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terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Ateísmo e Liberdade



 Particularmente compreendo o ateísmo como camuflagem de um problema moral com a própria idéia de liberdade. A maioria dos ateus compreendem a figura de um Deus pessoal como um legislador moral. Como Dostoievski, entendem que "Se Deus não existisse tudo seria permitido". Acontece que é isso que se deseja, que tudo seja enfim permitido. Sejamos honestos: gostamos da liberdade, e tendemos sempre a reduzirmos ao máximo o número de nossas obrigações morais. Para muitos ateus, Deus constitui uma série de obrigações morais desnecessárias. Esse tipo de ateísmo limita-se a simples negação da idéia de Deus. Algo que precisa ser respeitado e aceito com cordialidade. O ateísmo sartriano é um exemplo disso. Contudo, para alguns ateus não basta apenas negar pessoalmente a crença numa deidade pessoal. É preciso opor-se a ela. Isso acontece por um motivo simples: porque gostamos da liberdade, mas não gostamos de algumas de suas conseqüências. Justificamos as más conseqüências de nossa liberdade como uma prova da impossibilidade da existência de Deus. Isso significa: gostar da liberdade, contudo, sem querer assumir as suas conseqüências. Esse é o perfil típico de qualquer anti-teísta, o que compreendo como desonestidade intelectual, justamente porque Deus é concebido como uma entidade por onde se procura justificar o mal.

Ora, se Deus não existe não há nenhum bem ou nenhum mal a se justificar nele. Toda iniciativa parte do homem, e isso ninguém, dos anti-teístas, deseja assumir, pois isso implica não apenas o conhecimento, a tecnologia, as vacinas, mas também a fome, as guerras, o capitalismo excludente. Alguns ateus necessitam de Deus para culpá-lo e por isso não desejam extirpá-lo do debate público, mas apenas de um tipo de discurso considerado razoável.

Se para muitos ateus, Deus constitui um problema moral, para muitos teístas, Deus constitui um dever para com a vida. É claro que há teístas que podem compreendem isso das mais diversas formas. Por influência de Kierkegaard compreendo que esse dever para com a vida se estabelece pela paixão. O sentido da vida se estabelece ai: aquele que encontrou o seu dever no mundo, encontrou a Deus, o sentido de sua vida. E isso acontece quando se encontra o motivo pelo qual se é capaz não só de se viver, mas também de morrer. Sabemos que para isso não se tem necessidade de ser um teísta confessional, e que por isso ateus podem ter encontrado Deus sem o saberem enquanto muitos cristãos não o encontraram ainda.

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