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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Quem Serão os Salvos?


Mt.  25:31-46

Ovelhas e bodes. 

Como distingui-los um do outro? 

Somente o dono do aprisco poderá fazê-lo. E ele o faz se tornando o menor e o mais indigno entre os homens. Ele está com fome, sede, enfermo, preso, nu e forasteiro. O Senhor se torna pobre, tão pobre e humano que sente fome e sede, e que humildemente entre os homens pede comida e algo para beber. O Senhor está nas ruas, debaixo de pontes e viadutos. Sujo e maltrapilho, pedindo aos que passam um pouco de misericórdia. O Senhor adoece, de câncer, aids, de lepra. Ele está no leito de um hospital e até mesmo na UTI. Ele está nu, envergonhado, esquecido, e quando não, ridicularizado. Ele está na cruz!

Ovelhas se esquecem do bem que realizam a ele. Bodes, por nunca tê-lo conhecido, também.
Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber?

Como reconhecer o bem realizado alguém que não se lembra? É como receber um presente surpresa, julgando-se imerecedor dele. Ovelhas não são boas. Bodes não são maus. Contudo, ovelhas se aproximam daqueles a quem os bodes evitam. Ovelhas se envolvem. Bodes preferem ficarem sozinhos.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O Bom Samaritano

Lc. 10. 25-37

Quem é meu próximo?
Um homem à beira do caminho. Ele sofre, tanto que prece não ter mais vida. Está quase morto. Não pode falar. Não pode gritar de dor. Sem nenhuma esperança. Inesperadamente, pelo mesmo caminho do viajante ferido, passa o sacerdote bem vestido. Está indo ao templo para cultuar seu Deus. Não percebeu que caído ali mesmo no chão de terra árida e seca, está o seu culto a Deus. Um Deus que se confunde com as vítimas dos assaltos violentos na vida, quando nos arrebatam toda a esperança. Mas não, o que o sacerdote enxerga com toda a sua religiosidade é um homem morto. Sua religiosidade e bom nome lhe exigia que não se aproximasse de homens assim, pois caso contrário, não teria condições formais para cultuar seu Deus no templo. Ele prefere não se envolver, e por isso, passa longe dele.

Em seguida, passa o levita. De igual modo, prefere não se envolver. Ele trabalha no templo e é lá que ele possui sua única fonte de subsistência. Se aproximar daquele que sofre arruinaria sua vida.

Passa o samaritano, e inesperadamente se aproxima. Ele não se importa de se aproximar de corpos que os outros julgam mortos. E isso é motivo de escândalo. Ele se aproxima, cuida dele, e lhe devolve a vida. Samaritanos se aproximam porque eles mesmos, sem um bom nome e uma moral exemplar entre seus irmãos judeus, excluídos por eles, não teriam mais nada a perder. O samaritano consiste pois naquele que perdeu nome e moral, mas não perdeu a capacidade de olhar, e olhar bem o outro. E se doar para ele.

Biografia Anônima

Olá Caríssimos,

O prefácio e o primeiro capítulo do meu próximo livro "Biografia Anônima" poderá ser baixado gratuitamente através deste link do 4shared: http://www.4shared.com/document/j3SizLGo/Biografia_Annima.html. Espero comentários.

Um abraço,

Diogo.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Dois Irmãos (Capítulo Três)

Afinal qual é o sentido da vida?
Se perguntava Carlos, enquanto corria pela manhã pelas ruas da cidade. Começava a perceber, que o tempo começava a vencer o vigor do seu corpo. Ele não era mais o mesmo. As farras de hoje não lhe pareciam melhores, ou até mesmo iguais às farras de quando era mais jovem. Nem mesmo o futebol, as mulheres ou até mesmo a bebida lhe proporcionavam o mesmo prazer de alguns anos atrás. Enquanto corria, percebeu que havia ficado velho. Parou para respirar. Sentou no meio fio da calçada. Olhou ao redor, sentiu uma leve tonteira. Achou que iria desmaiar. Foi andando pensativo pra casa. Aterrorizava-lhe a idéia de estar brevemente dentro de um caixão. Concluiu que havia jogado toda a sua vida no lixo.

