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domingo, 12 de fevereiro de 2012

Citação - "Do Primeiro Degrau" - Liev Tolstói


“... o principal interesse das pessoas de nossa época é a satisfação do paladar, o prazer da comida, da gula. Das classes sociais mais pobres às mais ricas, a gula, penso eu, é o objetivo principal, é o principal prazer da nossa vida. O povo pobre trabalhador constitui uma exceção, mas apenas no sentido de que a miséria o impede de se entregar a essa paixão. Quando ele tem tempo e meios para isso, à maneira das classes altas, compra o mais gostoso e o mais doce, come e bebe o quanto pode. Quanto mais come, mais ele se sente não só feliz, mas também forte e saudável. E as pessoas instruídas, que vêem o alimento precisamente dessa forma, apóiam-no em tal convicção. A classe instruída imagina (embora se esforce para ocultá-lo) que a felicidade e a saúde (e disso a convencem os médicos, afirmando que o alimento mais caro, a carne, é o mais saudável) estão no alimento saboroso, nutritivo e facilmente digerível. 

Observem a vida dessas pessoas e escutem suas conversas. Parecem que só se ocupam de temas elevados: filosofia e ciência, arte e poesia, a distribuição da riqueza, o bem-estar do povo e a educação da juventude; mas tudo isso, para a imensa maioria, é uma mentira – eles se ocupam de tudo isso nas horas vagas, entre as verdadeiras ocupações, entre o café da manhã e o almoço, enquanto o estômago está cheio e não é possível comer mais. O interesse vivo e verdadeiro da maioria dos homens e das mulheres é a comida, sobretudo depois da primeira juventude. Como comer, o que comer,quando e onde?

Nenhuma solenidade, nenhuma alegria, nenhuma consagração ou abertura do que quer que seja acontece sem comida. 

Observem as pessoas que viajam. Nelas isso é especialmente evidente. “Museus, bibliotecas, parlamento... que interessante! Mas onde vamos almoçar? Quem oferece a melhor comida?” Mas vejam só as pessoas,como elas se reúnem para o almoço, arrumadas, perfumadas, a uma mesa enfeitada com flores, com que alegria esfregam as mãos e sorriem”

 (Liev Tolstói, Os Últimos Dias, pp.38-39).

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