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sábado, 14 de abril de 2012

Pósfácio de "Fé e Anarquia"


*Texto antigo, que escrevi para o meu primeiro livro em 2006. Hoje, não carrego muitos dos sentimentos que nutria na época, contudo, esses escritos motivam um profunda saudade de quem um dia eu fui. 

A vida é uma dor... a maior de todas as dores, tão intensa que chega a deixar de doer, é só por isso que muitos homens ainda conseguem rir. Se eu fosse correspondido pelos sorrisos que dou, pelas palavras de ânimo que saem da minha boca, mesmo quando em mim não há ânimo algum, e principalmente pelo que eu sou jamais eu poderia dizer: “a vida é uma dor..." Tenho tantas dores no meu coração... Nunca cheguei a ser amado por uma mulher, eu sempre fui tímido no amor e para piorar, nunca correspondi ao sonho de beleza de nenhuma jovem, me pareço muito com o patinho feio...estou destinado a viver só...quem conseguiria resistir com as minhas dores? Quem continuaria a querer viver? Eu já não vivo... Não existe em mim qualquer ideal de felicidade, já não aspiro nada de hoje ou de amanhã, para mim só me resta a obrigação de suportar cada dia por vez...e isso é só o começo : tenho uma fama muito peculiar : eu sou o inútil, o desgraçado, a praga e etc...eu sempre estive muito próximo da escória, eu sou o enfermo e a doença.

Como é bonito ver os sorrisos das mulheres, todavia, eles me fazem chorar, porque eu sei que nenhum deles foram dados a mim.Quem ama o corpo ama a morte porque o corpo morre, quem ama o mundo ama a morte, porque o mundo morre. Como eu poderia ver então beleza no mundo? Recentemente algo quase me fez chorar: uma mulher me disse que eu dei sentido a vida dela, entretanto ela está tão longe de mim... minha relação com as mulheres é uma ironia.Sei que uma mulher não é tudo, mas inserida nesse “tudo” existe ums mulher. Se pareço muito trágico em minhas palavras, saibam que minhas palavras só demonstram o que eu vivo, e do que jamais eu posso escapar, falo de uma forma trágica porque minha existência é uma tragédia.

Perdi secretamente o gosto pelos elogios, não os suporto mais, mesmo os que são ditos verdadeiramente por um bom coração. Eu perdi a esperança em mim mesmo e não sou digno de pena, só espero não viver para sempre com meus pais. A coisa que eu mais anseio agora é a solidão, porque a solidão me quer, talvez a minha angústia aumente. Eu não sei o que me espera daqui a dez minutos, sendo assim, o que seriam dez minutos? Dez minutos seriam nada... O que será da minha vida daqui a dez anos? Eu nada sei sobre a minha vida... eu só sei que ela é um nada. O que há então para comemorar? Absolutamente nada,  porque nada é a vida que vocês comemoram hoje...

Sou grato a muitos amigos, meu aniversário de dezenove anos demonstrou que sou querido por aqueles que na ocasião nem me conheciam direito, todavia, o difícil é achar alguém que chore comigo... parte dessa ausência é culpa minha. Com quem eu já chorei? Eu mereço chorar sozinho. Não acredito mais nos castigos de Deus: a idéia de castigo sempre esteve em mim vinculada ao conceito de se sofrer uma pena sendo inocente; só Jesus foi castigado, eu por outro lado sou sempre o culpado. Toda a alegria de mais uma primavera amanhã vai passar, tudo retornará ao normal, tudo será para mim, triste como antes. Me censurem os teólogos e todos os que e consideram cristãos. Quem é capaz de censurar as lamentações de Jeremias? Quem é capaz de censurar as lamentações de Jó (Jó 30)? Quem é capaz de censurar as lágrimas angustiantes do cristo no monte das oliveiras? Quem é capaz de censurar-lhe o seu “... Eloi, Eloi, lama sabactâni?”? Se eu choro e lamento quem é capaz de me censurar? Não espero compreensão, só Deus é capaz de me compreender, um Deus que eu e nem ninguém pode ver. Me aproximo então da loucura. Quem poderia  justificar o ato de Abraão em sacrificar o seu próprio filho Isaque, para um Deus que ele não via? Ninguém podia justificar Abraão a não ser o próprio Deus, um Deus que nem o próprio Abraão via. Quanta loucura em Abraão! Uma loucura do tamanho da sua fé.

