Devaneios literários de um teólogo sobre o ritmo das Metrópoles; seu mundo e sua gente. E é claro, sobre eternidade...
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sábado, 10 de dezembro de 2011
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
Quem é Você?
- Quem é você? Pergunta
o rapaz à linda mulher que acabou de conhecer na balada.
- Eu? Eu sou a morte.
Os dois sorriem juntos
e se beijam. Pouco tempo depois estão na cama. Transam e em algumas horas ele
está morto.
- Quem é você? Pergunta
o viciado ao traficante que lhe oferece mais uma dose do seu vício.
- Eu? Eu sou a morte.
Alguns minutos, depois
de espasmos violentos no chão, seu coração pára e ele também está morto.
- Quem é você? Pergunta
o moribundo, que com os olhos em lágrimas, vê passar diante dos olhos todos os seus pecados, presente a chegada do seu fim
eminente. Ao seu lado, um desconhecido com quem resolve compartilhar seus
últimos desejos, e confessar-lhe seus maiores segredos.
- Eu? Eu sou a morte.
- Prazer. Eu sou Jesus.
O desconhecido responde. O doente sorri.
Mas a morte, depois daqueles
dias, demorou a aparecer novamente.
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
Nova Reforma Protestante?
... e não
vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa
mente, para que proveis qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Romanos 12:2
Romanos 12:2
Ecclesia reformata, semper
reformata.
O
crescimento numérico de igrejas, ministros e fiéis nos alegram muito mais do
que a luta de homens de boa índole (alguns nem mesmo cristãos) contra as
injustiças sociais. Nos tornamos muito mais evangélicos e cada vez menos
protestantes. Por outro lado, em ocasiões como o dia da reforma , é abundante
os textos que evidenciam essa decadência. O problema consiste em saber como
tornar possível uma nova reforma, pois a velha já ficou presa no passado, quando
é evidente para todos nós essa necessidade. Uma reforma que conteste a
exploração econômica da fé, que priorize os mais necessitados e nos ensine de
maneira concreta a amar mais. Dogmatizamos o legado de Lutero e ao invés de
continuarmos sua obra, que antes de ser dele, é do Espírito Santo,
transformamos essa obra numa data festiva quando efetivamente hoje, há muito
pouco para se comemorar. Regredimos. Me
entristece saber que o protestantismo histórico se tornou, ao longo dos
séculos, mais um movimento conformista e conservador. E não é por acaso que historicamente
a reforma e o Haloween compartilham a mesma data. O que presencio hoje é uma
cena de horror.
Sola
fides, Sola Scriptura, Sola gratia, Solus Christs, Soli Deo glória.
Aos
que estão em Cristo.
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
O Grande Prêmio
Sonhei
uma noite dessas.
Uma
festa num grande teatro. As mulheres, com longos vestidos de gala e jóias nos
pescoços e mãos, competiam entre si sobre quem possuía o penteado mais bizarro
para a ocasião. Os homens, de smoking e pronunciadas barrigas, entupidos de
cigarros nos bolsos, competiam de outro modo. Estavam ali por conta da
literatura.
Sobe
ao palco o mestre de cerimônias, que anuncia o prêmio:
-
Caríssimas senhoras e senhores, esta é uma noite muito especial. Que ficará
para sempre...
Força
um pouco os olhos para conseguir enxergar a continuação do pequeno discurso. E
continua:
-
Que ficará para sempre na história da cultura do nosso país. Inicio agora, a entrega do prêmio “Os Piores
Literatos de 2011”.
Mais
tarde se esclareceu que ele estava bêbado.
Na
categoria ficção ganhou um escritor que a muito tempo havia falecido e
praticamente ninguém sabia. O laureado de não-ficção fora desclassificado por
ausência. O prêmio na categoria poesia ficou com um poeta que há alguns anos
havia abandonado o ofício para fazer funk, pois o lucro era maior. Por fim, na
categoria “Autores que Ninguém Lê”, surgiu como laureado o meu nome. Fui à
frente emocionado, percebendo nitidamente na platéia o cochichar dos
convidados:
-
Quem é esse cara?
