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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Carta ao Povo Brasileiro

Quão pesadas serão as letras que vos passo a escrever! Somos consumidos por nossa miserável alegria, por nossa maldita sensualidade, nós os brasileiros, somos como qualquer prostituta por aí, apanhamos feio dos nossos opressores e continuamos a amá-los como se nada tivesse acontecido, tráfico de drogas, de armas, de órgãos, de vidas! Até onde isso vai parar? Respondo: isso não vai parar, é como um vício e sua cessação produziria crise de abstinência terrível, violenta, aliás, a violência é algo que já nos acostumamos, talvez pelo fato de ser tal costume tão próximo da nossa natureza, tudo isso prova que nós, os brasileiros, somos grandes viciados que constantemente são privados de seus vícios, daí as favelas e seus governos singulares, sua cultura, sua vida, daí as greves nos hospitais, as mortes. O brasileiro aprendeu a conviver com a morte, e mesmo assim continua sambando, jogando futebol, fazendo seus churrascos, bebendo sua cerveja, seu vinho barato, ouvindo seus pagodes, funks e axés, com uma religiosidade tão pobre e fútil, as vezes infantil, inocentes como qualquer criança, desconhecem os perigos do verdadeiro.

Convivendo com a morte o brasileiro passou a querer fugir dela (talvez nossas lágrimas aos mortos já não tenham o mesmo valor, mesmos quando tais mortos somos nós mesmos, os mortos já não podem chorar mais, nem por si mesmos), o brasileiro passou a sonhar, daí sermos o que somos, simplesmente um sonho. Nesse sonho nós não vemos a morte, estamos cegos por nossos vícios, embriagados por um vinho que só os mortos beberiam, daí a crença de que amanhã teremos mais empregos, mais saúde, mais educação, de que todo governo que entra é bom e todo governo que sai é mal. Hipócritas ! Nenhum deles é Deus, embora queiram tanto isso. Pagamos pela burrice dos governos, pagamos pela nossa própria burrice e o que sobra, pagamos para sustentar nossos malditos vícios, do nosso sonho, do costume de ir ao bar toda sexta - feira com os amigos, tendo sempre uma oferecida qualquer para aparecer e ficar ao nosso lado, com bebida e cigarros tornamo-nos preparados para qualquer coisa, desde uma guerra mundial até uma aula de epistemologia.

E depois disso tudo, ainda temos a coragem de, ouvindo os nossos cds de rock, fazermos o símbolo do deus chifrudo, criticamos os devotos e crentes que dão seus dízimos e ofertas, dizendo que enriquecem a pastores e padres com uma calma simplesmente anormal. Tendo a convicção de que somos livres, anarquistas, de somos deuses e que temos os céus a nossos pés ( que belo céu nós temos...). Onde está o brasileiro ? Este já morreu e não sabe disso, sua bandeira verde, amarela, azul e branca, desbotou-se e perdeu toda a sua cor, nossos hinos à pátria foram substituídos, juntamente com nossos atos solenes por um culto em louvor da morte, do silêncio que nela está contida , na passividade social, seríamos mais autênticos e leais a nós mesmos, ou então, podemos continuar sonhando. Mas o que mudará ? Toda esperança será inútil.

Por onde quer que olhamos, por nossas praças e ruas, vemos mendigos que pedem esmolas, garotos anônimos que vendem balas, fazem malabarismos nos sinais e na vida, enquanto que outros preferem ganhar a vida de outro modo....vemos meninas, que perdem na flor da idade o amor próprio, que se prostituem. E nós o que fazemos? Fechamos as janelas dos nossos belos carros com medo de sermos assaltados, temos medo sim, da nossa crise de abstinência forçada, mas não fazemos nada a respeito. Porque? Porque acreditamos que o governo cuidará do assunto, " lavamos nossas mãos " . Quantos de nós, só porque pagamos em dia nossos impostos e contas, acreditam que são bons cidadãos! Só porque não matamos ou roubamos, acreditamos que iremos para o céu! Ser omisso aos problemas da nação é ser condizente com todos os pecados que ela produz. Quem se salvará no mundo? O fato de que o outro rouba significa que de alguma forma fui omisso ao seu crime, logo de que também sou um ladrão. Coitado dos hipócritas! Por não matarem ou roubarem são também assassinos e ladrões.

A hipocrisia é a característica mais sádica da natureza humana, e a nossa, a do brasileiro é a mais perversa, porque é feita na maioria das vezes por inocência, por impulso, injustificável, é a nossa vivência, por isso muito mais intensa, somos alegres à toa e nossa tristeza é simplesmente motivada por uma privação, a de nós mesmos, nunca fomos tristes de verdade, muito menos alegres, simplesmente deixamos a vida passar com seus sorrisos e lágrimas. Não se percebe que cada sorriso e lágrima são singulares em si mesmos ? Queria eu dizer que nos tornamos como animais, mas nem mesmo eles são assim, sendo por demais superiores a nós, pois como diria Kierkegaard, os animais não possuem o hábito de se julgarem entre si. Somos preguiçosos, tendo o hábito de cometer as maiores atrocidades e loucuras só para sentirmos que somos gente, de fato, somos carentes de uma identidade, isso prova que nem gente somos de verdade,nosso vício, nosso sonho e nossa hipocrisia fazem isso.