Não sei o que me espera amanhã, mas que o amanhã seja algo que me espere que eu possa alcançar, e se eu não puder alcançar, que minha mensagem tenha o poder de fazê-lo por mim, mas também para todo aquele que se sente como eu. As pessoas me observam e eu odeio isso, algumas para ter razões para me censurar, me chamar de pecador, de condenado ao inferno, outros para me admirar. Quantas mães já me quiseram apresentar para suas filhas! Quantas mães já me tornaram um modelo ideal para seus filhos! Cheguei à conclusão de que eu não sou nem um santo nem um pecador, eu sou ambos, eu sou um paradoxo. Como você me vê? Não há alternativa para essa pergunta: eu não posso ser definido, só Deus me define, mas quem já viu o Deus? Definir-me pertence a Deus e a mim, a mais ninguém. Diante de Deus todos os homens estão sós, e eu também, só o que me resta nessa vida é a solidão, não só a mim, mas a todos os homens.

O que me resta? Sou um nada que é só, um nada que é só nada, e assim eu sou eu mesmo. Não posso escapar de ser a mim mesmo, não posso escapar de condenar toda a futilidade do mundo e das pessoas reduzidas às coisas.Aos olhos do mundo Deus me fez cair sozinho, para que aos olhos do mundo eu pudesse sozinho me levantar. Deus me fez cair, como seu vaso eu fui novamente reduzido a nada, para que do nada Deus pudesse me levantar. Eu não sou uma coisa, eu não sou um objeto, mas muitos me querem assim, e se eu faço objeção a isso, tenho a facilidade de magoar. Prefiro então me isolar em mim mesmo. Quem é Diogo? A língua latina me diz que sou inteligente, gentil e educado, mas também me diz que é um dos nomes medievais atribuídos ao diabo. Os gregos com seu didaticus dizem que sou didático, dado ao ensino. A gentileza, a educação e a inteligência também podem servir como instrumento de manipulação do mal através do ensino, o mal manipula através do que o manipulado acredita como bom. A bondade jamais manipula, ela é liberdade, por isso é sempre considerada pelo manipulado como uma coisa ruim. A dor que eu sinto diante da vida nada mais é do que o sintoma da minha própria metamorfose, do demônio que Deus quer reabilitar a anjo de luz. Os demônios do inferno não sentem essa dor da vida, por isso eles jamais podem ser por Deus reabilitados. A metamorfose é uma dor necessária a todo homem, e se é necessária, que os homens me deixem com a minha dor. 
           
A vida é uma dor... mas a dor redime e nos transforma em algo mais duro, impenetrável. Não sou nenhum sádico ou masoquista em dizer isso: se a vida é uma dor e a dor redime, a vida é em ultima instância redenção. Eu vivo e na minha vida eu sofro e me redimo, eu sou redimido enquanto vivo a minha dor. Só Deus me define, só Deus me justifica, só Deus me redime. Deus me redime pela dor, uma dor que é minha e que permanece em mim, permanece porque nela Deus visa em mim algo maior, ser aquilo que nasci para ser, para qual Deus determinou e que ainda não cheguei a ser. Alcançar a redenção é superar a dor, é alcançar aquilo que comumente se entende por felicidade, mas se a vida é uma dor, a felicidade noutro modo não está na vida, ou no que se entende vulgarmente como tal, a felicidade está na superação da vida. Não entendo o termo superação como um “estar além”, estar além da vida significa uma meta da vida. Superação da vida é uma super - ação, é uma plenitude de vida e plenitude não está no viver aqui e agora, pois o aqui e o agora é só vida, é dor, a plenitude está em sempre viver, sem aqui e sem agora, a plenitude da vida é uma vida eterna, a plenitude da vida é a eternidade, e a eternidade é a redenção, é a felicidade, liberdade do julgo escravizador do tempo.

As palavras eloqüentes permanecem vazias para aqueles que não as entendem, todavia, não há um homem sequer que não possa compreender que a vida é uma dor, e que por isso também possa compreender que sua redenção está nessa dor, superando assim a vida, na eternidade. Enquanto vivo a vida do aqui e agora com meus fúteis vinte anos, olho para frente e anseio ardentemente a eternidade, e isso, enquanto vivo, já é uma nova dor. Cristo com sua morte e ressurreição, com seu sangue sua dor me ofereceu a eternidade, e para recebê-la aceitei um compromisso: tenho que compartilhar com cristo o meu sangue e a minha dor também, eu tenho que aprender a compartilhar uma cruz, os cravos, as lágrimas, só para depois aprender a compartilhar o pão. É necessário sentirmos as dores do mundo para que possamos cuidar dele melhor. Essa é a vida que eu quero e se ainda não a tenho ainda, que minha dor permaneça até que eu alcance a redenção em Cristo Jesus.      .

