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sábado, 19 de janeiro de 2013

Cristianismo e Cristandades



Embora assuste a muita gente, o cristianismo nunca pretendeu ascensão social. Sempre se aproximou das párias, dos iletrados, infratores, pecadores, injustiçados e perseguidos. Sempre esteve ao lado deles. E por isso, em sua história, foi considerado um movimento sem expressão. Com a helenização do mundo antigo, isso tornou-se evidente: a fé na ressurreição de um judeu não se tratava de um discurso válido num mundo cada vez mais racional. O cristianismo não se tratava na defesa de uma ideologia. Sem expressão social o discurso cristão tratava-se de um discurso sem credibilidade, portanto, ignorado, contraditado, ridicularizado, esquecido, perseguido, pois reagia violentamente contra a noção cultural que o mundo antigo tinha de verdade e bondade. Reagia contra aquilo que o mundo antigo entendia como as coisas são ou deveriam ser. Não se preocupem com isso. Esse mundo antigo, de tão antigo, continua se repetindo. Pensem bem: você também não acreditaria se alguém pregasse a ressurreição de um Deus, que ao invés de Jesus, tivesse outro nome. É o mais racional a se fazer. Acontece que o cristianismo não se trata de uma doutrina filosófica ou teoria bem construída sobre Deus. O cristianismo trata-se de uma experiência com esse Deus.

Por outro lado, oposto ao cristianismo está a cristandade, que consiste no cristianismo descaracterizado por interesses políticos e econômicos. Ele está interessado em ascensão social, e para isso, ocupa o lugar dos poderosos, faz amizade com políticos e assume um discurso de moralidade. O discurso promovido pela cristandade, tendo em vista os interesses das massas, é capaz de sujeitar até os poderes do Estado, ou então o seu oposto, de deixar-se submeter aos interesses do Estado. A cristandade assume o discurso da racionalidade, que não é universal, mas localizada no tempo, e com ela, nasce a teologia, a escolástica, a retórica, e sua proposta em sistematizar o cristianismo e torná-lo culturalmente tolerável. Com o tempo, uma nova racionalidade contesta a outra, e de tolerável, a cristandade se aproxima hoje, com a racionalidade científica, de um novo absurdo. Mas confundiram a cristandade com o cristianismo, sendo assim, o absurdo que é a cristandade, tornou-se a chave hermenêutica para se interpretar o absurdum que é o cristianismo. Não espere respeito de um mundo laico. Ele não terá pena de você. O cristianismo não assume o discurso da moralidade ou da racionalidade, mas sim da paixão. E alguns cristãos, tentando ainda algo que os convença a permanecerem de alguma forma justificável em sua fé, enlouquecerão.  

Um comentário:

Luis disse...

Rapaz, isso é uma resumo completo, muito bem construído, sobre essa apostasia generalizada e cultural.
Aparou bem as bordas. Mas ficou tão bem explicado, que dá até medo avançar pelo caminho estreito.