Passado algum tempo, Deus pôs Abraão à prova, dizendo-lhe: "Abraão! " Ele respondeu: "Eis-me aqui".
Então disse Deus: "Tome seu filho, seu único filho, Isaque, a quem você ama, e vá para a região de Moriá. Sacrifique-o ali como holocausto num dos montes que lhe indicarei".
Gênesis 22:1-2
Diferente
dos gregos, Abraão não é um filósofo. Não aprendeu lógica ou retórica.
Diferente dos homens do nosso tempo, ele não é um homem de ciência. Não estudou
física, matemática e não teve qualquer noção de biologia ou química. Longe do
passado, cujo domínio era exercido pela filosofia, o pensamento sistemático,
bem planejado e ordenado, assim como também, longe do futuro, cujo domínio
exercido pelas ciências e seu método rigoroso de reprodução em laboratório das
leis da natureza, Abraão consiste num tipo de homem singular: sem passado ou
futuro, o presente é o seu tempo. O presente é o tempo que não o situa em tempo
algum. Ele está na eternidade, e é pela eternidade que ele será engrandecido.
Kierkegaard se propõe a dissertar sobre quem Abraão é, está tão longe do
discurso filosófico e do método científico, que para uma e outra, no mínimo ele
seria objeto de riso, a não ser por um fato: ele leva o seu único filho ao
monte Moriah para sacrificá-lo ao seu
Deus. Nesse momento, seja entre filósofos e cientistas, ou até mesmo, entre os
bondosos pais de família que amam seus filhos e desejam a eles o melhor que o
mundo os pode conceder, Abraão não pode ser visto com bons olhos: trata-se de
um homem sem coração que prevê no futuro possíveis rivalidades ou que no mínimo
enlouqueceu. E disso se trata todo a drama de sua história. A história de um
homem que guarda um segredo e cujo ato não pode justificar, e que será
engrandecido como pai de uma nação, para sempre, depois desse ato, pois afinal,
ele não sabia que tudo não passava de uma prova. Imagine o impacto que seria, a
ousadia de alguém que arriscaria viver como ele?!
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