No início da minha juventude a filosofia me cativou pelo
interesse que eu tinha pela verdade. Acreditava que a filosofia acadêmica
contribuiria para uma melhor compreensão do mundo, dos homens, de mim mesmo.
Mais do que isso, me ofereceria certezas sobre isso: um grande equívoco. Se a
filosofia acadêmica fosse um instrumento de verdade, já mereceria descrédito
por ser acadêmica, elitista. Nietzsche criticou bastante isso, e ele não era um
filósofo de formação. Mas quantos filósofos de formação contestaram da mesma
maneira a prática filosófica universitária? Particularmente não conheço nenhum.
A verdade ainda é o grande mito da filosofia. A filosofia não constitui uma doutrina da
salvação do homem, ela não permite uma soteriologia. É justamente o contrário:
trata-se de uma reflexão sobre até que ponto estamos perdidos. A filosofia não é um instrumento de convencimento. A retórica
é. A filosofia não nasceu com fins argumentativos em favor do filósofo ou do
que ele defende. A filosofia não defende, ataca. Um argumento nunca é um
ataque, é uma defesa. Argumentos não constituem a essência da filosofia, mas
sim a dúvida. O filósofo consiste naquele que lança dúvidas sobre argumentos.
Contudo, assim como o mais lógico, parte do menos lógico, a dúvida parte de certezas. A
filosofia portanto, se desenvolve sobre o chão do senso comum, e em certa
medida, não pode se tornar totalmente independente dele. Sendo assim, quando um
filósofo parte de um argumento, ele não filosofa, contudo, quando questiona,
livre de argumentações dogmáticas, ele é autenticamente um filósofo. Em toda a
história da filosofia apenas um único homem consegui tal façanha: Sócrates. É
justo o título de pai da filosofia. Platão e Aristóteles, por outro lado,
partem de conceitos a fim de conferirem algum valor prático ao pensamento, o
que era impossível em Sócrates. E como Platão e Aristóteles, nós filosofamos
até hoje.
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