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quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Quinto Capítulo de " Absinto"



Uma lembrança:

Espalhou-se a notícia que assassinatos em série estariam comovendo toda a cristandade: eram todos pregadores famosos, donos de vários programas de TV e rádio no Brasil e no resto do mundo. A princípio, acreditou-se tratar de algum ateu furioso evocando justiça contra o comércio religioso movido ás custas do trabalho duro de pessoas simples, sem instrução, que se deixam levar por promessas de curas milagrosas ou enriquecimento fácil, feitas por líderes carismáticos, porém, maldosos. Depois, com a mesma justificativa, pensou tratar-se de de algum fanático religioso, que de tão radical, decidiu por conta própria, extinguir da igreja esses criminosos, se utilizando até mesmo da violência. Uma inconsistência para muitos cristãos, pois ele não saberia estar cometendo um crime também? Afinal,  o joio anda com o trigo, e a violência é inadmissível nos evangelhos. Mas o caso continuou sem qualquer solução definitiva e a cristandade perplexa. 
Pastores começaram a andar armados, e a contratarem seguranças.Outros, preferiram abdicar do sermão público, limitando-se ás mídias. Mesmo assim não paravam de morrer. Houve protestos: alguns, apoiavam as mortes como um castigo de Deus por conta de grandes pecados, outros, outros a censuravam, como um ataque do diabo, mas a maioria ficava sem uma uma opinião definitiva. Falecidos, eram idolatrados por seus sucessores, nascendo a mitificação entre o povo. 

Os enterros, sempre longos, cheios de pompa e luxo, atraíam multidões. Um deles, num estádio de futebol, o defunto é posto num caixão de mármore e ouro, com um helicóptero derramando pétalas de rosa sobre ele. Um longo discurso é feito pelo novo bispo. Por fim, o caixão, alçado aos céus, ficará na sede mundial da igreja para visitação restrita, mediante uma oferta. 

Sim, era eu quem o substituía. 

A tensão consistia em saber de que eu poderia ser o próximo. De que a qualquer momento a morte chegaria sem qualquer aviso. De que para o povo eu morreria mártir. Mas o que me interessa o que acha o povo, quando o que se está em jogo é uma morte de verdade! A minha.


Estão matando nossos profetas!

Estão exterminando os homens que não dobraram seus joelhos a Baal.

- Cala a boca mulher! Alguém gritou.

O corpo sumiu.

Com a notícia, uma mulher desmaiou.

Alguns diziam se tratar de um milagre, outros porém, de uma brincadeira de muito mau gosto. Outros ainda, afirmaram se tratar de uma conspiração a fim de fazer o canalha do pastor se passar por um homem bom depois de morto, se é que de fato ele esteja morto de verdade ou apenas em fuga para algum lugar desse planeta onde consiga se passar por anônimo. Talvez o Irã ou a Coréia do Norte. Eu queria mesmo manda-lo para o inferno, mas se for para o Afeganistão ou a faixa de gaza já está de bom tamanho.

O fato é que alguém estava pretendendo encenar uma possível ressurreição. E alguns homens bem intencionados do povo começaram a acreditar nisso.

- Isso prova a santidade desse homem! Alguém da multidão gritou.

- Mas onde está o bendito corpo? Outro questionou.

Realmente o corpo sumiu. E ninguém sabia sequer onde começar a procurar, nem mesmo a polícia.



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