Querem a presidência da
república!
Fazer do Estado, igreja
e do presidente, pastor.
Nesse caso, não se
trata apenas de moralização, mas de doutrinação político-religiosa. Fez o mesmo
Constantino com o seu Império, que de uma forma ou de outra, subsiste até hoje.
Nesse caso, estão inseridas a educação religiosa nas escolas, a proibição do aborto,
a proibição da legalização da prostituição e o acesso a leis trabalhistas às
profissionais do sexo, assim como, alguns aspectos da PL 122 vinculados a
liberdade de expressão. Interesses cuja autoridade é legitimada na constituição
pela liberdade de consciência e religião. Mais ainda: na bíblia. Bem próximo
dos ideais da reforma. Próximo, mas nem tanto. A reforma protestante era
essencialmente religiosa, que por conta da união entre igreja e Estado,
tornou-se reforma política também. Contudo, com a hipotética separação entre
igreja e Estado, a bíblia não poder ser utilizada como instrumento de
legitimação política.
Acontece que por ela
mesma, particularmente o Novo Testamento, não se justificam atitudes desse tipo.
Os cristãos do primeiro século não estava interessados em mudar o status quo,
principalmente na sociedade romana. Havia uma apreensão quando ao retorno de Cristo
que tornava desnecessário qualquer mudança nas estruturas sociais. Não se tinha
tudo em comum a fim de se alterar as estruturas sociais, mas sim por uma
questão de coesão social (logo de sobrevivência) entre os excluídos. Nesse
sentido, não há nada de utópico no cristianismo.
Os cristãos se
mantinham autônomos da sociedade romana durante muito tempo. Eles evitavam a
própria inclusão, pois se negavam ao culto ao imperador e aos deuses protetores
das cidades. É por isso que os cristãos constituem em princípio uma minoria
ignorada, e posteriormente perseguida pela Império. Os cristãos ignoravam o
Império.
Seguindo o exemplo
desses cristãos, acredito que a autonomia entre os poderes – igreja e Estado -
deve ser mantida. Que o Estado legalize o aborto, a prostituição, a união civil
entre pessoas do mesmo sexo. Que os cristãos continuem a ser quem são,
ortodoxos ou não. É claro que não se pode viver em paz com isso. Cristãos
poderão ser presos por defender ideologias onde estejam inseridos valores mais
conservadores. Acredito que este seja o medo de uma parte desses cristãos, os
mais honestos, afirmo. Que a história novamente torne a se repetir. Por outro
lado, em nossa raiz cristã- americana, está o proselitismo. Inevitavelmente a
militância que torna valores pessoais em coletivos. Isto sim precisa ser
combatido.
Em resumo, não me
importo com um Estado laico. Não me importa lutar por ele, como alguns cristãos
mais liberais tentam fazer. Importa-me que o cristianismo esteja longe do jogo
político, que ele seja despolitizado. Talvez, a partir daí nos encontraremos
novamente como sua essência mais reveladora.
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