“A
opção de Javé por locais elevados não é infundada, porque, na condição de
guerreiro, ele desce dos montes para combater os inimigos. Seu templo, conforme
demonstra Levenson (seguindo Ezequiel, de modo particular), é espiritualmente
idêntico ao luxuoso Jardim do Éden, onde ele se aprazia em caminhar na tarde fresca. Quando Adão e Eva são expulsos do paraíso
(para que não se tornem deuses), o jardim continua a existir, guardado por um
querubim. Por conseqüência, a destruição do templo de Javé foi também a
obliteração do paraíso, que jamais voltaria a existir, a não ser que o templo
fosse reconstruído. Mas se a própria Bíblia substitui o templo, então, o livro
também substitui o paraíso, noção que talvez explique por que Ekiba insistia,
com tamanha paixão, que o Cântico dos Cânticos, que é de Salomão, deveria ser canônico. Incapacitado de caminhar no Éden ou de se
regalar no Templo, Javé reside na Bíblia hebraica. Ali se sente tão confortável
que pode prescindir o terceiro templo, a menos que atualmente (conforme a mim
parece, embora não aos que ainda crêem na Aliança) que ele tenha se exilado até
mesmo no deleite daquelas páginas”.
Harold
Bloom em Jesus e Javé: os nomes divinos.
Editora Objetiva. pp. 148.
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