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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Epifania


Estou morrendo. 

Epifanias como essa não acontecem todos os dias. A minha, vergonhosamente aconteceu enquanto completamente bêbado, junto a palavras desconexas e choro compulsivo, berrava à todos os pedestres na rua:

“Eu vou morrer!”, “Eu vou morrer!”

Ninguém se atrevia a chegar perto. Temiam que eu fosse violento e perigoso. Alguns riam sem parar e debochavam entre si da cena ridícula que eu fazia. 

Estou morrendo, e isto significa que até aqui, no auge dos meus vinte anos, tenho passado a juventude distraído à jogar meu tempo fora. Isso é assustador, pois afinal, talvez, não haverá mais volta. Não há como recuperar esse tempo, e isso é fato. 

Morrer é inevitável, e toda vez que me imagino num caixão, apodrecendo e sendo devorado por milhões de vermes, me estremece até a alma. Se de fato há alguma. Estou morrendo. Estou gastando tempo. É impossível não deixar de gastar esse tempo. Como saber gastá-lo? É preciso portanto, saber controlar o tempo que se gasta. Não se trata, porém, de um simulado desejo religioso pela eternidade. Não desejo o céu ou o inferno, mas apenas este velho, feio e decadente mundo que vivo. 

Tenho uma estúpida, ou brilhante (dependendo do ponto de vista) idéia de montar uma rotina. Até o final da vida. Não adianta. Não tenho disciplina pra isso. Não me dou bem com relógios e calendários. 

Cheguei aos noventa anos!

Abro os olhos. Dois anjos me encaram. Não sei dizer para onde me levam. No caminho, discutem entre si o que farão da minha alma. Um deles, ironicamente e com um sorriso no rosto perguntou:

- Como é a sensação de morrer?

- Sinceramente não sei. Não estava mais lá quando aconteceu.

Um comentário:

Ana disse...

Seu texto é ótimo, achei o desenvolvimento muito interessante, porém com um final súbito...o que vc acha?