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sábado, 12 de maio de 2012

Mensagem à Cristandade Nº 02


“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia. Assim, também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade.” Mt 23:27-28

Para Jesus, religiosos são como os templos que eles mesmos constroem: são tumbas luxuosamente construídas para se prestar homenagem a um defunto. São inertes como pedras e qualquer objeto inanimado, mesmo que julgados como sagrados. Os que se justificam defensores do evangelho, hoje, constituem-se seus maiores opositores. É impossível não se deixar afetar: a grandiosidade das catedrais, toda a pompa e rigor do cerimonialismo religioso em contraste com a pobreza espiritual das massas, acorrentadas a uma autoridade instituída artificialmente. Não é por acaso que Jesus vincula religião à morte e seus partidários a tumbas bem elaboradas: a beleza exterior, que tanto inspira e comove, apenas dissimula o que em seu interior constitui nossa miséria. Não seria essa a situação da cristandade, à medida em que tornam seus templos maiores e mais luxuosos, interiormente decompõem-se em devoção sentimentalista, oposta a vida?

A religião dos fariseus consistia numa exigência por beleza e perfeição. A beleza constitui expressão de perfeição, e por isso, do divino, que é perfeito. A religião deveria expressar essa perfeição: na arquitetura do templo, na liturgia do culto, na pureza dos rituais e por fim, na observação da lei moral, pública e particular. Deus é perfeito, sua palavra é perfeita e exige de nós a perfeição. Contudo, a lei, enquanto expressão máxima da perfeição não pode julgar intenções. Sua limitação é a objetividade, no julgamento das ações humanas. Conseqüentemente, boas ações nem sempre eram motivadas por boas intenções. A religião torna-se refém do que é útil e vantajoso. Isso é bem judaico: a lei enquanto limitada a objetividade se limita a pensar o homem objetivamente, enquanto ser finito e temporal. A religião judaica, enquanto seu segmento mais ortodoxo (mosaísmo saduceu) restringia-se a ser uma religião para esta vida, que ao invés de uma vida eterna, prometia uma vida longa, próspera e de paz. 

Os fariseus no entanto, influenciados pela tradição profética, pensam na vida eterna e na importância da intenção para a religião, contudo, na prática, não conseguem ir além de uma religião pragmática e excludente. Homens assim não têm alma. Daí Jesus compará-los a sepulcros: interiormente estão mortos pelo moralismo, enquanto exigência de perfeição. Não seria essa a situação da cristandade? 

A hipocrisia religiosa consiste no esforço humano em tentar esconder-se de Deus sob a proteção do moralismo (que é bem diferente de moralidade). Inevitavelmente, diante de Deus estamos todos nus, e isso não há como evitar. E diante de toda fraqueza, a única solução proposta pelo evangelho é o amor, o perdão que nos permite, modificados, seguir em frente. A perfeição não perdoa, exige. A perfeição de Deus não pode perdoar, apenas exigir. Mas Jesus Cristo é o rosto de um Deus sem beleza. Que ao invés de exigir, é exigido, e por isso, nu diante do homem, é condenado a cruz. Em Jesus Cristo o homem não pode esconder-se, não pode exigir perfeição a fim de mascarar sua realidade interior.


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