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sábado, 15 de setembro de 2012

Mensagem à Cristandade Nº 03




É a salvação um experiência individual ou coletiva?


Sabemos que nosso conhecimento a respeito de Jesus Cristo, nos é manifesto por intermédio de outras pessoas, inseridas numa cultura específica. Por outro lado, a experiência oriunda desse conhecimento, provocando em nós uma transformação interior, é de cunho inteiramente subjetivo, pessoal, de fé. A salvação portanto, constitui um processo dialético entre o subjetivo e o objetivo, entre o público e o privado, entre conhecimento e experiência de fé. Contudo, é comum entre as teologias vigentes, definirem “salvação” ora como um processo individual, ora coletivo[i]. De um lado, teologias de origem reformada, de outro, evangelicais (puritanas).

O puritanismo parte da concepção de que não é possível salvar-se sozinho, isto é, no contexto, de que não é possível salvar-se sem o intermédio de outras pessoas. A salvação é um processo feito em comunidade de maneira que a salvação individual constitui uma conseqüência da salvação coletiva. A salvação do outro constitui portanto uma necessidade, e por isso, uma obrigação. As conseqüências são inevitáveis: proselitismo, influência religiosa na política e na mídia. Enquanto processo comunitário, no âmbito individual a salvação constitui uma transformação do caráter social. É comum portanto, tais comunidades religiosas fazerem alusão entre seus membros a ex-drogados, ex- alcólatras, ex-bandidos e etc. A necessidade de fiscalização da moral alheia torna-se portanto, uma exigência. Mas quem fiscaliza isso? Tenho a certeza de que não é o evangelho e a consciência individual do fiel. E aqui reside todo o problema.

A inibição da consciência individual, constitui a imposição de uma consciência sobre ele e por isso, a anulação de sua responsabilidade. Esse tipo de postura, além de impor uma cultura hierárquico-autoritária, inibe o fiel de uma real aproximação com o texto bíblico. Estimula sua alienação, e por isso, seu anonimato espiritual. Como bem disse Soren Kierkegaard: “E, se tua vida não foi senão desespero, que pode então importar o resto! Vitórias ou derrotas, para ti tudo está perdido, a eternidade não te dá como seu, ela não te conheceu, ou, pior ainda, identificando-te, amarra-te ao teu eu, o teu eu de desespero”. Teu eu de nada.



[i]  Sendo assim, depois da morte, não é possível ir para a eternidade imediatamente. Existiria, nesta perspectiva um tempo de espera correspondente ao fim da história, a fim de possibilitar o julgamento de todos os homens. Possui portanto, uma índole escatológica. 

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