“Ai
de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que sois semelhantes aos
sepulcros caiados, que por fora parecem formosos, mas interiormente estão
cheios de ossos de mortos e de toda imundícia. Assim, também vós exteriormente
pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de
iniqüidade.” Mt 23:27-28
Para
Jesus, religiosos são como os templos que eles mesmos constroem: são tumbas
luxuosamente construídas para se prestar homenagem a um defunto. São inertes
como pedras e qualquer objeto inanimado, mesmo que julgados como sagrados. Os
que se justificam defensores do evangelho, hoje, constituem-se seus maiores
opositores. É impossível não se deixar afetar: a grandiosidade das catedrais,
toda a pompa e rigor do cerimonialismo religioso em contraste com a pobreza
espiritual das massas, acorrentadas a uma autoridade instituída
artificialmente. Não é por acaso que Jesus vincula religião à morte e seus
partidários a tumbas bem elaboradas: a beleza exterior, que tanto inspira e
comove, apenas dissimula o que em seu interior constitui nossa miséria. Não seria essa a situação da cristandade, à medida em que
tornam seus templos maiores e mais luxuosos, interiormente decompõem-se em
devoção sentimentalista, oposta a vida?
A
religião dos fariseus consistia numa exigência por beleza e perfeição. A beleza
constitui expressão de perfeição, e por isso, do divino, que é perfeito. A
religião deveria expressar essa perfeição: na arquitetura do templo, na
liturgia do culto, na pureza dos rituais e por fim, na observação da lei moral,
pública e particular. Deus é perfeito, sua palavra é perfeita e exige de nós a
perfeição. Contudo, a lei, enquanto expressão máxima da perfeição não pode
julgar intenções. Sua limitação é a objetividade, no julgamento das ações
humanas. Conseqüentemente, boas ações nem sempre eram motivadas por boas
intenções. A religião torna-se refém do que é útil e vantajoso. Isso é bem
judaico: a lei enquanto limitada a objetividade se limita a pensar o homem
objetivamente, enquanto ser finito e temporal. A religião judaica, enquanto seu
segmento mais ortodoxo (mosaísmo saduceu) restringia-se a ser uma religião para
esta vida, que ao invés de uma vida eterna, prometia uma vida longa, próspera e
de paz.
Os
fariseus no entanto, influenciados pela tradição profética, pensam na vida eterna
e na importância da intenção para a religião, contudo, na prática, não
conseguem ir além de uma religião pragmática e excludente. Homens assim não têm
alma. Daí Jesus compará-los a sepulcros: interiormente estão mortos pelo
moralismo, enquanto exigência de perfeição. Não seria essa a situação da
cristandade?
A
hipocrisia religiosa consiste no esforço humano em tentar esconder-se de Deus sob
a proteção do moralismo (que é bem diferente de moralidade). Inevitavelmente, diante
de Deus estamos todos nus, e isso não há como evitar. E diante de toda fraqueza,
a única solução proposta pelo evangelho é o amor, o perdão que nos permite, modificados,
seguir em frente. A perfeição não perdoa, exige. A perfeição de Deus não pode perdoar,
apenas exigir. Mas Jesus Cristo é o rosto de um Deus sem beleza. Que ao invés de
exigir, é exigido, e por isso, nu diante do homem, é condenado a cruz. Em Jesus
Cristo o homem não pode esconder-se, não pode exigir perfeição a fim de mascarar
sua realidade interior.
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