“Já estou crucificado, todavia, ainda não chegou o meu momento de render o espírito, agonizo então na minha cruz...”... porque o amor é forte como a morte.." Já dizia Salomão nos seus cânticos à filha de Faraó, só é capaz de amar aquele que é capaz de morrer, Deus só nos ama porque morreu por nós, e a intensidade do seu amor está no tipo de morte que sofreu...o amor está na dor e a intensidade do mesmo está no tipo de morte que se sofre...Deus me fez morrer para poder amar de uma forma que eu mesmo não conhecia, Deus me fez morrer para amar até a morte...Amar até a morte significa amar em todas as circunstâncias, mesmo quando não se é amado...eu já estou morto, entretanto, Deus requer de mim amor. Amar é um desafio mortal, se estou pronto para tanto eu não sei, só o que me cabe em toda a minha solidão e dor diante do mundo e da vida é diante de Deus dizer : " eis -me aqui..."

Toda a minha indignação contra a minha própria existência, suscitava em meu interior questões que eu mesmo não podia responder: Porque eu sofro assim? Porque tudo aquilo que durante anos eu planejei e construí para mim se desmorona assim tão fácil em segundos? Quando mais ninguém podia me dar uma resposta, Deus assim o fez, no silêncio: “No princípio criou Deus os céus e a terra." Assim nos diz o gênesis. Eu nada crio, só Deus cria, porque só se pode criar do nada. Deus cria do nada, e eu me pergunto: O que eu me tornei? Tornei-me absolutamente nada... É a partir desse nada que Deus resolve criar, do nada que sou eu, mas eu nem sempre fui um nada, eu tive sonhos, projetos para mim mesmo, todos ao longo do tempo foram destruídos, e sei que o foram pelo próprio Deus, a fim de que pelo nada que sou, Deus se manifeste como o meu criador. “... Eis que faço novas todas às coisas..." Assim diz o senhor Jesus no apocalipse, tudo isso me ensinou que todo grande fim é o sinal de um novo começo, e que toda destruição é sempre a construção de uma coisa nova, e é isso o que eu sou.

“Era uma vez um patinho feio...”. O que me chama a atenção nessa pequena história infantil é que ela já começa com um equívoco do seu narrador, equívoco que no fim acaba sendo corrigido por ele: o patinho feio não era um patinho, mas um filhote de cisne, coisa que o narrador somente irá revelar no final da história. O equívoco está quando o narrador começa a história dizendo: “Era uma vez um patinho feio...”. Isso significa que o narrador conta a história à medida que participa dela, o narrador está inserido na história vivendo-a. Tudo gira um torno do patinho feio, todavia, nós que já conhecemos o final da história sabemos que o patinho não é patinho, é por isso que ele era feio, a feiúra está em ser visto como algo que não se é. Ver o filhote de cisne, sem saber que é cisne é julgá-lo como sendo a aberração de qualquer outra coisa, menos ele mesmo, ou seja, o feio de qualquer outra coisa, menos de cisne. O patinho era tanto um patinho quanto feio por que era visto como tal, além disso, o próprio patinho se via como feio e como patinho, daí o seu sofrimento diante das rejeições que era vítima, pois para que ele fosse aceito pelo grupo, ele tinha que ser tanto um patinho quanto bonito, como sempre o Eros é o vínculo. O patinho desconhecia quem de fato ele era, assim como desconhecia também todos aqueles que o observavam, sendo assim, não havia por parte do patinho, referência alguma para se interpor ao julgamento dos outros, logo, somente lhe cabia aceitar e acreditar que era um patinho e que era feio.

