-
Não há grandes escritores no Brasil. Afirmou o crítico literário da Albânia.
-
Não há grandes críticos literários na Albânia. Pensei durante a palestra.
Me
contive, e comentei com o palestrante:
-
Realmente, particularmente não conheço nenhum grande escritor brasileiro, pelo
menos, vivo. Não ultrapassam um metro e setenta de altura.
Toda
a platéia sorriu.
-
Há bons escritores albaneses? Pensei novamente.
Terminada
a palestra, provocado por palavras tão ásperas do grande crítico literário albanês,
estava decidido que seria escritor, dos maiores. Mas como? Sem dinheiro ou
fama, sem reconhecimento acadêmico ou qualquer amigo do meio, sem um único
livro publicado. Sem mesmo uma boa idéia para um livro.
Escrevi
algumas crônicas. As enviei para amigos. Nenhuma resposta. Julguei tratar-se de
crônicas ruins. Reescrevi essas crônicas. As enviei novamente. E novamente,
silêncio absoluto. Criei um blog, que recebia visitas ocasionais, esporádicas,
acidentais. Divulguei mini-cursos e palestras: ninguém se mostrou interessado
nelas.
Comecei
a mentir sobre mim mesmo: divulguei palestras e cursos que nunca ministrei no
Brasil e no exterior. Forjei fotos e inventei entrevistas fictícias à órgãos fictícios
de imprensa independente do interior e de países desconhecidos como Nauru e
Grenada. Em minha imaginação megalomaníaca visitei países como Estados Unidos,
França, Alemanha e Espanha.
Inesperadamente,
recebo um convite real, para uma palestra numa universidade paulista. Congelei
de medo. Aceitei o convite. Durante vinte minutos falei sobre “Escritores
pós-modernistas no século XII”. Fui aplaudido de pé. Terminada a palestra,
pausa para fotos, almoço com editores e uma visita aos pontos turísticos da
cidade. Fui convidado para escrever um livro e prefaciar outros dois. Bons
cachês. Boas amizades.
Reconheço. Eu sou uma fraude. Desisti de escrever.
Reconheço. Eu sou uma fraude. Desisti de escrever.
Um comentário:
boa história.
Postar um comentário