Ninguém
me conhecia.
É.
Talvez não tenha sido só um sonho. Será um presságio?
Estação Jugular, de Alan Pitz
E
se você subisse num ônibus, e soubesse, durante a viagem, que está indo para a
eternidade? Instantaneamente, sua viagem, de trivial e banal, se tornaria, ela
mesma, a mais importante da sua vida, por ser justamente a última. Sua visão
não seria mais a mesma. Como definir cores e sons de lugares desconhecidos para
a maior parte da humanidade (pelo menos, viva)? Parábolas que beiram ao
absurdo. É o que propõe Alan Pitz em seu livro “Estação Jugular” lançado este
ano pela editora multifoco.
Franz,
tentando fugir do sol, embarca numa viajem que o leva para o seu destino e
origem. O seu ponto final. É evidente no texto elementos narrativos que me cabem
comparar apenas a nomes como John Bunyan (autor de “O Peregrino”) e Frans Kafla
(autor de “O Processo”), pela temática utilizada e a ênfase alegórica presente
no livro. Alan consegue explorar esses elementos de uma forma nova,
contextualizada e elegante.
A
vida é uma viagem, e a morte também. Todos nós nascemos como peregrinos, como
pródigos, regressamos à casa de onde partimos. Para alguns, essa viagem pode
ser muito longa, e para outros, curta demais, entretanto, ela não deixa de ser
uma aventura fascinante, onde descobrimos onde a estrada está nos levando e que
o caminho que estamos indo é apenas um espelho de quem somos. É só olhar para
os próprios pés.
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
A Vida é uma Causa Perdida?
Chega a hora em que até
mesmo o mais fervoroso defensor da ortodoxia cristã secretamente se pergunta em
seu coração: “Deus realmente existe?”. Duvidar faz bem. Nossos maiores teólogos
possuem biografias marcadas por muitas dúvidas atormentadoras. A dúvida
alimentou o legado de cada um deles, e tenho a absoluta certeza que mesmo no
leito de morte, deixaram esse mundo com outras tantas interrogações que jamais
saberemos. Por outro lado, as respostas que possuíam, mesmo que provisórias,
eram fruto dessas interrogações. Sendo assim, teologia nem sempre precisa ser
encarada com algo ruim.
Deus existe? Foi o
mundo projetado por uma inteligência superior? Ao nos fazer essa pergunta a
vida parece ser cada vez mais absurda e contraditória. Entretanto, se há algo
que mereça ser levado a sério nessa questão consiste em saber se Deus é ou não
um produto cultural, originário de povos nômades e seminômades do deserto, como
também, o real motivo para se cultuar esse Deus. Tudo o mais é secundário e até
mesmo desnecessário discutir, tendo em vista o fato de que por via de regra,
religiões são, seguramente, um produto cultural.
Há bons ateus, que
apenas estão sendo honestos consigo mesmos ao afirmarem não possuírem fé
alguma. Entretanto, alguns deles, como muitos cristãos fundamentalistas,
costumam ler a bíblia como lêem os jornais: literalmente, como se a bíblia
fosse um livro de história, quando se trata de uma interpretação teológica (de
intervenção divina) sobre a história. Ateus dessa espécie são apenas o ranço
social gerado entre a crise de uma hermenêutica (ortodoxa - literal) e o
nascimento de outra (liberal- metafórica). Ateus e cristãos dessa espécie lêem
a bíblia a partir da cultura em que estão situados, o que constitui uma
agressão ao texto. É preciso ler o texto a partir do meio cultural que o gerou,
sem essa perspectiva, Deus não pode se inserir em nossa cultura, pois sempre
será visto como um monstro intolerante que terá adoradores da mesma espécie.
Se há alguma diferença
entre Deus e religião (rito, liturgia, e etc), é que esta última é plenamente
compreendida como um produto cultural, e por isso transitório, enquanto que a
primeira corre o risco de não o ser completamente.
