Historicamente os cristãos constituíram uma minoria. Um grupo
irrelevante dentro do Império Romano. Acredito que hoje continuam sendo. Mas
porque os cristãos constituíam uma minoria? Porque não se interessavam pelo
poder político. Ignoravam o culto aos deuses protetores das cidades, ignoravam
os imperadores, ignoravam as leis que buscavam inseri-los dentro da pólis
romana como cidadãos. Algo considerado muito estranho na época. O mais estranho é que depois
de Constantino, ao invés de fugir do poder, os cristãos passaram a amá-lo.
Temem o que a ausência de representação pública lhes custou no passado:
perseguição e morte! Dentro do poder, de minoria, os cristãos passaram a ser a
grande maioria. De perseguidos a perseguidores. Sim, trata-se de uma vingança
histórica. Em nenhum momento planejada pelo seu fundador. O cristianismo
politizado é inconciliável com a proposta de amor incondicional, desapego e
humildade. Não é cristianismo, porque o cristianismo de verdade, esse sim,
continua sendo de uma minoria. Devo lembrar aos cristãos que o conceito
cristão de pecado não possui valor jurídico, científico e até mesmo mesmo
moral. Sendo assim, pecado não é o mesmo que um crime, uma violação das leis da
natureza ou de imoralidade. Quem define o crime é a lei, quem define as leis da
natureza é a ciência e o que é moral é definido pela cultura. Inegavelmente não
vivemos numa cultura judaico-cristã, sendo assim, o conceito de pecado não pode
definir o que é imoral na cultura. As leis jurídicas assim como as demais ciências
(principalmente as da natureza e exatas) desprezam qualquer valor objetivo das
religiões, sendo assim, pecado não poder ser o mesmo que crime ou um
comportamento não-natural. Pecado é um conceito judaico-cristão que não
possui nenhuma relação com política, mas sim, conforme salientou Kierkegaard,
com nossa consciência de se estar a sós diante de Deus: algo pessoal,
intransferível, e que determina a conduta pessoal, os valores pessoais, não
coletivos.
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