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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A Vida é uma Causa Perdida?


Chega a hora em que até mesmo o mais fervoroso defensor da ortodoxia cristã secretamente se pergunta em seu coração: “Deus realmente existe?”. Duvidar faz bem. Nossos maiores teólogos possuem biografias marcadas por muitas dúvidas atormentadoras. A dúvida alimentou o legado de cada um deles, e tenho a absoluta certeza que mesmo no leito de morte, deixaram esse mundo com outras tantas interrogações que jamais saberemos. Por outro lado, as respostas que possuíam, mesmo que provisórias, eram fruto dessas interrogações. Sendo assim, teologia nem sempre precisa ser encarada com algo ruim. 

Deus existe? Foi o mundo projetado por uma inteligência superior? Ao nos fazer essa pergunta a vida parece ser cada vez mais absurda e contraditória. Entretanto, se há algo que mereça ser levado a sério nessa questão consiste em saber se Deus é ou não um produto cultural, originário de povos nômades e seminômades do deserto, como também, o real motivo para se cultuar esse Deus. Tudo o mais é secundário e até mesmo desnecessário discutir, tendo em vista o fato de que por via de regra, religiões são, seguramente, um produto cultural. 

Há bons ateus, que apenas estão sendo honestos consigo mesmos ao afirmarem não possuírem fé alguma. Entretanto, alguns deles, como muitos cristãos fundamentalistas, costumam ler a bíblia como lêem os jornais: literalmente, como se a bíblia fosse um livro de história, quando se trata de uma interpretação teológica (de intervenção divina) sobre a história. Ateus dessa espécie são apenas o ranço social gerado entre a crise de uma hermenêutica (ortodoxa - literal) e o nascimento de outra (liberal- metafórica). Ateus e cristãos dessa espécie lêem a bíblia a partir da cultura em que estão situados, o que constitui uma agressão ao texto. É preciso ler o texto a partir do meio cultural que o gerou, sem essa perspectiva, Deus não pode se inserir em nossa cultura, pois sempre será visto como um monstro intolerante que terá adoradores da mesma espécie.
Se há alguma diferença entre Deus e religião (rito, liturgia, e etc), é que esta última é plenamente compreendida como um produto cultural, e por isso transitório, enquanto que a primeira corre o risco de não o ser completamente. 

É preciso se compreender porque se busca esse Deus. Talvez, a iniciativa mais honesta para essa busca seja uma certeza e consolo para a insegurança da morte. Podemos definir a vida como boa ou ruim se a comprarmos com a vida de outras pessoas, todavia, se nossa referência se torna a própria morte, nossa forma de avaliar se torna diferente. A vida se torna um valor fundamental. Pobres querem viver tanto quanto ricos, mesmo que continuem pobres. 

É a vida uma causa perdida? Como costuma indagar aos seus convidados Antônio Abujamra em seu programa “Provocações”. Se for, tudo é uma causa perdida, inclusive o humor, a ironia, a crítica a que muitos bons ateus se propõe a realizar não apenas contra os abusos das instituições religiosas, como das próprias injustiças sociais. Se a vida é uma causa perdida apenas nos resta a apatia. É nesse sentido que acredito que a fé em Deus (ou sua descrença) pode ser algo útil para ateus e cristãos, pois se torna um instrumento de ânimo contra um vida que parece perdida.

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