É preciso se
compreender porque se busca esse Deus. Talvez, a iniciativa mais honesta para
essa busca seja uma certeza e consolo para a insegurança da morte. Podemos
definir a vida como boa ou ruim se a comprarmos com a vida de outras pessoas,
todavia, se nossa referência se torna a própria morte, nossa forma de avaliar
se torna diferente. A vida se torna um valor fundamental. Pobres querem viver
tanto quanto ricos, mesmo que continuem pobres.
É a vida uma causa
perdida? Como costuma indagar aos seus convidados Antônio Abujamra em seu
programa “Provocações”. Se for, tudo é uma causa perdida, inclusive o humor, a
ironia, a crítica a que muitos bons ateus se propõe a realizar não apenas
contra os abusos das instituições religiosas, como das próprias injustiças
sociais. Se a vida é uma causa perdida apenas nos resta a apatia. É nesse
sentido que acredito que a fé em Deus (ou sua descrença) pode ser algo útil para
ateus e cristãos, pois se torna um instrumento de ânimo contra um vida que
parece perdida.
domingo, 23 de outubro de 2011
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
"Jesus te Ama?"
“amai-vos
uns aos outros como eu vos amei.” (Jo 15, 12).
“Jesus te ama”
Será?
Talvez este seja o tipo de propaganda que o
salvador do mundo se recusaria a ter. Nela, ele é implicitamente
responsabilizado por todo o amor do mundo, e do mesmo modo, culpado por todas
as manifestações humanas de desafeto e ódio.
Com esse discurso metafísico sobre o amor, nós cristãos, tornamos as
pessoas mais descrentes nesse amor, mais descrentes em Jesus. A grande tarefa
do evangelho consiste em nos tornar responsáveis para amar. E onde há amor, há
o exemplo de Cristo. Há o próprio Deus que é amor. “Eu te amo”. Isso basta pra mim, e creio que para o próprio Cristo
também.
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
Os Intelectuais e o Púlpito: o exercício pastoral e a formação teológica vigente
Não
se pode separar o ofício intelectual de um exercício de transgressão. Mas não
uma transgressão gratuita. Produzir conhecimento é muito diferente de apenas reproduzi-lo.
É nisto que reside uma pontual distância entre intelectuais e os que julgam
sê-lo. Em sua maioria, grandes pensadores nunca foram capazes de reproduzir
conhecimento de maneira satisfatória. Limitam-se a aprender e a adaptar o que
aprendem até que tenham diante de si algo novo e inusitado. Inserem-se nesta
regra nossos atuais estudantes de teologia. Um bom aluno necessariamente não se
tornará um bom professor, quanto mais um bom intelectual, isto em qualquer
área.
Formar
um teólogo é despertar-lhe o senso crítico aos fenômenos religiosos do nosso
tempo, sendo assim, jamais será capaz reproduzir plenamente qualquer tipo de
conhecimento, mas fazer dialogar os saberes a fim de se levantar qualquer juízo.
Por outro lado, formar um pastor ou clérigo religioso, consiste em adestrá-lo à
reprodução de um modelo de espiritualidade comunitária institucionalizada já
preexistente e por muitas vezes descontextualizado. Um futuro pastor poderá
facilmente ser um bom aluno de teologia, um teólogo, por outro lado, jamais se
deixará adequar às ortodoxias institucionais vigentes. Não se trata de
capricho, mas vocação.
Há quem diga que o púlpito não se adequa a intelectuais, por outro lado, há quem diga também que é no púlpito o verdadeiro lugar da intelectualidade cristã, a fim de promover a formação de uma nova geração de cristãos que contestem e por isso mesmo pensem e amadureçam. Isto não significar estar isento a riscos, mas assumir a responsabilidade pela própria espiritualidade. O exercício pastoral ao firmar-se sobre o primado da segurança das ovelhas, e por isso, da autoridade do pastor, privou essas mesmas ovelhas da liberdade e por isso do amadurecimento, esquecendo que é preciso tratar seres humanos como seres humanos, com nossos desvios de caráter e de temperamento, com nossos conflitos interiores e contradições, conforme nos ensinou o próprio Jesus.
domingo, 9 de outubro de 2011
A Mulher Adúltera
†Jo. 8.1-11.
