O amor é uma exigência
divina, contudo, o tratam como exigência humana.
É preciso partir de uma
experiência concreta de que o amor, esse espírito de abnegação e cuidado, nos
ofereça uma resposta às misérias humanas.
Nossa primeira experiência nesse sentido se estabelece com o cuidado dos
nossos pais e queremos que essa experiência se perpetue em todas as nossas
relações. Criamos utopias para o amor e por isso ele se torna irrealizável.
Essas utopias são construídas quando estendemos nossas experiências infantis de
amparo familiar às nossas relações sociais, tendo a expectativa de amparo e
cuidado, o que inclui, até, certa disciplina. É inegável certa frustração a
essas expectativas.
O amor é uma exigência
divina.
Sem meias palavras, sou
um cristão e creio em Deus. Contudo, caso de fato ele não exista (e estou sendo
meramente especulativo nisso) acredito que Deus represente uma contestação a
autonomia de um homem completamente falido. Deus é o indicador de que o homem é
um projeto falido, daí as intervenções na natureza, os milagres, a encarnação e
ressurreição, conforme destacam a literatura bíblica. Se há um Deus que
interfere (teísmo) há um homem que é incapaz de agir por conta própria. Mas
para a linguagem científica, não há Deus algum que interfira em alguma coisa: o
homem continua livre no espaço.
Para alguns Deus não
existe por pura impossibilidade. Essa afirmação torna-se necessária para que o
homem utópico que queremos tornar-se possível. O amor é uma exigência divina, e
isto significa, mesmo que Deus não exista, que o homem é incapaz de amar. Que o
homem é um projeto falido no amor.
Mais ainda: que o amor
é impossível ao homem. Que o amor não existe por impossibilidade à natureza
humana, que é uma utopia, uma invenção, que pode ser desconstruída
historicamente e usado como instrumento de poder por séculos. Para alguns,
Deus, que é impossível, se insere nessa categoria. Deus e o amor, impossíveis? Só
podem estar num outro mundo, este também impossível.
Se é Deus que exige o
amor, e Deus é impossível, o amor torna-se impossível, e da mesma forma,
torna-se uma exigência que o homem fracasse amando. Se é o homem que exige o
amor, o amor nada implica de divino e impossível. Ele é humano e possível e o
homem deixa de ser um fracasso total e afirma sua autonomia. Acredito ser essa
uma utopia equivalente a concepção de muitos céticos de que Deus não existe.
Podemos apelar e evocar a imagem de indivíduos abnegados como Gandhi, Luther
King e Madre Tereza. Todos eles amaram o que convinham amar: os indianos, os
negros, os pobres. Isso é algo completamente possível e humano. A luta pelos
mais necessitados pode até conceder direitos, mas a concessão de direitos nunca
é uma prova de amor. Como se costuma dizer, o amor é uma condição universal, e
isso, para muita gente não existe. Porque não existe? Porque o amor universal é
um conceito cristão, e o Deus cristão, que ama o mundo inteiro, para a
mentalidade contemporânea, simplesmente é impossível.
Contudo, se Deus criou
o homem, e o homem é um projeto falido, Deus criou um projeto falido? Um
questionamento apelativo. O amor é impossível, tanto para teístas, quando para
céticos, cada um ao seu modo. Um, pela ausência de Deus, outro, por causa dele.
A confiança que se tem na autonomia confere em mim uma desconfiança, da mesma
forma como muitos céticos desconfiam da religião e da crença em Deus. Não, não
acredito que o homem pode tudo, de alguma maneira ele sempre se sentirá fraco e
impotente, apelando para a religião ou se negando a ela. Negar isso é viver
numa mentira! Claro, religiões também conferem suas mentiras, e podem usá-las
para explorar e corromper qualquer um. A conclusão é simples: não se pode
afirmar que a vida sem religião e alguma fé é melhor que uma vida onde esses
elementos estão presentes delas. Não se pode comparar essas realidades como
qualitativas. Por outro lado, o abuso de poder, o autoritarismo próprio das
instituições, religiosas ou não, não naturalmente passíveis de contestação. Com
Deus ou sem ele.
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