Tal como o patinho da história, me vejo sem referência alguma sobre mim mesmo, ficando a mercê do julgamento dos outros, da forma como os outros me vêem, e sei que sou visto por eles como um patinho feio. A única coisa que tal julgamento do mundo me diz para mim mesmo é que eu não sou um patinho e muito menos feio, eu ainda não sei o que eu sou, mas sei que qualquer julgamento sobre mim é falso, seja ele a favor ou contra. O que eu sou ainda está para ser manifestado pelo tempo, tal como o patinho no final da história que se revela um cisne, o único problema é que na vida real o final da vida social é sempre a morte. A minha morte revelará quem eu sou. Sendo assim, o silêncio seria o melhor, porque o silêncio nega qualquer valor, mesmo aqueles que causaram profunda alegria no meu coração. Passei a ter medo da alegria, da espontaneidade, já que minhas tristezas são as que mais estão próximas de mim, eu já me acostumei as lágrimas, os meus sorrisos me parecem desconfiados, como se algo de muito ruim estivesse sempre me espreitando, a fim de me surpreender na minha alegria, sem que eu esteja preparado. Minhas tristezas me preparam para o mal me dando seriedade suficiente sobre todas as coisas, e nessa seriedade eu sou sozinho. A solidão é a condição do homem que trata a sua existência no mundo com a mais profunda seriedade, isso porque nenhum homem, pelo menos a maioria que conheci, nunca costuma tratar a sua existência com seriedade suficiente para ser só, se preocupando sempre em casar, ter filhos, um bom emprego, enfim, estar na sociedade da melhor maneira possível, assim o homem se perde entre os outros, se tornando uma coisa qualquer, sem nome na multidão de outros tantos como ele, em suma, ele deixa de existir. Vejo a solidão como o primeiro passo para a existência, pois nela o homem não pode fugir de si mesmo, não foi fácil para mim aprender isso, todavia, o importante é que aprendi, o que me coloca um pouco acima da história do patinho feio, pois ele ainda acreditava naquilo que os outros diziam sobre ele, eu porém, perdi a confiança nos outros, e isso me fez compreender coisas em mim que eu nem sequer pensava que estavam lá, dentro do meu ser, na minha própria existência que é só.

A solidão que atinge a profetas e anjos esconde um segredo: Todo anjo é um profeta e todo profeta é só. Mas porque isso? Pensemos nas mulheres: elas são o maior exemplo de solidão em determinadas circunstâncias. A revolução feminista trouxe uma grande autonomia  para a mulher diante do regime machista e patriarcal a que estavam inseridas. A mulher se tornou livre para trabalhar, estudar, ter ou não ter filhos, e por fim, as mulheres ficaram livres de nós homens, pensem nas conseqüências dessa liberdade: as mulheres que conseguiram se emancipar dos homens e que conseguiram revolucionar a sociedade nessa emancipação, se tornaram mulheres muito sozinhas na época patriarcal em que viviam. Que homem iria querer uma mulher como essa em casa? Que homem gostaria de ser desafiado pela “fragilidade feminina”? Todas as grandes sindicalistas, grevistas e ativistas políticas eram mulheres sozinhas, isso me levou a conclusão de que uma mulher casada jamais pode vir a ser uma feminista. Feminismo não é para mulher casada, mas sim para a mulher que trata a sua existência com seriedade, logo, que é sozinha. Pensemos também nos homens: todos os grandes intelectuais, cientistas, filósofos e grandes revolucionários políticos, eram pessoas sozinhas, e da mesma maneira como nas mulheres, a revolução estava com eles. Machismo não é para homem casado, mas sim, para um homem que trata a sua existência com seriedade, logo, que é sozinho. A solidão do profeta é a grande responsável pelos grandes acontecimentos de ordem social no mundo, o que precisamos saber é em por que nome o profeta profetiza. O mundo muda cada vez mais rápido à medida que as pessoas se tornam cada vez mais sozinhas. A solidão me dá o poder da revolução, a solidão que Deus me dá e que por ela me faz profetizar, todavia, somente pode revolucionar aquele que ainda não se acostumou com o destino de ser só, aquele que se angustia com o seu destino de revolucionar.

A angústia manifesta em mima seriedade que eu preciso ter diante da minha própria existência, isso porque requer uma escolha: requer que eu permaneça como patinho feio que sou ou que assuma em mim o desconhecido, algo que ainda serei que nega o patinho e o feio que dele é oriundo, me tornando um mistério. Em mim essa angústia tem estreitas relações com o amor, digo o amor a uma mulher: sempre estou as voltas entre o amor e a solidão, não sei até quando e quanto eu posso suportar. O amor é o veneno da solidão. Mas quem pode suportar a solidão? Quem pode suportar não amar? O amor é a solidão que não se pode suportar, sendo assim, para o filósofo ele é um grande dano. Somente o que me cabe é a solidão. Amando, cheguei a deixar de pensar, de escrever, e de ser eu mesmo com a intensidade de antes, uma mulher nega em mim toda a intensidade do que eu sou, o amor a uma mulher falsifica uma parte de mim para tornar a outra parte verdadeira, todavia, somente percebo isso quando não tenho o meu amor correspondido. Para o filósofo a mulher amada é como vinho ou como qualquer bebida forte que inebria, que engana, as outras mulheres são simplesmente mulheres, e como tais, são mais sinceras que o vinho da mulher amada, a mulher amada é a causa de toda a sonolência que me rodeava, por outro lado a minha fé é toda a minha insônia, ela não me deixa dormir, Deus não me deixa dormir.