Deixar-se vencer pelo amor, não resistir a
ele. Não o amor transitório de paixões, fundado em benefício próprio e satisfação
pessoal, fruto secreto de uma profunda carência emotiva que impulsiona
desesperadamente a lançar-se diante de braços estranhos, indiferentes, mas sim,
o amor que vai ao encontro do outro, lhe reconhece, lhe identifica diante de
Deus, amor que identifica criador e criatura. Que promove um encontro. E assim
foi entre Jesus e uma mulher apanhada em adultério.
Tal relato se encontra precisamente entre dois
grandes discursos de Jesus: um sobre sua pessoa (Jo. 7.10-53) e outro sobre sua
missão (Jo. 8.12- 59). Jesus participa da festa dos tabernáculos, uma festa
cerimonial judaica de uma semana cujo fim era lembrar ao povo o tempo em que
seus ancestrais ainda viviam em tendas quando peregrinavam no deserto depois do
êxodo. Nessa festa Jesus discursa sobre sua identidade. Contudo, inserido neste
discurso estão severas críticas ao modo de administração da lei feita pelos
sacerdotes, assim como, o modo como interpretam a lei e os procedimentos
utilizados sobre ela para exercerem qualquer tipo de julgamento, dentre eles,
sobre quem era Jesus. Isso é interpretado pelos escribas e fariseus como um
tipo de provocação, procurando por isso a todo custo, matá-lo.
Terminada a festa Jesus resolve passar a noite
no monte das oliveiras em
oração. Antes do nascer do sol se dirige ao templo e começa a
ensinar. É exatamente nesse momento de cansaço físico e mental que os
principais da sinagoga lhe resolvem testar – uma clara resposta ao discurso de
Jesus feito um dia antes. Baseados nas afirmações de Jesus sobre como interpretam
a lei, trazem em sua presença uma mulher apanhada em adultério. Alheia
a tais embates entre Jesus e os principais da Sinagoga, ela é simplesmente
usada como um meio para condenar Jesus à morte. Morrendo Jesus ela também
morreria. Entretanto, conseguindo livrar-se da armadilha, a mulher também seria
preservada com vida. Ironicamente a vida dela estava nas mãos de Jesus, não dos
seus algozes. Nesses momentos de tensão, onde Deus, incompreendido, parece ser
um tirano cruel, onde não conseguimos enxergar tão longe a fim de compreender
seus desígnos, Isaías nos ensina que quando nossa cegueira espiritual (que pode
ou não ser oriunda de um pecado) nos impede de enxergar o mesmo que Deus,
devemos apenas estender as mãos e deixar-nos guiar por ele (Is.45. 1-5).
E, pondo-a no meio, disseram-lhe:
Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato adulterando, e na lei nos
mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu pois que dizes?. Isto diziam
eles, tentando-o, para que tivessem de que o acusar ... (vv.5-6).
Por um momento Jesus se calou. Escrevia na
terra. Depois de uma pausa, Cristo responde a provocação com a já clássica
afirmação:
... Aquele que dentre vós está sem pecado seja
o primeiro que atire pedra contra ela (v.7).
Todos são iguais à mulher adúltera. Condená-la
seria reconhecer em si mesmo a necessidade de punição, e por isso mesmo, de
morte. Todos se retiram, maculados pelos seus próprios pecados e consciências,
e por isso, continuam pecadores, condenados pela justiça de Deus, mortos. Estão
conformados com as suas vidas. Só a mulher permanece com Jesus. E por isso ela
é perdoada. Um pecador quando diante de Cristo possui apenas a escolha de
renunciar a Cristo ou os seus pecados. Por isso a recomendação de Jesus à
mulher: Vai-te, e não peques mais (v.11).
