Não
se pode separar o ofício intelectual de um exercício de transgressão. Mas não
uma transgressão gratuita. Produzir conhecimento é muito diferente de apenas reproduzi-lo.
É nisto que reside uma pontual distância entre intelectuais e os que julgam
sê-lo. Em sua maioria, grandes pensadores nunca foram capazes de reproduzir
conhecimento de maneira satisfatória. Limitam-se a aprender e a adaptar o que
aprendem até que tenham diante de si algo novo e inusitado. Inserem-se nesta
regra nossos atuais estudantes de teologia. Um bom aluno necessariamente não se
tornará um bom professor, quanto mais um bom intelectual, isto em qualquer
área.
Formar
um teólogo é despertar-lhe o senso crítico aos fenômenos religiosos do nosso
tempo, sendo assim, jamais será capaz reproduzir plenamente qualquer tipo de
conhecimento, mas fazer dialogar os saberes a fim de se levantar qualquer juízo.
Por outro lado, formar um pastor ou clérigo religioso, consiste em adestrá-lo à
reprodução de um modelo de espiritualidade comunitária institucionalizada já
preexistente e por muitas vezes descontextualizado. Um futuro pastor poderá
facilmente ser um bom aluno de teologia, um teólogo, por outro lado, jamais se
deixará adequar às ortodoxias institucionais vigentes. Não se trata de
capricho, mas vocação.
Há quem diga que o púlpito não se adequa a intelectuais, por outro lado, há quem diga também que é no púlpito o verdadeiro lugar da intelectualidade cristã, a fim de promover a formação de uma nova geração de cristãos que contestem e por isso mesmo pensem e amadureçam. Isto não significar estar isento a riscos, mas assumir a responsabilidade pela própria espiritualidade. O exercício pastoral ao firmar-se sobre o primado da segurança das ovelhas, e por isso, da autoridade do pastor, privou essas mesmas ovelhas da liberdade e por isso do amadurecimento, esquecendo que é preciso tratar seres humanos como seres humanos, com nossos desvios de caráter e de temperamento, com nossos conflitos interiores e contradições, conforme nos ensinou o próprio Jesus.
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