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domingo, 9 de outubro de 2011

A Mulher Adúltera


Jo. 8.1-11.

 Deixar-se vencer pelo amor, não resistir a ele. Não o amor transitório de paixões, fundado em benefício próprio e satisfação pessoal, fruto secreto de uma profunda carência emotiva que impulsiona desesperadamente a lançar-se diante de braços estranhos, indiferentes, mas sim, o amor que vai ao encontro do outro, lhe reconhece, lhe identifica diante de Deus, amor que identifica criador e criatura. Que promove um encontro. E assim foi entre Jesus e uma mulher apanhada em adultério.

 Tal relato se encontra precisamente entre dois grandes discursos de Jesus: um sobre sua pessoa (Jo. 7.10-53) e outro sobre sua missão (Jo. 8.12- 59). Jesus participa da festa dos tabernáculos, uma festa cerimonial judaica de uma semana cujo fim era lembrar ao povo o tempo em que seus ancestrais ainda viviam em tendas quando peregrinavam no deserto depois do êxodo. Nessa festa Jesus discursa sobre sua identidade. Contudo, inserido neste discurso estão severas críticas ao modo de administração da lei feita pelos sacerdotes, assim como, o modo como interpretam a lei e os procedimentos utilizados sobre ela para exercerem qualquer tipo de julgamento, dentre eles, sobre quem era Jesus. Isso é interpretado pelos escribas e fariseus como um tipo de provocação, procurando por isso a todo custo, matá-lo.

 Terminada a festa Jesus resolve passar a noite no monte das oliveiras em oração. Antes do nascer do sol se dirige ao templo e começa a ensinar. É exatamente nesse momento de cansaço físico e mental que os principais da sinagoga lhe resolvem testar – uma clara resposta ao discurso de Jesus feito um dia antes. Baseados nas afirmações de Jesus sobre como interpretam a lei, trazem em sua presença uma mulher apanhada em adultério. Alheia a tais embates entre Jesus e os principais da Sinagoga, ela é simplesmente usada como um meio para condenar Jesus à morte. Morrendo Jesus ela também morreria. Entretanto, conseguindo livrar-se da armadilha, a mulher também seria preservada com vida. Ironicamente a vida dela estava nas mãos de Jesus, não dos seus algozes. Nesses momentos de tensão, onde Deus, incompreendido, parece ser um tirano cruel, onde não conseguimos enxergar tão longe a fim de compreender seus desígnos, Isaías nos ensina que quando nossa cegueira espiritual (que pode ou não ser oriunda de um pecado) nos impede de enxergar o mesmo que Deus, devemos apenas estender as mãos e deixar-nos guiar por ele (Is.45. 1-5).

E, pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato adulterando, e na lei nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu pois que dizes?. Isto diziam eles, tentando-o, para que tivessem de que o acusar ... (vv.5-6).  

 Por um momento Jesus se calou. Escrevia na terra. Depois de uma pausa, Cristo responde a provocação com a já clássica afirmação:

 ... Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela (v.7).

 Todos são iguais à mulher adúltera. Condená-la seria reconhecer em si mesmo a necessidade de punição, e por isso mesmo, de morte. Todos se retiram, maculados pelos seus próprios pecados e consciências, e por isso, continuam pecadores, condenados pela justiça de Deus, mortos. Estão conformados com as suas vidas. Só a mulher permanece com Jesus. E por isso ela é perdoada. Um pecador quando diante de Cristo possui apenas a escolha de renunciar a Cristo ou os seus pecados. Por isso a recomendação de Jesus à mulher: Vai-te, e não peques mais (v.11).

Como julgar uma pessoa livre? Nem mesmo Cristo Julga. Martin Heidegger certa vez escreveu que apenas nos definimos quando morremos. É por essa razão que o julgamento de Jesus é escatológico, onde separará bodes de ovelhas. Para o Judaísmo do primeiro século a lei definia moralmente os indivíduos em bons ou maus, em santos e pecadores, em salvos e condenados. Com a corrupção da lei feita pelos sacerdotes, a lei somente poderia ter uma aplicação válida quando administrada pelo seu próprio autor: Cristo julga! E perdoa. Renuncia a lei? Apenas ensina a sua função: humanizar o homem, isto é, coloca-lo diante de seu criador.

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