Lembrou-se da infância, das brincadeiras de moleque. Não se conteve e começou a chorar. Ele queria ser de novo uma criança. Por outro lado, queria ter feito na vida algo que o tornasse reconhecido: uma família, um bom emprego que lhe permitisse alguma estabilidade, alguns filhos, alguma coisa para deixar neste mundo quando dele não pertencesse mais.

Resolveu mudar de vida: largou as farras, as mulheres, o futebol. Resolveu tornar-se um bom cristão. Sério, honesto e responsável. Entrou na primeira igreja que viu aberta, procurando o pastor:

- Queria ser um homem mais sério, mais responsável. Estou velho demais para sandices de adolescentes. Eu quero mudar entende? Como posso fazer isso?

- Se o seu objetivo é ser mais sério, justo e responsável, lhe aconselho a procurar outro lugar. Responde o pastor.

- Como assim? Bons cristãos são reconhecidos por sua seriedade e responsabilidade, não é?. Pergunta Carlos.

- Não, não. Bons cristãos são reconhecidos por sua cara fechada e falta de bom humor. Ironiza o pastor.

- O senhor como pastor não deveria me dizer uma coisa dessas.

- Gostaria que eu o enganasse então?

- Claro que não, mas eu pensei...

O pastor o interrompe:
- Jesus não se preocupou em nos tornar melhores adultos, mas sim, melhores crianças. Para pertencer ao reino é preciso ser uma criança. Religião é coisa de adulto, e por isso mesmo, de homens extremamente dedicados e responsáveis que não amam mais a vida.

Carlos percebeu que ele poderia ser jovem novamente. Dessa vez para sempre.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Dois Irmãos (Capítulo Dois)

Afinal, qual é o sentido da vida?
Perguntava-se Sérgio, completamente embriagado, antes de dormir profundamente. No dia seguinte, a resseca trazia consigo a inspiração para que escrevesse poemas tristes. Faria aniversário daqui a uma semana, e sentia que não havia nada para comemorar. Sem família e amigos. Sem nenhum amor. Estava sozinho. Recebe uma carta de um grupo de poesia que não escreve a muito tempo.

Dizia o texto:

“É comum no início do inverno que as flores no topo das árvores sejam as primeiras a cair. Por mais bonitas que elas sejam. Numa dessas épocas, a flor que caiu foi a de José, um simpático senhor, idoso e bem humorado, que com o seu pequeno óculos redondo e seu cavanhaque e bigodes grisalhos sabia esconder a verdadeira idade que tinha. Quando confrontado sobre a sua real idade era certa a resposta: -“acho que tenho uns 12 anos”. Era assim que se sentia.

Isadora, sua companheira fiel durante longos cinqüenta e seis anos de casamento faleceu. Despede-se dele com um enterro digno de um homem que ainda está apaixonado, como os jovens. Desencantou-se do mundo dos homens. Nos meses que se seguiram, esquecera-se de rir. Seu olhar fora invadido por uma profunda tristeza. Ele queria morrer com ela. E talvez, de fato, pelo menos em parte, com ela, ele já estivesse morto.

Apaixonou-se por uma flor. Natural, se não fosse por uma rosa – de verdade. Com pétalas e cravos. Sim, uma rosa. O julgaram louco, completamente fora de si.

- “Onde já se viu, um velho apaixonado por uma rosa?!”.

- “É a mais bela que eu já vi. Talvez seja a mais bela do mundo. Melhor: do universo”. Costumava dizer.

Contudo, sua paixão não se igualava aos demais homens e mulheres. Não se tratava de um simples desejo impulsivo, mas sim do cuidado. Seus olhos novamente brilharam. E o simples motivo para isso consistia no fato dela simplesmente existir. Intocada. Perfeita.

- “Ora, rosas não são mulheres, e nem mesmo é possível trata-las como se fossem”. Cochichavam os parentes entre si.

- “Deus me tirou uma flor, e me deu outra”. Dizia.

