É
a salvação um experiência individual ou coletiva?
Sabemos
que nosso conhecimento a respeito de Jesus Cristo, nos é manifesto por
intermédio de outras pessoas, inseridas numa cultura específica. Por outro
lado, a experiência oriunda desse conhecimento, provocando em nós uma
transformação interior, é de cunho inteiramente subjetivo, pessoal, de fé. A
salvação portanto, constitui um processo dialético entre o subjetivo e o
objetivo, entre o público e o privado, entre conhecimento e experiência de fé.
Contudo, é comum entre as teologias vigentes, definirem “salvação” ora como um
processo individual, ora coletivo[i]. De
um lado, teologias de origem reformada, de outro, evangelicais (puritanas).
O
puritanismo parte da concepção de que não é possível salvar-se sozinho, isto é,
no contexto, de que não é possível salvar-se sem o intermédio de outras
pessoas. A salvação é um processo feito em comunidade de maneira que a salvação
individual constitui uma conseqüência da salvação coletiva. A salvação do outro
constitui portanto uma necessidade, e por isso, uma obrigação. As conseqüências
são inevitáveis: proselitismo, influência religiosa na política e na mídia. Enquanto
processo comunitário, no âmbito individual a salvação constitui uma transformação
do caráter social. É comum portanto, tais comunidades religiosas fazerem alusão
entre seus membros a ex-drogados, ex- alcólatras, ex-bandidos e etc. A necessidade
de fiscalização da moral alheia torna-se portanto, uma exigência. Mas quem
fiscaliza isso? Tenho a certeza de que não é o evangelho e a consciência
individual do fiel. E aqui reside todo o problema.
A
inibição da consciência individual, constitui a imposição de uma consciência
sobre ele e por isso, a anulação de sua responsabilidade. Esse tipo de postura,
além de impor uma cultura hierárquico-autoritária, inibe o fiel de uma real
aproximação com o texto bíblico. Estimula sua alienação, e por isso, seu
anonimato espiritual. Como bem disse Soren Kierkegaard: “E, se tua vida não foi
senão desespero, que pode então importar o resto! Vitórias ou derrotas, para ti
tudo está perdido, a eternidade não te dá como seu, ela não te conheceu, ou,
pior ainda, identificando-te, amarra-te ao teu eu, o teu eu de desespero”. Teu
eu de nada.
[i] Sendo assim, depois da morte, não é possível
ir para a eternidade imediatamente. Existiria, nesta perspectiva um tempo de
espera correspondente ao fim da história, a fim de possibilitar o julgamento de
todos os homens. Possui portanto, uma índole escatológica.
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