Devaneios literários de um teólogo sobre o ritmo das Metrópoles; seu mundo e sua gente. E é claro, sobre eternidade...

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sábado, 10 de dezembro de 2011
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
Quem é Você?
- Quem é você? Pergunta
o rapaz à linda mulher que acabou de conhecer na balada.
- Eu? Eu sou a morte.
Os dois sorriem juntos
e se beijam. Pouco tempo depois estão na cama. Transam e em algumas horas ele
está morto.
- Quem é você? Pergunta
o viciado ao traficante que lhe oferece mais uma dose do seu vício.
- Eu? Eu sou a morte.
Alguns minutos, depois
de espasmos violentos no chão, seu coração pára e ele também está morto.
- Quem é você? Pergunta
o moribundo, que com os olhos em lágrimas, vê passar diante dos olhos todos os seus pecados, presente a chegada do seu fim
eminente. Ao seu lado, um desconhecido com quem resolve compartilhar seus
últimos desejos, e confessar-lhe seus maiores segredos.
- Eu? Eu sou a morte.
- Prazer. Eu sou Jesus.
O desconhecido responde. O doente sorri.
Mas a morte, depois daqueles
dias, demorou a aparecer novamente.
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
Nova Reforma Protestante?
... e não
vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa
mente, para que proveis qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Romanos 12:2
Romanos 12:2
Ecclesia reformata, semper
reformata.
O
crescimento numérico de igrejas, ministros e fiéis nos alegram muito mais do
que a luta de homens de boa índole (alguns nem mesmo cristãos) contra as
injustiças sociais. Nos tornamos muito mais evangélicos e cada vez menos
protestantes. Por outro lado, em ocasiões como o dia da reforma , é abundante
os textos que evidenciam essa decadência. O problema consiste em saber como
tornar possível uma nova reforma, pois a velha já ficou presa no passado, quando
é evidente para todos nós essa necessidade. Uma reforma que conteste a
exploração econômica da fé, que priorize os mais necessitados e nos ensine de
maneira concreta a amar mais. Dogmatizamos o legado de Lutero e ao invés de
continuarmos sua obra, que antes de ser dele, é do Espírito Santo,
transformamos essa obra numa data festiva quando efetivamente hoje, há muito
pouco para se comemorar. Regredimos. Me
entristece saber que o protestantismo histórico se tornou, ao longo dos
séculos, mais um movimento conformista e conservador. E não é por acaso que historicamente
a reforma e o Haloween compartilham a mesma data. O que presencio hoje é uma
cena de horror.
Sola
fides, Sola Scriptura, Sola gratia, Solus Christs, Soli Deo glória.
Aos
que estão em Cristo.
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
O Grande Prêmio
Sonhei
uma noite dessas.
Uma
festa num grande teatro. As mulheres, com longos vestidos de gala e jóias nos
pescoços e mãos, competiam entre si sobre quem possuía o penteado mais bizarro
para a ocasião. Os homens, de smoking e pronunciadas barrigas, entupidos de
cigarros nos bolsos, competiam de outro modo. Estavam ali por conta da
literatura.
Sobe
ao palco o mestre de cerimônias, que anuncia o prêmio:
-
Caríssimas senhoras e senhores, esta é uma noite muito especial. Que ficará
para sempre...
Força
um pouco os olhos para conseguir enxergar a continuação do pequeno discurso. E
continua:
-
Que ficará para sempre na história da cultura do nosso país. Inicio agora, a entrega do prêmio “Os Piores
Literatos de 2011”.
Mais
tarde se esclareceu que ele estava bêbado.
Na
categoria ficção ganhou um escritor que a muito tempo havia falecido e
praticamente ninguém sabia. O laureado de não-ficção fora desclassificado por
ausência. O prêmio na categoria poesia ficou com um poeta que há alguns anos
havia abandonado o ofício para fazer funk, pois o lucro era maior. Por fim, na
categoria “Autores que Ninguém Lê”, surgiu como laureado o meu nome. Fui à
frente emocionado, percebendo nitidamente na platéia o cochichar dos
convidados:
-
Quem é esse cara?
Ninguém
me conhecia.
É.
Talvez não tenha sido só um sonho. Será um presságio?
Estação Jugular, de Alan Pitz
E
se você subisse num ônibus, e soubesse, durante a viagem, que está indo para a
eternidade? Instantaneamente, sua viagem, de trivial e banal, se tornaria, ela
mesma, a mais importante da sua vida, por ser justamente a última. Sua visão
não seria mais a mesma. Como definir cores e sons de lugares desconhecidos para
a maior parte da humanidade (pelo menos, viva)? Parábolas que beiram ao
absurdo. É o que propõe Alan Pitz em seu livro “Estação Jugular” lançado este
ano pela editora multifoco.
