Capítulo I
Uma mesa de necrópse.
Um homem deitado nela.
Era alto, muito branco, aparentando uns trinta anos, de cabelos vermelhos como o ferro e o corpo coberto de tatuagens.
Essa é a história:
Quando criança, pequeno e franzino, uma das poucas diversões que tinha, consistia em importunar o gato que havia em casa. Inocente, o carregava comigo, tendo minhas duas mãos presas em seu pescoço, ou então, o puxava pelo rabo, percorrendo a sala junto com outros brinquedos. Quase sempre sozinho. Não, não se tratava de uma criança perversa, mas sim de alguém que ainda estava aprendendo a descobrir a vida.
Tombei no chão. Ao acordar, observei meu corpo, e parecia que estava dormindo. Eu estava morto. Me desesperei e confuso tentei gritar e chorar com todas as forças, como qualquer criança da minha idade faria, mas não podia. Minha alma havia sido presa no corpo de um gato.
Alguém gritou meu nome, e eu despertei. Estava de volta ao meu corpo, e o gato, bem ao meu lado, era só um cadáver estirado no chão da sala. Consegui chorar e gritar. Minha mãe se aproximou e me abraçou. Nunca mais fui o mesmo. Essa experiência involuntária se tornou freqüente, e com o tempo aprendi a controlar. Certa vez, na escola, troquei de corpo com um colega de classe a fim de colar na prova. Ao retornar ao meu corpo, percebi que ele não acordava. A professora o chamou, alguns alunos também, mas era tarde demais. Como o meu gato, ele também havia morrido. Até então nunca mais tentei realizar tal experiência novamente, até descobrir que poderia tirar melhores vantagens disso.
Agora estou no corpo de uma velha de noventa anos e se eu não voltar ao meu corpo de origem, dentro de pouco tempo eu posso morrer para sempre. O grande problema é justamente o de saber quanto tempo é esse.
Merda!
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