Como julgar uma
pessoa livre? Nem mesmo Cristo Julga. Martin Heidegger certa vez escreveu que
apenas nos definimos quando morremos. É por essa razão que o julgamento de
Jesus é escatológico, onde separará bodes de ovelhas. Para o Judaísmo do primeiro
século a lei definia moralmente os indivíduos em bons ou maus, em santos e
pecadores, em salvos e condenados. Com a corrupção da lei feita pelos
sacerdotes, a lei somente poderia ter uma aplicação válida quando administrada
pelo seu próprio autor: Cristo julga! E perdoa. Renuncia a lei? Apenas ensina a
sua função: humanizar o homem, isto é, coloca-lo diante de seu criador.
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
Escritor de Sucesso
-
Não há grandes escritores no Brasil. Afirmou o crítico literário da Albânia.
-
Não há grandes críticos literários na Albânia. Pensei durante a palestra.
Me
contive, e comentei com o palestrante:
-
Realmente, particularmente não conheço nenhum grande escritor brasileiro, pelo
menos, vivo. Não ultrapassam um metro e setenta de altura.
Toda
a platéia sorriu.
-
Há bons escritores albaneses? Pensei novamente.
Terminada
a palestra, provocado por palavras tão ásperas do grande crítico literário albanês,
estava decidido que seria escritor, dos maiores. Mas como? Sem dinheiro ou
fama, sem reconhecimento acadêmico ou qualquer amigo do meio, sem um único
livro publicado. Sem mesmo uma boa idéia para um livro.
Escrevi
algumas crônicas. As enviei para amigos. Nenhuma resposta. Julguei tratar-se de
crônicas ruins. Reescrevi essas crônicas. As enviei novamente. E novamente,
silêncio absoluto. Criei um blog, que recebia visitas ocasionais, esporádicas,
acidentais. Divulguei mini-cursos e palestras: ninguém se mostrou interessado
nelas.
Comecei
a mentir sobre mim mesmo: divulguei palestras e cursos que nunca ministrei no
Brasil e no exterior. Forjei fotos e inventei entrevistas fictícias à órgãos fictícios
de imprensa independente do interior e de países desconhecidos como Nauru e
Grenada. Em minha imaginação megalomaníaca visitei países como Estados Unidos,
França, Alemanha e Espanha.
Inesperadamente,
recebo um convite real, para uma palestra numa universidade paulista. Congelei
de medo. Aceitei o convite. Durante vinte minutos falei sobre “Escritores
pós-modernistas no século XII”. Fui aplaudido de pé. Terminada a palestra,
pausa para fotos, almoço com editores e uma visita aos pontos turísticos da
cidade. Fui convidado para escrever um livro e prefaciar outros dois. Bons
cachês. Boas amizades.
Reconheço. Eu sou uma fraude. Desisti de escrever.
Reconheço. Eu sou uma fraude. Desisti de escrever.
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
Promoção de "Biografia Anônima"
Quer ganhar meu livro "Biografia Anônima"?
Para participar é simples:
1- Siga o blog "Diálogos"
2- Siga o meu Twitter: @Diogo_Santana_X
3- Siga o meu Facebook: https://www.facebook.com/profile.php?id=100002942455681#!/profile.php?id=100002143238494
Ás 12:00 de domingo serão sorteados dois (2) exemplares do livro.
Participe!
Para participar é simples:
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Participe!
domingo, 11 de setembro de 2011
Gênesis (Primeiro Capítulo)
Olá Caríssimos,
Segue o primeiro capítulo de um livro que estou escrevendo. Espero que gostem.
Um abraço,
Diogo.
Segue o primeiro capítulo de um livro que estou escrevendo. Espero que gostem.
Um abraço,
Diogo.
Capítulo Um
No princípio.
É equivocado
quando pretendemos dar um início às coisas. E um fim também.
Memória: o
impulso em querer contar e registrar os acontecimentos no tempo, mediante a
consciência da nossa própria finitude.
No princípio
nenhum princípio havia. Não havia coisa alguma. Mas não queira entender, nem
mesmo tente, pois nesse caso, não há coerência algumas nas respostas que virão.
Novas perguntas. Não há lógica. Transgrida a lógica. Há outras partes de você
que pensam. Não as deixe mortas, pois talvez, elas serão esquecidas para
sempre.