Mas um dia sua rosa também morreu. Indignado, perguntava-se o porquê uma linda rosa tivesse que morrer antes mesmo que um homem desgastado pela velhice.  

- Quanta injustiça!”.

Incompleto. O texto estava incompleto. Justamente sem um final. Entendeu ser esse o motivo de lhe enviarem o texto. Pensou um pouco e escreveu:

“Olhando o trabalho do jardineiro, perto de sua casa, o cuidado com as rosas e as crisálidas, a beleza de cada flor, o quanto estavam bonitas e saudáveis, o simpático senhor José, com algumas lágrimas que escorriam dos olhos, para espanto de todos, sorriu. Saltando de sua cadeira de balanço gritou:

- Há belezas que vão, mas outras que ficam, que são eternas. São elas, as boas memórias das pessoas que amamos, que se foram, e também daquelas que ainda estão entre nós. Todos nós podemos deixar algo belo no mundo. O mundo é belo apenas o quanto desejamos que ele seja. E se o mundo é feio, como argumentariam alguns, é porque não há mais saudade, saudade da beleza”.

Ao ler o que havia escrito, Sérgio também chorou, e do seu rosto também esboçou um sorriso. Enviou o texto novamente ao destinatário, encerrando-o com um simples “muito obrigado”.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Dois Irmãos (Capítulo Um)

Dois irmãos, já idosos, dividem o apartamento da mãe, já falecida. Conseguiam sobreviver à custa de uma pequena poupança que ela deixou. Sérgio, o mais velho, nos seus cinqüenta e seis anos de idade, de temperamento mais tranqüilo e melancólico, dedicava-se a passar o dia a ler poesia e a escrever, a freqüentar livrarias e cafés. Museus e concertos de música, erudita e popular. Tinha poucos amigos e amores. Durante alguns anos, preparava um romance, mas até então, nunca havia o conseguido terminar. Não tinha pressa, não aspirava ser escritor, muito menos, ter a fama de um.

Carlos, o mais novo, nos seus cinqüenta e dois anos, de temperamento mais enérgico, preferia os bares, as mulheres e outros esportes como o futebol. Ultimamente procurava se casar, construir uma família e ter filhos. Julgava não ter encontrado ainda a mulher certa. Sérgio, no entanto, julgava ter encontrado a mulher certa, todavia, ela o desprezou. Resolveu então não se preocupar mais com isso, conservando certa amargura no coração, que no caso de alguém com a sua idade e saúde, poderia ser perigoso.

Carlos tinha por costume acordar cedo, normalmente às seis da manhã. Sérgio acordava tarde, era comum se levantar às dez. Carlos era otimista e risonho. Sérgio era pessimista e resmungão. Carlos era flamenguista doente, enquanto que Sérgio nem para futebol se importava.

Taxados secretamente de vagabundos pelos vizinhos, que os ignoravam. Exceto Carlos que constantemente era convidado por algum de seus amigos boêmios para uma noite de bebedeira em algum bar da lapa. Sérgio preferia o isolamento. Fora os livros, sua única diversão consistia em nos finais de semana, comprar uma boa garrafa de vinho, e sozinho, acabar com ela até dormir no sofá, perdido em seus pensamentos sobre a vida. 

A Segunda Multiplicação de Pães e Peixes

Mc.8.1-10.

É possível ter fé e fome ao mesmo tempo?

A fé consiste num tipo de fome. A mesma fome que permite que mais de quatro mil homens, fora mulheres e crianças passem três dias ouvindo Jesus no deserto. É fome da alma. E por se aproximar justamente de homens famintos, o discurso de Jesus para eles não pode ser outro a não ser sobre comida e fartura. Ele é o alimento, o pão que desceu do céu para saciar a nossa fome de Deus. Em seu reino, há festa, com uma grande mesa e um grande banquete. Mas Jesus não se contenta em saciar a fome da alma. Ele se preocupa com a fome do corpo também. E realiza o milagre. Ele ensina que a nossa fome de Deus não pode ser igual a nossa fome de pão.

