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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Dois Irmãos (Capítulo Dois)

Afinal, qual é o sentido da vida?
Perguntava-se Sérgio, completamente embriagado, antes de dormir profundamente. No dia seguinte, a resseca trazia consigo a inspiração para que escrevesse poemas tristes. Faria aniversário daqui a uma semana, e sentia que não havia nada para comemorar. Sem família e amigos. Sem nenhum amor. Estava sozinho. Recebe uma carta de um grupo de poesia que não escreve a muito tempo.

Dizia o texto:

“É comum no início do inverno que as flores no topo das árvores sejam as primeiras a cair. Por mais bonitas que elas sejam. Numa dessas épocas, a flor que caiu foi a de José, um simpático senhor, idoso e bem humorado, que com o seu pequeno óculos redondo e seu cavanhaque e bigodes grisalhos sabia esconder a verdadeira idade que tinha. Quando confrontado sobre a sua real idade era certa a resposta: -“acho que tenho uns 12 anos”. Era assim que se sentia.

Isadora, sua companheira fiel durante longos cinqüenta e seis anos de casamento faleceu. Despede-se dele com um enterro digno de um homem que ainda está apaixonado, como os jovens. Desencantou-se do mundo dos homens. Nos meses que se seguiram, esquecera-se de rir. Seu olhar fora invadido por uma profunda tristeza. Ele queria morrer com ela. E talvez, de fato, pelo menos em parte, com ela, ele já estivesse morto.

Apaixonou-se por uma flor. Natural, se não fosse por uma rosa – de verdade. Com pétalas e cravos. Sim, uma rosa. O julgaram louco, completamente fora de si.

- “Onde já se viu, um velho apaixonado por uma rosa?!”.

- “É a mais bela que eu já vi. Talvez seja a mais bela do mundo. Melhor: do universo”. Costumava dizer.

Contudo, sua paixão não se igualava aos demais homens e mulheres. Não se tratava de um simples desejo impulsivo, mas sim do cuidado. Seus olhos novamente brilharam. E o simples motivo para isso consistia no fato dela simplesmente existir. Intocada. Perfeita.

- “Ora, rosas não são mulheres, e nem mesmo é possível trata-las como se fossem”. Cochichavam os parentes entre si.

- “Deus me tirou uma flor, e me deu outra”. Dizia.

Mas um dia sua rosa também morreu. Indignado, perguntava-se o porquê uma linda rosa tivesse que morrer antes mesmo que um homem desgastado pela velhice.  

- Quanta injustiça!”.

Incompleto. O texto estava incompleto. Justamente sem um final. Entendeu ser esse o motivo de lhe enviarem o texto. Pensou um pouco e escreveu:

“Olhando o trabalho do jardineiro, perto de sua casa, o cuidado com as rosas e as crisálidas, a beleza de cada flor, o quanto estavam bonitas e saudáveis, o simpático senhor José, com algumas lágrimas que escorriam dos olhos, para espanto de todos, sorriu. Saltando de sua cadeira de balanço gritou:

- Há belezas que vão, mas outras que ficam, que são eternas. São elas, as boas memórias das pessoas que amamos, que se foram, e também daquelas que ainda estão entre nós. Todos nós podemos deixar algo belo no mundo. O mundo é belo apenas o quanto desejamos que ele seja. E se o mundo é feio, como argumentariam alguns, é porque não há mais saudade, saudade da beleza”.

Ao ler o que havia escrito, Sérgio também chorou, e do seu rosto também esboçou um sorriso. Enviou o texto novamente ao destinatário, encerrando-o com um simples “muito obrigado”.

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