Se compararmos com o início das
religiões, a lógica é uma produção moderna. Nasceu formalmente com os gregos e
possui uma história de adaptações. Tornou- se ao longo desse tempo, e a através
dessas adaptações, a chave hermenêutica da modernidade e conseqüentemente do
homem tal como o conhecemos hoje. Se Deus é uma produção cultural, a lógica
também é. Inevitavelmente o homem moderno não tem como escapar de interpretar o
mundo dessa maneira. A mesma lógica que afirma a inexistência de Deus
justamente por ser uma produção da cultura. Isso invalida tanto Deus quanto a
lógica que o nega como instrumentos de verdades. Caímos no agnosticismo. Algo
muito difícil e muito mais interessante para se trabalhar em ciência da
religião é justamente tentar entender a chave hermenêutica que permeia as
sociedades religiosas onde “Deus”(independente da cultura) representava a “verdade”.
Mais interessante ainda é entender como isso se manifesta nas religiões
monoteístas. Em suma, é tentar entender o conceito “Deus” a partir de sua
própria lógica.
Nossa sociedade moderna foi
construída a partir de uma lógica que nós mesmos inventamos. Nessa lógica não
há espaço para um Deus, objetivamente falando. Sendo assim é sensato afirmar
que Deus não existe nesse mundo que criamos. Fora desse mundo, qualquer coisa
pode existir. Até Deus! Justamente porque o mundo existe antes da lógica, antes
das religiões, antes do homem. Antes do homem que apenas pode interpretar o
mundo através do próprio homem.
Muitos ateus de internet são
entediantes porque tentam comparar uma mentalidade religiosa com uma
mentalidade científica. Tentam comparar uma lógica com outra (isso se pudermos
falar numa lógica religiosa). O mundo é uma cobra que vive trocando de peles. Outros
pensadores são mais interessantes porque tentar avaliar a mentalidade religiosa
a partir delas mesmas. Dois exemplos simples: Max Weber com sua “Ética
Protestante e o Espírito do Capitalismo” e “A Essência do Cristianismo” de ludwig feuerbach.
Defender uma lógica inata (e mais ainda, que é
possível conhecer essa lógica) é defender um paradigma pelo qual se encerra o
mundo. Se uma pessoa assim é não é religiosa, acaba defendendo a atual status
quo (ou pelo menos a sua forma mais atual, por onde se predomina o direito às
liberdades e etc). Se uma pessoa assim é religiosa acaba por ter que conciliar
a idéia de um Deus (predominantemente pessoal) com um mundo cada vez mais
tecnocrata e onde às liberdades individuais são progressivamente ampliadas.
Acaba tornando-se insustentável. Deus é lógico? Acho que não(alguns defenderiam alguma lógica pra Deus, pois assim ele assumiria uma identidade definida e não cairia numa pluralidade de deidades como poderia supor alguns), mas afinal,
também não acredito em nada que seja objetivamente lógico também.
O lógico será um
defensor do status quo. De maneira que o mais lógico será aquele que mais se adéqua
aos valores culturais predominantes. O nazismo, o fascismo e o comunismo
investiram pesado em propaganda. A propaganda enquanto instrumento para a transmissão
de ideologia, forma uma massa não pensante de reprodutores, cuja intenção é
torna a ideologia cada vez mais convincente. Cada vez mais lógica.
Vivemos no melhor dos
mundos? Se não, como defendia Voltaire, não há status quo defensável. Não há
uma lógica universalmente consistente. O caso de Kant com sua “Crítica da Razão
Pura” e Hegel com sua “Fenomenologia do Espírito” expressam o espírito de uma
época, mas não a antecedem concretamente. O reconhecimento que tiveram em vida
é uma prova disso.
Contudo, o mais lógico
sempre parte do menos lógico. Enquanto os mais lógicos expressam o espírito da
época que se vive, os menos lógicos são de duas categorias: os que defendem o
espírito de uma época que já passou, superada portanto (saudosistas) e os que
defendem os espírito de uma época que ainda não veio. São, portanto, utópicos e
gênios. A genialidade se corresponde com a utopia. Desse tipo, destacam-se
Nietzsche, Shopenhauer e Kierkegaard.
Contudo, cabe ressaltar
que esses autores tornaram-se os gênios do nosso tempo. Do nosso status quo,
que se caracteriza em defender o indefensável. É lógico onde não há lógica.
Baumen deu um passo a frente em sua época (a nossa), assim como Kant e Hegel,
afirmando a “liquidez” de todos os valores e identidades. Embora importante,
não foi genial. O gênio tende a cortar o progresso de um tempo e iniciar outro.
E para isso ele não pode ser compreendido. Pelo contrário, precisa ser
contraditado e ignorado. Até ridicularizado.
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