É possível ter fé e fome ao mesmo tempo? Não, não é possível. O irônico nessa afirmação consiste hoje em dia, em não ser um argumento do pobre para não ser crer em Deus, mas sim do rico. Se um morador de rua se negasse a crer em Deus, compreenderia perfeitamente. Todavia, é justamente o rico que se nega a crer, por um problema que ele ajudou a criar. Homens assim, por um breve momento de peso na consciência costumam se indagar: “Porque tanta injustiça no mundo? Porque tanta fome e miséria? Porque tanta exploração?” E para conseguirem dormir tranqüilos, respiram fundo no travesseiro e dão fim à questão: “É, Deus realmente não existe”. É muito mais simples pensar que Deus não existe diante da realidade do mal, a fim de que eu consiga dormir tranqüilo, como se o problema estivesse resolvido, quando não está.

O pobre, que não está acostumado a fazer esse tipo de reflexão, vê cada gesto gratuito de bondade como um milagre. E por isso agradece, a Deus e aos homens. O rico, justamente por ter tudo o que quer, na sua vida não há espaço para o milagre, porque o milagre somente acontece quando somos alvos da solidariedade. Max dizia que a religião era o ópio do povo (logo, um instrumento para se aliviar a dor diante da vida) e que Deus era um artifício criado a fim de que os mais ricos dominassem os mais pobres e os tornassem conformados em sua condição. Um Deus que salva o pobre. Não o torna rico, o torna digno. Ser rico é ser parte da estrutura por onde impera a injustiça. Ser pobre é ser vítima dessa injustiça. Ser digno é ser um instrumento que destrói a estrutura de leis injustas e corruptas que sacrificam o pobre. É ser livre. É multiplicar poucos pães e peixes.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Desabafo

Quando eu era criança, não brinquei de bola, não tomei banho de rio, não me joguei do alto da cachoeira. Eu não briguei com alguém que fosse mais forte do que eu, não tirei suspiros de mulher alguma. Refugiei-me nos livros, e sobre eles eu construí o meu próprio mundo. Hoje eu quero sair e não posso. É muito mais fácil tornar-se um homem de letras, tendo nascido em berço burguês. Infelizmente, eu não nasci neste berço. Desisto da literatura? Não sei. Para mim, ela tem sido ingrata. Mas é um vício, e como tal, constitui parte das minhas forças que me permitem estar vivo.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Palestra no Rio de Janeiro

Olá Caríssimos,
 Dia 19 de fevereiro (sábado), das 17:00 às 19:00 hrs, estarei no Shopping Nova América, no auditório da Livraria Nobel, ministrando gratuitamente a palestra: "Quem é Deus, o que ele quer de nós e o que nós queremos dele?: Uma abordagem antropo-teológica sobre o mistério". Embora gratuita a palestra, as vagas, por conta do espaço, são limitadas. Portanto, aos interessados, peço a gentileza de me enviarem um email (diogosantana45@yahoo.com.br) confirmando a presença.

Um abraço a todos.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Conversas Insanas Sobre Religião I



OS ATEUS

Caro Amigo,

Agradeço-lhe profundamente que tenhas conseguido converter-me ao ateísmo. Sinto-me tão feliz neste momento que pensei em matar-me com um tiro. Mas não se preocupe: não desejo fazê-lo sem antes gastar de uma vez tudo o que tenho de vida e saúde, até que me reste o tédio absoluto e a doença. Pensei em transar com o maior número de mulheres possíveis ao mesmo tempo. Tem alguma idéia melhor? Sabes que não sou chegado à bebida em excesso. Prefiro a morte que a ressaca!

Um grande abraço,
deus.


Caro Amigo,

Sua conversão é recente. Não se precipite. Aproveite a vida. Utilize o seu tempo livre para perturbar a paciência de cristãos ignorantes. Nós precisamos propagar a nossa fé. Leia Richard Dawkins e Michel Onfray, eles estão na moda entre nós. Participe de comunidade de ateus no orkut, elas são muito freqüentadas por cristãos que tentam nos converter. Fundamente seu discurso e seus argumentos em problemas que a grande maioria de cristãos não sabem resolver muito bem, como o problema do mal e do sofrimento e etc.