Imagine um mundo
onde seria impossível envelhecer e os olhos já não exigissem um belo par de
óculos. Onde não houvesse mais qualquer tipo de doença e a morte
definitivamente houvesse sido vencida. Um lugar onde contar o tempo se tornou
uma brincadeira. Onde não se fazem mais aniversários. Da mesma maneira não se
fazem mais filhos. Herdeiros seriam desnecessários. Reproduzir significaria o
caos para a economia global. Sexo só por divertimento. Onde não existem mais
casamentos. Onde não existe mais amor. Um mundo onde seria impossível morrer, a
maior diversão seria a dor. Esse lugar existe e foi criado pelos homens, só que
eles mesmos se esqueceram disso.
Luz. Uma
profunda dor nos olhos. A imagem embaçada aos poucos ganha contornos definidos.
O absurdo consiste em se estar num lugar sem se ter idéia do motivo e das
circunstâncias. Começo novamente onde tudo terminou. Entretanto, não sei dizer
o por que. Minha última lembrança consiste justamente no céu estrelado, que
pouco a pouco fora sendo tomado pela escuridão. Estava morrendo, e o pavor
diante dessa circunstância me angustiava intensamente, pois mesmo diante da
morte não há homem que não deixe de pensar no futuro. Morrer consiste pois num
salto para o futuro, todavia um salto ausente de qualquer espécie de
perspectiva, deixando assim a sensação de desamparo e insegurança, de profundo
terror.
O futuro? Não
saberia mais dizer. Até estar nele.
Há um futuro
pior do que a morte. Um futuro pior do que não ter futuro algum. O inferno será
um paraíso e os homens bons serão os mais cruéis da terra. Pior do que morrer é
nascer no mesmo e velho, e decadente mundo. Pior do que morrer é não morrer
mais.
Eterno!
O que seria
viver para sempre? Sinceramente não sei. Sinceramente, não sei se há algum
homem que saiba.
Imortalidade!
Por ironia, uma arma nas mãos de uma criança, todavia, mesmo não lhe conduzindo
ao fim, lhe devolve perpetuamente a mesma experiência de dor e sofrimento.
Saindo de um
bar, à luz do dia, um grupo de três amigos, bêbados e eufóricos me chamou a
atenção. Todos banhados de sangue por todo o corpo com um cheiro forte de
álcool. De longe, pensei se tratar de baderneiros assassinos. Mais perto pude
notar que um deles, com um dos olhos vazados, e com a boca cheia de sangue, ria
intensamente. Os outros dois, de igual modo, cheio de cortes profundos pelos
braços e pernas, também riam. Divertiam-se lançando violentamente a cabeça do
companheiro contra uma parede, deixando nela um rastro de sangue e miolos. Divertiam-se
com a dor de si mesmos. Não pude deixar de vomitar ao assistir a cena.
Em outra, cerca
de quinze pessoas, reunidas na praça à noite, festejavam sob o corpo nu de um
ser que não saberia definir o sexo. Estava coberto de sêmen e outros fluídos
corporais da pior espécie. Todos pareciam felizes, inclusive, o objeto de tal
escárnio. A festa encontrou seu ápice numa expressão de canibalismo.
Lentamente: costelas, pernas, estômago. Sendo devorados com a mulher (?) ainda
viva. Ela não morreria, mas naquele momento senti que alguma coisa dentro de
mim morreu.
Definitivamente,
embora muito parecido, eu não estava no mesmo mundo que conhecia. E de fato eu
não estava. Pensei tratar-se do inferno. Ora, mas o inferno não seria um abismo
de fogo por onde as almas agonizantes não cessariam de pedir misericórdia e
perdão pelos seus pecados?
Não há mais
terra, ar puro, plantas ou animais. Não há mais chuva ou crianças que brincam
com poças d’água e que se atrevem a jogar futebol na lama. Desconhecem a beleza
da primavera e das outras estações. Desconhecem a beleza das montanhas e do céu
matutino no verão, sendo aos poucos iluminados pelo sol. Não existe mais o sol.