Nada disso é suficiente para descrever o quanto somos baixos, aliás, é impossível nos descrever, descrevemos sim,o que somos em nossos sonhos, isso porque sonhar é fácil, assim como ser enganado por toda a ilusão que dele provêm,todavia, quanto mais é a visão que temos de nós mesmos,assim como do mundo que nos envolve,mais nos aproximamos de uma realidade maior, uma realidade que desata nossos olhos, assim como no mito platônico da caverna nos perguntamos : É isso a realidade ou estou sonhando? Embora a pergunta permaneça, só nos resta seguir em frente, e é em cada passo dado que temos a possibilidade de mudar e construir aquilo que o sonho só nos tirou,ou seja, a nossa própria identidade. E para tanto temos que romper com toda a melancolia do mundo e aniquilar de si toda a sua futilidade, ousemos ser críticos até o limite e profanos à sociedade que ainda sonha, que vive ainda em seus mitos, por mais convincentes que eles sejam, ousemos ser críticos mesmo quando a crítica nos faltar, duvidemos então de tudo.

Um forte apelo exagerado e até mesmo desnecessário à sexualidade, o costume de se festejar as futilidades e desprezar o vital, idolatria inconseqüente ao vício sem contudo abdicar ao " culto cristão" assim vivem a maioria dos homens, numa eterna contradição. A raça está impregnada de poesia, a raça está impregnada de um tipo de pathos que a leva à morte indolor, por isso estar os homens cegos diante de suas paixões. seu grande defeito é não se cansar do vício, não se cansar da morte, isso porque novos homens estão surgindo no mundo, e nos olhos de quem os vê uma esperança, novos homens surgem, contudo, não surgem com eles uma nova sociedade, eles são uma mentira,, assim como também os são aqueles que os enxergam com ternura e esperança. A máquina do mal ainda não atingiu a sua decrepitude, é uma torre de marfim que não se pode invadir por fora, mas por dentro, pela subjetividade.

" Poderia eu ser um síntese, todavia, seria demasiado fácil, sou o que está por acabar, e como tal sou só um olhar,um olhar meu mas também um olhar do outro, nisso eu sou também o outro, eu sou todos os olhares possíveis e quando me torno passivo a esses olhares que me cercam, eu me torno mundo, não um mundo meu, mas dos outros. Meu mundo é o meu olhar que tenho em relação com os outros enquanto entes, por outro lado, o meu olhar sobre mim mesmo não me faz mundo, mas ser,um ser que se manifesta quando deixa de ser o mundo dos outros, através de um rompimento, fazendo dos outros o mundo do ser, assim se manifesta de uma forma clássica a consciência, como fuga da entificação. Meu grande defeito como escritor é de não ter o mínimo de poesia naquilo que escrevo, de não tentar hermetizar numa parábola ou aforisma, algum código que meu leitor deva interpretar. Sem poesia minha filosofia é comum, sem ironia possuo o defeito de não desafiar ou até mesmo provocar o leitor, mostrando por isso toda a minha decepção com a raça, a raça dita humana e os seus olhares

Sinto grande apatia com o meu mundo, assim como com o mundo dos outros, talvez ambos não me sejam suficientes e sei que de fato não os são, por isso, acreditar nesse mundo de mentiras ( Sl. 116.11) me mataria, e minha morte não teria valor algum, além disso, sei que parte de mim, do eu decepcionado que sou é uma mentira, figura feita por esse mundo maldito, por isso, sei que meu valor não pode estar em mim ou no mundo que me rodeia,seja este mundo compreensível para mim ou não, mas fora de ambos, em Deus, e encontrando a Deus, se superar foi todo o remédio para a minha " doença mortal " , para minha decepção um tanto que desesperada.'

Ter a sensação de que se está sendo observado, não se sabe de onde, não se sabe por que, muito menos se essa sensação é real, assim como todo o seu contexto, simplesmente, através de um sentimento que os filósofos chamam de angústia, nos petrificamos e passamos a ser guiados, nos levando dessa forma entre as fronteiras da paixão e da loucura, que alguns denominam fé.Essa angústia é um sentimento que quando conhecemos sua procedência, o elemento que nos petrifica pelo fato de se estar diante dele como algo impotente, nos direciona à um relacionamento para com o mesmo. Nossas impossibilidades, por gerar impotência ante as situações que se passam em nosso interior, só nos mostra a existência de um poder maior que nos guia, no entanto, que nos pode levar a um tormento que nos dilacera a alma.

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