Um grande abraço,
O diabo.


OS CRISTÃOS


Caro Amigo,

Agradeço-lhe profundamente que tenhas conseguido converter-me ao cristianismo. Sinto-me tão feliz em ter encontrado a Cristo, que se eu pudesse, gostaria de estar pessoalmente com ele agora. Mas para tanto, reconheço que não há outro meio possível a não ser a busca de santidade: estou pensando em fazer um jejum de quarenta dias, tal como Jesus. O que acha? Essa semana estarei subindo um monte que dizem ser o maior do Estado (em jejum, é claro!). Tenho orado no mínimo três vezes por dia como Daniel, durante várias horas. Estou me esforçando muito para ser um bom cristão amado por Deus. Será o suficiente?

Um abraço
Sua ovelha.


Caro Amigo,

Sua conversão é recente. Não se precipite. Há tempo para estar com Cristo efetivamente. Sua tarefa agora é divulgar a fé e trazer mais pessoas para nossa igreja. Leia a bíblia todos os dias e assista o maior número de programas evangélicos na televisão, mas evite todos os outros programas. Evite debates. Não falte nas campanhas de nossa igreja. Trouxemos areia ungida da terra santa. Sabe que o nosso único propósito é abençoar você. Com essa areia, simbolizamos o aterramento de todo o mal em sua casa. Não esqueça de trazer seu dízimo.

Um grande abraço,
Seu pastor.

Deus e as Crianças

Correndo pela casa, é comum que crianças quebrem coisas, ou achem coisas. Objetos perdidos a muito tempo e que só não foram encontrados por falta de uma boa faxina: fotos antigas, livros e cds, roupinhas de bebê.  Numa dessas brincadeiras, os irmãos Henrique e Isabel e seu primo Ricardo, pulando para cima do armário de um dos quartos, encontram uma belíssima caixa de madeira, lacrada por uma tampa emblemada por uma escultura, também em madeira, de uma mão segurando o globo terrestre.

- Vamos abrir? Perguntou a tímida e indecisa Isabel.
- Claro! Respondeu Henrique.
- Acho que não é uma boa idéia. Retrucou Ricardo.
- Medroso! Vamos tentar abrir logo essa caixa. Henrique desafiou.

Enquanto Eduardo se ocupa em segurar a parte debaixo da caixa, os dois irmãos se ocupam em puxar a tampa. Utilizam toda força que possuem, e então, a caixa se abre:

- Está vazia! Disse Henrique surpreso, sendo o primeiro a olhar o interior da caixa.
- Tanto esforço para nada! Irritado, comentou Eduardo.
- Vocês sabem o motivo de mamãe e papai terem uma caixa dessas tão bonita, vazia, em cima do armário? Perguntou Isabel.
- É óbvio que não. Os meninos responderam.
- Queria que ela visse isso. A menina disse suspirando.
- Tá louca! Esbravejou Eduardo. Henrique riu.

Querendo chorar, mas se contendo, Isabel pergunta pelo pai, onde ele estaria. Imediatamente, do interior da caixa, salta intensa fumaça, e nela, a imagem que aparece é de um simpático senhor, com seu terno bem arrumado, voltando para sua casa a pé, depois de um cansativo dia de trabalho.  

Henrique então, também resolveu tentar:

- Onde está minha mãe?

A imagem que aparece é de uma jovem senhora, que como qualquer dona de casa, cuida do jantar em sua cozinha, aguardando a chegada do marido.

Eduardo, mais cético, filho de pai ateu e mãe cristã, resolve fazer um teste: 

- Onde está Deus?

Henrique e Isabel, chorando, dobram seus joelhos. Eduardo, atônito, diante de toda aquela nova cena continua de pé. Numa mistura de luzes e sons, as crianças acompanham em silêncio a criação de novas estrelas, novas galáxias, novos universos. Feitos por um homem que brilhava muito, de tal maneira que era difícil de olhar para o seu rosto. Mas não para suas mãos. Cada uma tinha uma profunda cicatriz. Henrique e Isabel se lembraram da história contada por seus pais, e reconheceram que ele é Jesus, e entendem que ele sempre está criando. A cena desaparece, e as crianças tentam entender o que fora tudo aquilo. Eduardo está sério. Mudo.