Descobri em mim a razão de muitos sentimentos que em meu interior estavam timidamente ocultos, escondidos: a minha aversão a crianças se deve ao fato de ter muito pouco de infantil em mim, o que me favorece um inteiro comprometimento com os homens do presente, não do futuro. As vezes acho que o fato de se ter um filho seja cômico para os próprios pais, quantas críticas eu já ouvi contra a juventude, nos acusando de sermos utópicos, sonhadores que sonham um futuro cheio de felicidades e oportunidades, pois bem, o troco contra essa argumento está no nascimento de uma criança: os pais transferem para seus filhos a responsabilidade que outrora era deles de serem úteis para Deus no mundo. E isso não é ser utópico também? A fantasia não somente permeia a juventude que sonha para frente, mas também os mais velhos, que quando não são como os jovens, sonham para trás, como se o passado dessas vítimas de si mesmos fosse o resquício de uma hospedagem no paraíso durante alguns dias. Ter um filhos nos dias de hoje é abster-se do compromisso de enfrentar as mazelas da contemporaneidade, transferindo tal responsabilidade para seus filhos, que por fim estes, a sua maneira não farão coisa alguma pelo mundo onde estão inseridos. Ter um filhos hoje é tanto uma crueldade para com a criança, como também para o mundo, porque é transferida implicitamente para a inocência de uma criança uma responsabilidade que nem mesmo seus pais tiveram. Um filho somente dever ser feito a partir do momento em que um homem inicia a sua caminhada para a morte, e nem sempre nessas circunstâncias, o melhor hoje é não faze-lo porque o mundo também está morrendo. O instinto maternal é no mundo contemporâneo mais um ato de crueldade do que de amor, a mulher hoje que segue o seu instinto maternal (não que o instinto seja ruim, mas que este tenha se tornado ruim) se torna muito próxima da Pandora grega. A cura para a crueldade do materno está no próprio filho , que sendo inocente de toda essa tirania do maternal que se corrompe, deve se entregar à solidão e nessa solidão ele se responsabiliza com o presente. A minha solidão me dá um compromisso com o presente.

Minhas conclusões podem me favorecer muitos opositores, eu já estou acostumado com isso. Eu sou inimigo do mundo, isso não significa que eu sou inimigo das pessoas, mas sim, das culturas onde elas estão inseridas. Não há uma cultura que seja verdadeira, somente o indivíduo pode se relacionar com a verdade, e ele somente pode se relacionar com a verdade quando rompe com toda a cultura que o envolve. Somente serei levado a sério pelos meus críticos, somente serei considerado cristão por todo aquele que me odeia. Posso parecer cínico, hipócrita e contra a instituição familiar, não o sou, sou apenas contra uma instituição familiar deficiente que um ou mais integrantes desse tipo de círculo é inibido de sua identidade e até mesmo de sua relação com Deus por meio de uma pseudo-hierarquia dentro da família. A minha família me dá portas para entrar e pedras para tombar e cair. Eu sou contra a cultura que me cerca, porque eu sei que para ela eu sempre serei um patinho feio, esse foi todo o meu impulso para o existencialismo, sempre percebi em mim, desde pequeno, uma grande distância com tudo o que me cerca, com o mundo ao meu redor. Sempre fui tímido nas minhas relações sociais, e foi exatamente por causa dessa timidez que desde cedo fui alvo de muitos olhares para aqueles que me consideravam um mistério, motivo de riso e chacota para aqueles que me consideravam ultrapassado e um grande conspirador para aqueles que achavam que por trás da minha aparência, estaria algo maior, pronto para surpreender os outros. A verdade é que a minha timidez me faz, para todo aquele que me observa, ser uma grande incógnita, algo indefinido que não se sabe se é bom ou mal, por isso, um grande paradoxo. A sociedade não gosta de paradoxos pois estes podem destruí-la ou fortalece-la, eu escolhi destruir para fortalecer. A sociedade gosta de conceitos, de bom e mal, de certo e errado, eu às vezes estou acima disso tudo.

Eu sempre estive num combate permanente com o mundo que me rodeia, todavia, não sei explicar o porquê ainda estou de pé, o motivo pelo qual ainda não me deixei vencer, é um paradoxo que eu mesmo não consigo compreender, e não me interessa compreender. Um dia eu verei toda a raça se dobrar diante de Cristo e nesse dia eu irei chorar porque eu também me dobrarei. 

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