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domingo, 6 de janeiro de 2013

Ecce Homo



Passado algum tempo, Deus pôs Abraão à prova, dizendo-lhe: "Abraão! " Ele respondeu: "Eis-me aqui".

Então disse Deus: "Tome seu filho, seu único filho, Isaque, a quem você ama, e vá para a região de Moriá. Sacrifique-o ali como holocausto num dos montes que lhe indicarei". 
Gênesis 22:1-2


Diferente dos gregos, Abraão não é um filósofo. Não aprendeu lógica ou retórica. Diferente dos homens do nosso tempo, ele não é um homem de ciência. Não estudou física, matemática e não teve qualquer noção de biologia ou química. Longe do passado, cujo domínio era exercido pela filosofia, o pensamento sistemático, bem planejado e ordenado, assim como também, longe do futuro, cujo domínio exercido pelas ciências e seu método rigoroso de reprodução em laboratório das leis da natureza, Abraão consiste num tipo de homem singular: sem passado ou futuro, o presente é o seu tempo. O presente é o tempo que não o situa em tempo algum. Ele está na eternidade, e é pela eternidade que ele será engrandecido. Kierkegaard se propõe a dissertar sobre quem Abraão é, está tão longe do discurso filosófico e do método científico, que para uma e outra, no mínimo ele seria objeto de riso, a não ser por um fato: ele leva o seu único filho ao monte Moriah para sacrificá-lo ao seu Deus. Nesse momento, seja entre filósofos e cientistas, ou até mesmo, entre os bondosos pais de família que amam seus filhos e desejam a eles o melhor que o mundo os pode conceder, Abraão não pode ser visto com bons olhos: trata-se de um homem sem coração que prevê no futuro possíveis rivalidades ou que no mínimo enlouqueceu. E disso se trata todo a drama de sua história. A história de um homem que guarda um segredo e cujo ato não pode justificar, e que será engrandecido como pai de uma nação, para sempre, depois desse ato, pois afinal, ele não sabia que tudo não passava de uma prova. Imagine o impacto que seria, a ousadia de alguém que arriscaria viver como ele?!

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