- Fala alguma coisa Eduardo! Implicou Henrique.
- Falar o que? Disse Eduardo assustado.
- O que você acha disso tudo? Henrique perguntou.
- Papai falou que isso são coisas da nossa imaginação. Nós somos crianças lembra? Argumentou Eduardo.
- Como não acreditar naquilo em que você mesmo viu? Henrique contra-argumentou.
- Não sei, só não acredito. Eduardo finaliza, encerrando a questão sem uma conclusão.

E as crianças então voltaram a correr pela casa.  

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Carta ao Mestre


Segue abaixo a Carta escrita por Albert Camus endereçada ao seu professor segundário, logo quando recebeu a notícia de ser o ganhador do prêmio nobel de literatura de 1957:



19 de novembro de 1957

Caro Monsieur Germain,

Deixei que passasse um pouco o movimento que me envolveu todos esses dias antes de vir falar-lhe de coração aberto. Acaba de me ser feita uma grande honra que não busquei, nem solicitei. Mas quando eu soube da novidade, meu primeiro pensamento, depois de minha mãe, foi para você. Sem você, sem essa mão afetuosa que você estendeu ao menino pobre que eu era, sem seu ensino, sem seu exemplo, nada disso teria acontecido. Eu não faço questão dessa espécie de honra. Mas essa é ao menos uma ocasião para dizer-lhe o que você foi e é sempre para mim, e para assegurar-lhe que os seus esforços, o seu trabalho e o coração generoso que você coloca em tudo o que faz, sempre de maneira viva com relação a um de seus pequenos discípulos que, não obstante a idade, não cessou jamais de ser seu aluno reconhecido. Eu o abraço com todas as minhas forças.

Albert Camus.  

domingo, 6 de fevereiro de 2011

“Eu venci o mundo”

Jo. 16.33

“Eu venci o mundo”.
Jesus venceu o mundo e não apenas parte dele.
Quão vergonhosa seria a vitória, se Cristo, o mesmo que ressuscitou dos mortos, o mesmo que afirmou ter todo o poder no céu e na terra, se limitasse a dizer: “Vencido está o sinédrio e os principais do templo de Jerusalém” ou então “ Vencido está César e o seu império”. Não, não se trata de vencer o sinédrio e os principais do templo, não se trata de vencer o imperador e o seu império. A glória de Cristo está em vencer justamente quem entre os homens é maior que o imperador e o império, maior que os sacerdotes e o sinédrio, maior que qualquer tirano e seu exército. A glória de Cristo está em justamente em vencer o que nenhum homem, por mais forte, sábio ou rico que seja pode vencer. A glória de Cristo está em ser ele, o único vencedor da morte.

Cristo venceu, e venceu por intermédio de uma cruz. Venceu perdendo tudo, pois, que maior bem um homem pode ter nesse mundo do que sua própria vida? Quem nasce, ganha de graça o que não tinha e quem morre, perde de graça o que lutou a vida inteira para conquistar. Quem nasce ganha tudo, quem morre perde tudo, mas quem volta à vida depois de morrer, recebe tudo novamente, e nem mesmo a morte pode lhe roubar o que conquistou. É para sempre.

Jesus venceu o mundo. Ele não diz: “Venci a morte”. Curioso, pois ele afirma vencer o mundo vencendo a morte. Para Jesus, o mundo e a morte são a mesma coisa. A equivalência está no termo grego empregado no texto para mundo (cosmos), cujo sentido é justamente de uma espécie de ordem, de estrutura, de sistema. Jesus venceu o mundo, isto é, uma estrutura de promoção à morte que subjuga todo homem e mulher. Jesus venceu. Nós não. Somente por intermédio de Cristo vencemos o mundo. Sozinhos não podemos absolutamente nada. Cristo nos convida a vencermos com ele. Aceitar esse convite é confiar em seu sacrifício. É deixar de se preocupar. É ânimo para a alma. É tê-lo vivo dentro de nós.