Franz,
tentando fugir do sol, embarca numa viajem que o leva para o seu destino e
origem. O seu ponto final. É evidente no texto elementos narrativos que me cabem
comparar apenas a nomes como John Bunyan (autor de “O Peregrino”) e Frans Kafla
(autor de “O Processo”), pela temática utilizada e a ênfase alegórica presente
no livro. Alan consegue explorar esses elementos de uma forma nova,
contextualizada e elegante.
A
vida é uma viagem, e a morte também. Todos nós nascemos como peregrinos, como
pródigos, regressamos à casa de onde partimos. Para alguns, essa viagem pode
ser muito longa, e para outros, curta demais, entretanto, ela não deixa de ser
uma aventura fascinante, onde descobrimos onde a estrada está nos levando e que
o caminho que estamos indo é apenas um espelho de quem somos. É só olhar para
os próprios pés.
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
A Vida é uma Causa Perdida?
Chega a hora em que até
mesmo o mais fervoroso defensor da ortodoxia cristã secretamente se pergunta em
seu coração: “Deus realmente existe?”. Duvidar faz bem. Nossos maiores teólogos
possuem biografias marcadas por muitas dúvidas atormentadoras. A dúvida
alimentou o legado de cada um deles, e tenho a absoluta certeza que mesmo no
leito de morte, deixaram esse mundo com outras tantas interrogações que jamais
saberemos. Por outro lado, as respostas que possuíam, mesmo que provisórias,
eram fruto dessas interrogações. Sendo assim, teologia nem sempre precisa ser
encarada com algo ruim.
Deus existe? Foi o
mundo projetado por uma inteligência superior? Ao nos fazer essa pergunta a
vida parece ser cada vez mais absurda e contraditória. Entretanto, se há algo
que mereça ser levado a sério nessa questão consiste em saber se Deus é ou não
um produto cultural, originário de povos nômades e seminômades do deserto, como
também, o real motivo para se cultuar esse Deus. Tudo o mais é secundário e até
mesmo desnecessário discutir, tendo em vista o fato de que por via de regra,
religiões são, seguramente, um produto cultural.
Há bons ateus, que
apenas estão sendo honestos consigo mesmos ao afirmarem não possuírem fé
alguma. Entretanto, alguns deles, como muitos cristãos fundamentalistas,
costumam ler a bíblia como lêem os jornais: literalmente, como se a bíblia
fosse um livro de história, quando se trata de uma interpretação teológica (de
intervenção divina) sobre a história. Ateus dessa espécie são apenas o ranço
social gerado entre a crise de uma hermenêutica (ortodoxa - literal) e o
nascimento de outra (liberal- metafórica). Ateus e cristãos dessa espécie lêem
a bíblia a partir da cultura em que estão situados, o que constitui uma
agressão ao texto. É preciso ler o texto a partir do meio cultural que o gerou,
sem essa perspectiva, Deus não pode se inserir em nossa cultura, pois sempre
será visto como um monstro intolerante que terá adoradores da mesma espécie.
Se há alguma diferença
entre Deus e religião (rito, liturgia, e etc), é que esta última é plenamente
compreendida como um produto cultural, e por isso transitório, enquanto que a
primeira corre o risco de não o ser completamente.
É preciso se
compreender porque se busca esse Deus. Talvez, a iniciativa mais honesta para
essa busca seja uma certeza e consolo para a insegurança da morte. Podemos
definir a vida como boa ou ruim se a comprarmos com a vida de outras pessoas,
todavia, se nossa referência se torna a própria morte, nossa forma de avaliar
se torna diferente. A vida se torna um valor fundamental. Pobres querem viver
tanto quanto ricos, mesmo que continuem pobres.
É a vida uma causa
perdida? Como costuma indagar aos seus convidados Antônio Abujamra em seu
programa “Provocações”. Se for, tudo é uma causa perdida, inclusive o humor, a
ironia, a crítica a que muitos bons ateus se propõe a realizar não apenas
contra os abusos das instituições religiosas, como das próprias injustiças
sociais. Se a vida é uma causa perdida apenas nos resta a apatia. É nesse
sentido que acredito que a fé em Deus (ou sua descrença) pode ser algo útil para
ateus e cristãos, pois se torna um instrumento de ânimo contra um vida que
parece perdida.
domingo, 23 de outubro de 2011
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