas oportunidades inesperadas que não se pode jogar fora. É o Kairós, a oportunidade das oportunidades. É a possibilidade que surge quando não existiria nenhuma outra. Quando uma virgem e mulheres estéreis engravidam e mortos ressuscitam. Quando surdos ouvem, alejados andam e cegos vêem. O Kairós é a possibilidade que surpreende o homem, que vem ao seu encontro, portanto, que é independente dele. É doação de Deus.