Apenas um mundo feito de aço, concreto e muitos circuitos elétrico-neurais. Não
existe mais homem. Há alguma coisa no lugar dele, uma coisa que eu não sei o
que é, e tenho um profundo medo em tentar descobrir. Sentado no alto de um
prédio, e vendo a multidão sempre apressada, chorei intensamente em compreender
isso. Por aqui ninguém chora. O problema não está em mudar. O problema está em
sempre ser o mesmo.
Quando muito
jovem, andando distraído pela rua, olhando despreocupado vitrines e pessoas,
deparei-me com uma loja de produtos esotéricos, com um cartaz na porta que
dizia: “Lê-se a mão: descubra seu futuro e se prepare para ele”. Por
curiosidade resolvi entrar. Fui atendido por uma senhora idosa, muito simpática
e bem vestida. O interior da loja exalava incenso. Paguei a consulta.
Silenciosamente ela faz uma oração e pediu que eu erguesse a minha mão direita.
Enquanto olhava fixamente para minha mão, percebi que discretamente começava a
contorcer o rosto em sinal de preocupação.
- O que está
vendo? Ansioso perguntei.
- Espere um
pouco. Ela respondeu.
Por um momento
abandona minha mão e abre o tarô que está ao lado. Pede que eu embaralhe e
escolha as cartas. Ela tem um susto. Dessa vez mais evidente.
- O que a
senhora está vendo? Há algo de errado comigo? Novamente perguntei.
- Sinceramente
menino? Ela disse com um suspiro.
- Não se
preocupe, diga. Respondo tentando acalma-la.
- Eu não vejo
nada.
- Nada?
- Nada. Estou
sendo sincera com você. Não vai pedir o dinheiro de volta, vai?
- Não senhora,
reconheço a sua honestidade.
Saio da loja
interiormente contrariado e confuso. Hoje entendo o porquê.
domingo, 4 de setembro de 2011
Eu Posso Mudar o Mundo
Eu Posso mudar o mundo.
Quando pequeno me disseram que não.
Quando pequeno, me disseram para ter bom nome e emprego.
Me disseram para ter um invejável salário, e um carro.
Duas ou três esposas (contanto que uma não saiba da outra)
E uma multidão de filhos.
Que o mundo estaria satisfeito se eu apenas plantasse uma
árvore e fizesse algumas obras de caridade.
Que eu me negasse a ter inimigos.
Pois bem, o mundo não mudou e eu não mudei também.
Quanto tempo eu perdi? Uns vinte anos!
Eu posso mudar o mundo.
Posso o fazer virar do avesso.
Não me importa o bom nome, não me importa o dinheiro,
Não me importa os inimigos.
Eu quero fazer a minha história!
sábado, 20 de agosto de 2011
Venda de "Biografia Anônima"
Olá Caríssimos,
Antes mesmo do lançamento, meu livro "Biografia Anônima" já está a venda. E porde ser adquirido de uma forma bem simples. O valor do exemplar é de R$: 32,00 + R$: 5,00 (despesas de correio) = R$: 37,00. Este valor pode ser depositado na conta a baixo na Caixa Econômica Federal no nome de:
Ana Maria A. da C. Santana
Agência: 0190
Conta nº: 1300800301-3
Para adquirir outros livros entre em contato comigo pelo email : diogosantana45@yahoo.com.br.
Um abraço.
Antes mesmo do lançamento, meu livro "Biografia Anônima" já está a venda. E porde ser adquirido de uma forma bem simples. O valor do exemplar é de R$: 32,00 + R$: 5,00 (despesas de correio) = R$: 37,00. Este valor pode ser depositado na conta a baixo na Caixa Econômica Federal no nome de:
Ana Maria A. da C. Santana
Agência: 0190
Conta nº: 1300800301-3
Para adquirir outros livros entre em contato comigo pelo email : diogosantana45@yahoo.com.br.
Um abraço.
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
A Letra Mata!
- A letra mata meu filho!
Era o que dona Ana dizia ao seu filho, citando o apóstolo Paulo. Diferente dos irmãos, não brincava de bola ou rodava pião, não tomava banho de rio. Havia nascido velho. Sua única diversão consistia, depois da escola, em passar as tardes distraído em leituras que se estendiam até a hora do jantar. De família pobre e devota, um exemplar da bíblia lhe servia como único estímulo à vida tranqüila e imaginação fértil. Ao longo do tempo, os poucos livros guardados debaixo da cama foram substituídos por uma estante abarrotada pelos clássicos da literatura, da filosofia e da teologia. As horas dedicadas à leitura eram divididas à paixão pela escrita.
O menino queria ser escritor, os pais, no entanto, lhe desejavam a carreira de funcionário público. Com um bom salário e estabilidade financeira suficiente que lhe permitisse se casar depressa. O tempo passa e aos vinte e cinco anos, vivendo de sonhos e empregos modestos, não há mulher que se interesse por homens dessa espécie! Conseguiu ao custo de meses de salário guardados numa lata, publicar o seu primeiro livro. Era como seu filho.
- Vagabundo! Não vou me matar de trabalhar para sustentar um homem feito até o dia em que eu morrer. Era o que seu pai dizia!
Saiu de casa. Com uma mochila de roupas e uma mala de livros. Andando sem rumo pela cidade, e à medida que o sol baixava guarda, sabia que se tornava urgente um lugar para dormir e alguma coisa para comer. Dirigiu-se ao bar mais movimentado que encontrou, com a esperança de que se ao menos conseguisse vender um livro apenas, poderia fazer um lanche e pagar a diária num modesto hotel para solteiros. Cansado de andar, a boca seca e a sede lhe desfavoreciam a voz, já fraca, rouca e baixa. Numa situação com essa é impossível pensar com clareza, quanto mais se expressar com erudição. Retirando da mala alguns exemplares, ensaiou um sorriso forçado, respirou profundamente e se aproximou timidamente de uma das mesas, onde um senhor de cabelos grisalhos, com uma cerveja importada nas mãos, sentava-se solitário.
- Boa tarde. Estou aqui divulgando meu trabalho literário. Há algum tempo, ao custo de muito sacrifício, consegui publicar meu primeiro livro e...
Foi interrompido. Sem muito esforço, não só o pacato senhor de cabelos grisalhos como todas as outras mesas que silenciosamente observavam tal diálogo, sabiam onde queria chegar o jovem escritor.
- Interessante. Do que trata o seu livro?
- Na verdade se trata de um conjunto de crônicas. Em sua maioria sobre teologia.
- Não obrigado. Fica para uma próxima vez. Porque você não tenta divulgar o seu trabalho numa igreja ou seminário?
Entra na primeira igreja que vê aberta. Trata-se de uma antiga loja adaptada, com bancos de madeira e um púlpito muito simples, enfeitado com algumas flores artificiais. O culto ainda não começou, os féis aguardam em silêncio. O pastor chega e ao notar o inesperado visitante, se dirige a ele, o cumprimenta com um forte aperto de mão e um sorriso.
- Gostaria de falar com o senhor rapidamente.
- Pois não..
- Estou aqui divulgando meu trabalho literário. Há algum tempo, ao custo de muito sacrifício, consegui publicar meu primeiro livro e...
Novamente foi interrompido.
- Aqui o único livro que interessa é a bíblia! Teologia é coisa de homens. No entanto, vou comprar um livro seu pra ajudá-lo e divulgar ao final do culto.
Enfim, alguma esperança. Entrega ao pastor um exemplar, assiste pacientemente o culto, e no final de tudo, nenhuma palavra sobre o bendito livro.
- Desculpe meu irmão, acabei por esquecer. Teria como voltar na próxima reunião?
Ao relento pelas ruas do Rio de Janeiro, o pobre jovem escritor, se vê obrigado a pedir esmolas, sem contudo, largar da mão a preciosa mala cheia de livros. Ele enlouquece, adoece e morre. Enfim a mala é aberta, e o que se encontrou lá, corroído pelas traças e amarelado pelo tempo, surpreendeu pela beleza. Era eterno. E resolveram publicá-la, lançá-la na mídia, ganhar dinheiro com ela.
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